— Vai sair daí ainda hoje? — Davi bateu na porta. — Esse barulho de água escorrendo a noite toda tá me dando vontade de ir ao banheiro.
— Vá mijar na puta que pariu! Da próxima vez, eu fico bebendo e você se joga no rio!
Agarrei outra barra de sabão e voltei a esfregar meus braços. O odor do Tietê não saía de mim, estava sutil, mas ainda se encontrava ali. Havia bebido uma garrafa inteira de sangue do nosso suprimento para tirar o gosto ruim da boca e considerei seriamente arrancar a minha pele para começar de novo.
Meu irmão gargalhou da minha revolta. Me transformar também não havia resolvido, não éramos como cobras, que trocavam de pele. A nossa era remodelada, mas continuava sendo a mesma constituição. Minha mãe costumava dizer que era o mesmo de vestir uma camisa dupla face.
Homem e lobo eram dois lados de uma mesma moeda.
Ouvi a porta da frente batendo, Davi devia ter saído para comer fora ao invés de preparar algo na cozinha. Menos de uma hora depois, retornou com uma oferta de paz.
— Trouxe perfume francês.
Não usávamos nada disso por causa do olfato sensível. Preferíamos o cheiro natural de cada um, que tinha a nossa própria fragrância. Relutante, aceitei o presente. Davi estava certo, era melhor do que ter o odor da poluição impregnado em mim.
— Minha nossa, você está vermelho! Quando disse que queria arrancar a sua pele, não achei que estava sendo literal. Vista-se, trouxe sanduíche de mortadela do mercado municipal.
Jogou uma camisa em mim assim que abri a porta com a cintura envolta em uma toalha. Em questão de segundos, eu me curei diante dos nossos olhos. Com a comida em mãos, o sanduíche enorme parecia ter sido feito mesmo para a fome de um lobisomem, espalhamos o material que tínhamos em cima da mesa. Mapas e reportagens, Davi fez careta pelo aroma forte do perfume, mas não disse nada.
— Sabemos que ele estava carregando dois corpos — relatei, anotando no caderno. — Izzy estava certa, não é humano. O que sabemos sobre as vítimas?
— Idades entre vinte e vinte e cinco anos, loiras de pele clara e porte atlético, mas sem serem muito fortes ou magras demais, bonitas com narizes delicados e olhos azuis. Fora as características físicas, não havia nada em comum. Garçonete, modelo, fisioterapeuta, estudante e secretária. Ouvi um grupo de amigos comentando o caso em um restaurante. O amigo de um conhecido de uma delas disse que tinha ficado com a segunda vítima uma semana antes da morte.
Batuquei os dedos enquanto mastigava uma mordida generosa.
— Ele sai durante a noite, escolhe uma mulher que se encaixe no padrão e a segue para sequestrar depois, quando ninguém estiver olhando. Por que mudou o padrão e pegou duas?
— Talvez não tenha mudado, não sabemos se ele fez isso nos outros.
Davi deu de ombros.
Não fazia sentido algum. O que aconteceu com a outra? Como não ficou rastro algum? Ninguém desaparecia do nada.
— Vamos investigar mais a fundo, talvez ainda haja alguma pista.
Dois meses se passaram desde o primeiro assassinato, dificilmente restaria algo para ser analisado. Combinamos de Davi tentar a sorte na delegacia, Izzy havia passado o contato de um policial que poderia facilitar para nós, caso tivesse acesso aos arquivos do caso. Ela colaborava com eles desde a época em que era uma dhampir.
Eu iria para os pontos onde acharam os corpos, já que meu olfato era o melhor. Primeiro, no entanto, passaria em uma floricultura, queria descobrir qual flor era o perfume que senti. Não havia ninguém no fundo do rio e nenhum outro corpo foi encontrado. A garota poderia ainda estar viva. Talvez fosse algum ritual de preparação e ela se tornasse a próxima vítima.
VOCÊ ESTÁ LENDO
(AMOSTRA) Valknut - o legado do alfa
FantasyMatteo Sorrentino Bertoni parece o típico homem com vinte e poucos anos, bonito, inteligente e atlético. Aparências, no entanto, podem enganar. Ele não é um homem, tampouco é jovem. Matteo é de uma espécie única, uma sedutora mistura entre lobo e va...