𝑂 𝑛𝑜𝑠𝑠𝑜 𝑐𝑎𝑜𝑠

Capítulo um

Malia

  Já estava ofegante pela falta de ar, mais alguns minutos nessa sala cheia e eu explodiria, mas não é como se eu fosse importante o suficiente para que reparasem, ou para que alguma de minhas amigas resolvesse parar de falar do garoto da vez para tentar me acalmar.
  Quando o sinal para saída terminou de tocar, eu já passava a porta á caminho do banheiro. Assim que me aproximei do banheiro feminino vi que estava lotado, nesse instante me viro pensando que cairia ali mesmo.
  Nesse momento reparei no banheiro masculino ao lado, parecia vazio. Não me dei tempo para pensar, quando entrei rapidamente no banheiro, já fui seguindo para a cabine mais próxima e caindo ao pé do vaso sanitário, sem me dar conta do menino que estava parado a beira de uma das pias.
   Comecei a chorar desesperadamente, e soquei com tudo o vaso, acho que machuquei a minha mão, mas não é certeza, minha visão está totalmente embaçada, sei que tem muito barulho em volta, porém não consigo identifica-lo, meus sentidos estão muito confusos para diferenciar qualquer dor além da que arde em meu peito.
           E é assim toda vez.
                             Crise após crise.

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Nick
  
  Vou do espanto de ter uma garota entrando no banheiro masculino, para o total desespero de ver ela caindo ao lado do vaso em segundos, acho que está tendo um ataque de pânico. Ela imediatamente me lembra das do meu pai.
  Me obrigo a sair do transe que havia entrado para ir até seu lado. Ela nem sequer nota a minha presença. Sua mão está sangrando, deve ter se cortado quando socou o vaso segundos antes.
  Quando vejo que está prestes a fazer isso novamente me jogo ao seu lado, ajoelhando. Agarro seu braço, a impedindo de se machucar ainda mais. Ela nem sequer me olha em meio ao seu desespero.
   -- Ei, tem que se acalmar-- Viro seu rosto a fazendo olhar nos meus olhos --Tente controlar a respiração, focar na minha pode ajudar.
   Continuo segurando em sua mão, esperando que fale alga coisa, ou que se acalme, mas alguma parte minha sabe que não vai. Que tamanho desespero não vai passar assim.
    Até que ela fala. E tem a voz mais linda e triste que eu já ouvi, e eu a sinto. Realmente sinto.
    --Não... Não con... consigo-- Acho que nunca vi alguém tão triste. Ou talvez tenha visto. Uma vez --Só... não, não dá-- ela mal consegue falar em meio a falta de ar.
   E nesse momento só consigo pensar em uma coisa, e realmente espero que dê certi, se não minha fé na literatura acaba aqui.
   Com toda a coragem que não tenho, a puxo mais para perto. E realmente espero que isso funcione, porque não suporto nem mais um segundo do seu desespero.
    Sei que só a estou beijando para a acalmar, mas no instante em que nossos lábios se encostam, eu a entendo; a entendo, e sei que com toda certeza. O nosso caos interno combina.
    Na mesma velocidade em que nos aproximamos, nos afastamos; sua respiração já parece mais tranquila e ela mais calma, mesmo que seu rosto mantenha uma expressão de confusão.
    O transe em que entramos durante o beijo não parece ter acabado, então aproveito e a observo. E ela é linda, sem ser perfeita de mais. Tem cabelos ruivos que passam um pouco da altura dos seios, olhos castanhos claros que estão brilhando graças às lágrimas e algumas sardas clarinhas pelos rosto. Seus lábios estão bem avermelhados. Provavelmente por conta do beijo.
                     Linda de um jeito real.
  
     Novamente sou tirado de meu transe por sua voz, dessa vez mais confusa que triste
     --O que... Como?-- faz uma pausa me olhando nos olhos-- como fez isso?
     --Prender a respiração-- falo sem desviar seu olhar-- eu li uma vez que prender a respiração para crises de pânico. E quando eu te beijei você... você prendeu a respiração.
    Falo tudo quase como um sussurro, e ficamos ali nos olhando por mais um tempo, até ela desviar o olhar. E percebo que é melhor eu sair daqui antes que faça algo que não deva.
     --Eu... eu tenho que ir.
    Falo e saio dali. Me arrependendo de deixá-la sozinha no instante em que passo pela porta.
    E ali percebo que sequer sei seu nome. E que nem a conheço. Então porque sinto como se fossemos um só?