Havia chegado a época dos balões. Por todo o céu da pequena Nilópolis e para além dela balões decorados escondiam as estrelas. Perigosos e lindos.
Aquele espetáculo fascinava não somente as crianças mas também os adultos e de fato era lindo de se ver. Os perigos como sempre estavam nos incêndios, que ao pousar os balões poderiam causar, caindo tanto sobre a vegateção seca ou sob telhados de casas com a madeira a muito apodrecida. Por esse motivo via-se uma caravana de pessoas correndo de um lado para o outro atrás dos milhares de balões em uma tentativa de impedir que caíssem sobre casas ou que se queimassem ao atingir o chão.
Todo o tipo de gente subia e descia o morro correndo com os rostos virados para cima e muitos quintais eram invadidos na tentativa de pagar o balão antes que se incendiasse, mas sempre próximos as suas residências. No entanto havia um grupo de adolecentes que se intitulavam "Os ousados" e esses sempre iam para mais longe, chegando até mesmo a invadir quintais de desconhecidos. Diversas foram as vezes que avisos haviam lhes sido dado sob ir para longe da vista dos vizinhos, mas é claro que eles não dariam ouvidos, afinal eram jovens e incosequêntes, com o sangue fervendo em suas veias sedentos por aventuras e seus troféus alados.
Certo dia avistaram um balão de tamanho surreal todo na cor vermelha, o que fazia a chama em seu interior parecer algo com vida, convidativo; hipnotizante. O grupo era de cinco garotos com idades entre dez e treze anos; evlá foram eles, com os rostos para o alto e pés ligeiros atrás do balão "coração voador". Algumas topadas pelo caminho renderam-lhes unhas rachadas e dedos ensanguentados, alguns tornozelos torcidos que mais tarde seriam enfaixados e cobertos por uma camada de pomada anestesiante. Mas nada disso, absolutamente nada, foi capaz de parar aqueles rapazes.
Os gritos ecoavam e a baderna pelas ruas cercadas de mato chamava a atenção de quem estava por perto ou ao redor de grandes fogueiras à contar hitórias assombrosas para quem tivesse a coragem de ouvir. Agumas repreendas aqui e ali, mas não era o suficiente para que os parassem. A lua cheia estava linda, em seu ponto mais alto no céu da noite, se mostrando amarela e brilhante como os olhos de um gato na escuridão, ou talvez, os olhos de uma bruxa velha.
Correram e correram e correram, incansáveis, sem ao menos se darem conta de para onde estavam indo. O balão parecia que nunca iria perder altitude e cair, sempre indo mais depressa sendo levado por um vento que não existia, pois a noite era abafada e seca. Subiram uma colina e desceram a face oposta que dava início a um grande morro, aos tropeços e gargalhadas de excitação; finalmente o infeliz estava caindo.
O rapaz mais novo, um pestinha de dez anos com grandes orelhas de abano e cabelos crespos cor de folha seca, foi o primeiro a parar e alertar os demais. Por um relance rápido seus olhos se desgrudaram do balão muitos metros acima e se fixaram na enorme jaqueira junto ao muro pintado de branco. Aquele não era um bom sinal, aquela arvore significava que estavam as portas do cemitério de Olinda, e Olinda era longe pra caralho de casa. Era de fato um cemitério conhecido por todos, isso porque era o único de acesso mais fácil, mas também era cenário de histórias terríveis e por esse motivo era evitado pelas pessoas caso não tivesse ninguém para ser enterrado ali.
Todo o grupo parou de súbito, alarmados, com os olhos quase saltando para fora de seus rostos. Os galhos retorcidos da enorme jaqueira pareciam corpos contorcidos e marrados uns aos outros, era quase possível os ouvir gritar por socorro.
- Deveríamos ir emboa - o mais jovem cogitou - Este lugar é amaldiçoado.
Todos os olhos se voltaram para o céu e lá estava ele, o balão vermelho, caindo lentamente para dentro do cemitério e, pelo o que podiam deduzir, iria pousar bem em cima do primeiro cruzeiro. Um arrepio em comum percorreu as costas de cada um dos rapazes. Não havia saliva em suas bocas, as pernas de alguns estavam trêmulas, mas o balão era tão bonito visto à distância que mal podiam esperar para tê-lo em mãos e poder soltá-lo novamente.
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Os contos da meia-noite
TerrorOs contos da meia-noite narra de maneira singela acontecimentos baseados em fatos reais ocorridos na região e família do autor. Mergulhe em pequenos contos de terror e tente não se assombrar a partir de hoje. **** CO...