Capítulo 1

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Um bar de vampiros comandado por lobisomens não soava como uma boa ideia para muita gente, no entanto, para nós, era natural. Um lobo vestido de homem limpava o balcão de madeira naquele fim de tarde, antes que abríssemos as portas para os clientes. Davi Sorrentino Bertoni era dezesseis anos mais velho do que eu e tornou-se meu irmão meses antes do meu nascimento. Foi transformado contra sua vontade durante um plano de dominação de um vampiro megalomaníaco que se auto intitulava Rei e resgatado por meus pais.

Afinal, sangue nos unia. Éramos uma grande família que podia ser rastreada pela linhagem dos momentos atuais até a Roma antiga. Ao contrário do que Hollywood levava a população a acreditar, não precisávamos de lua cheia para nos transformar — apesar de ficarmos mais fortes com ela — e a mordida de um lobo não seria suficiente para criar um novo integrante para a alcatéia. Havia um pré-requisito: ser descendente da geração inicial de lobisomens, extintos por causa de um problema genético muitos séculos antes de Cristo.

Com o passar dos milênios, pessoas do mundo todo eram compatíveis. Cerca de um por cento da população. Considerando que eles fizeram parte da fundação de Roma e o mundo se globalizou, em algumas esquinas podia haver um descendente italiano com o gene certo. Era possível reconhecê-los pelo delicioso aroma emitido por seu sangue. Apesar de tentador, precisávamos resistir.

Os vampiros podiam se alimentar dos humanos sem muitas consequências, mas a mordida de um lobo tinha um potencial devastador. Transformava, se tivesse o DNA certo ou podia matar, dependendo da extensão do dano. Por isso, a nossa caça se restringia aos animais ou sangue fornecido por vampiros, mas nunca humanos.

Este era o motivo também para eu querer entrar para a equipe do Reich. Humanos descendentes de italianos não eram os únicos com um aroma que nos dava água na boca. Vampiros também podiam nos levar a um frenesi e, ter a liberdade de perseguir os que saíam da linha, sem quebrar o tratado de paz com a outra raça de sobrenaturais, era algo que almejava há décadas.

— Você já sabia? — Comecei a ajeitar as cadeiras, tirando-as de cima das mesas.

Davi parou o que estava fazendo e jogou o pano por cima do ombro. Ele levantou uma sobrancelha e passou a mão por seus cabelos negros, evidenciando os músculos de seus braços. Parte do nosso poder se refletia no corpo, passar pela adolescência com sangue de lobo correndo nas veias teve as suas vantagens. Nos tornou naturalmente altos e definidos, mesmo que não precisasse passar horas na academia.

— Do plano de aproveitar a viagem dos nossos pais para a gente sair em uma missão? — Serviu duas doses de tequila vermelha batizada e me passou uma. — Ouvi uma conversa do vô sem querer.

Petrus Bertoni era o braço direito de Heinz, o vampiro chefe do Reich. Ele veio da Itália para o Brasil em busca do filho, um mestiço metade humano e metade vampiro que entrou em um navio durante uma noite fatídica. Séculos se passaram antes do esperado reencontro e não foram abraços e lágrimas no começo.

Luca, o meu pai, não era mais o mesmo, se transformou no alfa da nossa alcateia sendo, assim como eu, um híbrido entre lobo e vampiro. Sendo que na nossa linhagem, o lobo se sobressaía. Exceto por noites de lua nova, em que o lado lobisomem se silenciava. Nestas noites, mamãe e Davi se tornavam indefesos quase como humanos.

Desde que a família foi reunida, antes de eu nascer, vovô se dividia entre o nosso bar e o clube Reich, que ficava em Monte Carlo, uma cidade próxima. Como lobos, era um percurso rápido de algumas horas, de carro seria um dia inteiro de viagem.

— Não pensou em me contar?

— Fui embora antes que eles percebessem a minha presença. Quando a gente parte?

(AMOSTRA) Valknut - o legado do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora