Capítulo 2

32 1 0
                                    

Meus pés doíam, minha cabeça latejava e eu estava triste e depressiva de novo já que a irritação causada pela fome tinha passado. Estávamos no carro a caminho da casa de Raphael e eu só queria deitar a cabeça em um travesseiro e chorar até esquecer minha situação.

Estacionamos em frente a um prédio ridiculamente alto e eu franzi o cenho, pois pensava que ele morava em uma casa, não em um apartamento. Louis, o motorista, abriu minha porta e me ajudou a descer do carro com toda aquela saia estúpida. Raphael falou algo para ele, que se despediu, e nós nos dirigimos para a portaria.

Entramos no elevador em um completo silêncio que permaneceu enquanto ele abria a única porta do último andar e revelava uma cobertura gigante com uma escada no lado esquerdo da grande sala. Eu entrei ainda mais receosa e me sentindo deslocada.

-  Amanhã, quando você estiver descansada, posso pedir para Anna fazer um tour com você pelo apartamento - ele disse e eu apenas assenti - Seu quarto fica no segundo andar, vamos! - se dirigiu para a escada e eu o segui.

Chegamos ao segundo andar que revelava um hall e dois corredores. Raphael foi em direção ao esquerdo e abriu a terceira porta à direita, revelando um quarto que me fez prender a respiração.

Havia caixas espalhadas pelo chão com minhas coisas, mas eu podia notar a semelhança com meu quarto da minha casa: as paredes no tom de azul das pedras das jóias que eu usava, o lençol da cama verde água parecido com o que minha mãe adorava, as mesas de cabeceira em madeira escura, uma mesa de trabalho com vários equipamentos novos para meus desenhos e uma janela grande com uma vista linda de Annecy.

-  Espero que você tenha gostado - encarei Raphael com questionamento - Eu pedi para meus funcionários decorarem o mais próximo possível com seu quarto antigo para você se sentir mais confortável aqui - explicou e tentei ocultar minha surpresa.

-  Nunca vou me sentir confortável aqui - eu disse com frieza fazendo seu leve sorriso murchar.

-  Tudo bem, entendo - ele parecia triste e eu me senti mal pela grosseria - Anna estará aqui amanhã e vai levar você para conhecer o restante dos cômodos.

-  Essa Anna sabe? - eu precisava saber para quem eu não precisava fingir.

-  Sabe. Todos os funcionários que trabalharam diretamente aqui sabem. Não precisa fingir para Anna, nem para Louis, mas para qualquer outra pessoa você prec...

-  Eu sei o que tenho que fazer - o cortei - Eu li cada maldita linha daquele contrato - eu disse pausadamente, não sei se ele podia sentir o ódio na minha voz, mas esperava que sim.

-  Ok, se precisar de alguma coisa o meu quarto é aqui ao lado, na segunda porta à direita no corredor - sua calmaria me irritava.

-  Boa noite - ele entendeu o recado e saiu do quarto, mas quando eu tranquei a porta com a chave pude ouvi-lo sussurrar um pesaroso "Boa noite, Alexia".

Finalmente sozinha depois daquele dia horrível, eu tirei as joias e o véu, colocando-os na mesa de cabeceira, vasculhei as caixas com as minhas coisas e encontrei um pijama, abri mais algumas caixas e encontrei o quadro com o retrato de minha mãe sorridente ao lado de meu pai no dia de seu casamento.

Aquilo foi o gatilho que fez explodir toda a dor que eu sentia.

Deixei o quadro em cima da cama enquanto tirava o vestido com raiva, as lágrimas caindo incessantemente, peguei aquele monte de tecido e atirei em um canto do quarto com toda a força que eu tinha, vesti o pijama de algodão com estampa de prédios e me joguei na cama agarrada à foto de meus pais.

Me encolhi em uma bola e chorei, chorei e chorei, tentei abafar os gritos e soluços com o edredom e chorei até meus olhos ficarem inchados, meu rosto ensopado, minha garganta dolorida e meu peito mais leve.

UM ACASO DO DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora