Capítulo I

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Apreciem um pequeno conto

Vou falar um pouco sobre mim... Bem, acho que muito, na verdade. Cresci na capital do Espírito Santo, mas nasci no interior, na pequena cidade de Aracruz. Logo que nasci, nos mudamos, pois meu pai, Joaquim José Stones, foi transferido para a sede da empresa onde trabalhou até seus 53 anos, hoje aposentado. Minha mãe, costureira, Dona Helena Stones... Bem, ela odeia ser chamada assim. Mas, para vocês, o que é ódio?

Fui criado em um lar totalmente normal - pois família perfeita não existe -, amado pela minha mãe, amado por meu pai. Era filho único até que completei meus 4 anos, quando, no meu aniversário, que não ligava e nem ligo, meu presente foi a notícia de que eu teria uma irmãzinha. Éramos uma família humilde, então, ganhava presente somente no natal.

Era para eu ficar feliz?! Não sei... Não sei ao certo, porque eu consigo ver felicidades, mas não sei senti-la, assim com o amor, se que é que ele existe.

Você pode me achar um psicopata, sociopata e até frio, já me disseram isso várias vezes, me colocando em conjuntos de nomes, mas uma coisa é certa: por ter crescido em uma família de princípios, até religiosos eu diria, consigo controlar esse meu gênio. Se é que isso é considerado uma personalidade, pois dizem que sou doente.

Eu não me considero uma má pessoa, e o que me ajudou a me tornar este homem que sou hoje, apesar de às vezes ter sido difícil, foi o carinho e opressão quando fazia coisas erradas.

Quando a minha irmã Celina Stones nasceu, me isolei. Eu simplesmente via ela deitada no berço e não sentia nada. Ela parecia sorrir para mim, mas isso não alegrou meu coração. Acho que com o tempo meus pais perceberam e, por conta disso, me levaram ao médico e me classificaram como autista no primeiro instante. Porém, logo notaram não se tratar de autismo, pois eu não ligava para organização - e cá pra nós... Para quê? Além do mais, autistas têm mais sentimentos do que eu poderia ter.

E com o tempo, ao entrar na escola, fazia questão de não ter amigos. Certa vez, eu quis matar o cachorrinho do vizinho. Segurei muito para não realizar isso, pois o pobre animal não tinha culpa de nada. Mas aquele infeliz, sim, era capaz. Se eu tenho capacidade de amar, por enquanto, ou melhor, até hoje não descobri.

PSICOPATOLOGIA diz-se de um indivíduo de personalidade psicopatológica e de comportamento anti social, ao qual falta senso de responsabilidade moral ou consciência.

Sociopata é uma palavra usada para descrever uma pessoa que sofre de sociopatia, um transtorno de personalidade que provoca um comportamento impulsivo, hostil e anti social, e é caracterizada por um egocentrismo exacerbado, que leva a uma desconsideração em relação aos sentimentos e direitos das outras pessoas.

Um sociopata não tem apego aos valores morais e é capaz de simular sentimentos para conseguir manipular os outros. Além disso, a sua incapacidade de controlar as suas emoções negativas torna muito difícil estabelecer um relacionamento estável, então, creio eu que também não sou isso.

Vocês devem estar se perguntando: Então por que falar de mim? Bem, logo vocês vão entender.

Digamos que eu trabalho com espionagem. E se você acha ou acredita que sou um assassino de aluguel, errou feio.

Quando comecei a trabalhar com isso? Bem, não sei ao certo. E também não sei como eles me conheceram e me encontraram. Suponho que tenha sido pelos feitos "heróicos!"

Certo dia estava fazendo uma caminhada, tranquilo, quando vi uma mulher ser assaltada, com um homem a ameaçando de canivete, dá para acreditar?!

"Passa a bolsa, madame!", ameaçou, apontando o canivete na cara dela."

Eu cheguei tão rápido que puxei o canivete entre os dedos e joguei o homem na parede ao lado com meus ombros, peguei o canivete e virei a ponta para ele, acertando entre os seus dedos. Ele me olhou, arregalando os olhos. Sorri, não porque estava feliz, mas porque as pessoas tinham manias disso, então, achei prático.

"Cai fora!", disse a ele, puxando o canivete da parede, raspando entre seus dedos do meio. Ele saiu correndo.

"O-obrigada", disse a mulher, meio amedrontada, catando a bolsa do chão.

"Não me agradeça! Não fiz por você, fiz para mostrar para o imbecil que ele não era bom."

Saí de lá, voltando a colocar a carapuça na cabeça, sem olhar a reação da mulher.

Também pode ter sido pelo ocorrido no mercado. Não gosto de lugares públicos, e tão pouco de restaurantes ou comidas fast food, que nos envenenam. Tinha que comer, então me restava o mercado.

Estava eu escolhendo umas alfaces quando chegaram dois homens armados. Um foi em direção ao caixa, o outro, apontou a arma nas minhas costas.

Merda! Eu não estava com paciência!

"Isso é um assal..." Mal o deixei terminar a frase e girei meu corpo, pegando na mão que segurava a arma, segurando-a e colocando meu dedo no gatilho junto ao dedo dele, mirando a arma na cabeça do comparsa que estava no caixa. O outro braço, puxei para trás, o deixando imobilizado.

"Larga a arma ou atiro", esbravejei. O bandidinho de merda deixou a arma cair, se virando para mim. O homem no caixa abaixou os braços, respirando aliviado.

Dei uma cotovelada nos rins do rapaz à minha frente, e ele caiu, com dor. O outro, acertei com o cabo da arma, o que o fez cair desmaiado.

Peguei minha alface e joguei vinte reais no balcão do caixa.

"Fica com o troco!"

Então, não sei como ou em que momento me viram ou ficaram sabendo notícias minhas, mas eles, os merdas, me pegaram desprevenidos.

Dois homens desceram de um carro, e logo eu estava com um saco de papel na cabeça. Dá para acreditar?! Isso me faz rir.

Me jogaram dentro do carro.

E logo estava eu, em uma sala que mais parecia uma sala de mafiosos italianos, me olhando enquanto me colocavam sentado em uma cadeira de ferro. Ridículos!

Todos me olhavam indignados e surpresos, pois não me viram ter medo, ansiedade, nervosismo ou qualquer coisa do tipo. Eu os olhava curioso... Cauteloso. Haviam uns cinco em pé, e um sentado à mesa, que parecia ser o chefe, pois os outros pareciam aguardar um comando.

"Tenho uma oferta para te fazer", disse o homem que estava sentado.

"Não, obrigado! Prefiro o dinheiro que o governo me dá por pensarem que sou doente." Me levantei, pois os animais nem se quer me amarraram.

Um tentou vir para cima de mim, onde lhe dei um soco no rosto, outro atrás, onde joguei com a perna a cadeira que sentava, o acertando. Me abaixei para desviar de um soco e lhe soquei o estômago. O que estava do lado, dei uma rasteira, girando o corpo em noventa graus. As aulas de defesa que aprendi quando adolescente me saíram muito bem, mas o que me fazia forte não era sentir medo.

Assim que os cinco capangas estavam no chão, me virei de costas para o chefão e comecei a sair.

"Espera, a proposta é boa." Me virei para ele, que acenava para os homens se afastarem.

"Não me interessa, não quero ser um guardazinho de algum político de merda."

"Não se trata de segurança", disse ele, firme.

"E muito menos assassino de aluguel", adiantei-me, voltando a andar alguns passos.

"Somos uma organização secreta. Fazemos a segurança da população, não trabalhamos para o governo ou máfia ou traficantes, na verdade, ajudamos a prendê-los."

Me virei para ele, indecidível.

"O mundo precisa de pessoas como você", continuou ele.

"Como eu?!" Não consegui segurar a gargalhada. "Você não me conhece, não me importo com ninguém."

"Por isso mesmo você é o melhor para a função", afirmou. O encarei nos olhos.

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