Capítulo 8

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Raphael Thomas

Era feriado na cidade e eu estava de folga.

A empresa geralmente não fechava para feriados da cidade, mas Alexia devia estar de folga e eu queria passar mais tempo com ela, então usei dos meus poderes de presidente e fechei a empresa toda.

Desci as escadas depois de tomar um banho, esperando vê-la sentada na ilha da cozinha, comendo alguns pães e croissants, mas minha esperança derreteu assim que passei pela porta e dei de cara com Anna colocando água na chaleira.

-  Eu deveria me sentir ofendida pela sua cara de decepção, Raphael! - ela falou com uma expressão de chateação falsa.

-  Não foi por ver você, Anna, você sabe! - me aproximei dela e deixei um beijo em sua bochecha - Bom dia!

-  Bom dia! - ela sorriu e eu abri a boca para perguntar onde Alexia estava - Ela passou aqui, pegou um chá e subiu de novo - fechei a boca.

-  Ainda não sei como você consegue adivinhar o que eu ia perguntar.

-  Te conheço desde que você usava fraldas, Raph! - sorri pra ela.

-  Ela foi para o quarto dela? - ela balançou a cabeça.

-  A coitadinha parecia muito chateada, mais do que de costume - franzi o cenho - Ela disse que não estava se sentindo muito bem e ia subir até o telhado para apreciar a vista e tomar ar fresco.

-  Será que a culpa é minha de novo? - franzi ainda mais a testa, chateado.

-  Pelo que você me disse, vocês tinham progredido um pouco ontem, então acho que ela não ficaria daquele jeito do nada por sua causa, mas você pode ir ver como ela está e perguntar - incentivou sorrindo largamente.

-  Vou levar o café da manhã para ela - assenti e separei uma bandeja, ajudando Anna a colocar todas as coisas de café da manhã que Alexia gostava e duas xícaras de café para o caso de ela querer minha companhia.

Subi as escadas até o terraço e assim que cheguei na metade pude escutar os versos de uma melodia suave tocando. Continuei subindo e quando cheguei ao final, vi Alexia sentada em uma das cadeiras, perto do jardim, com o cabelo bagunçado e um lençol nos ombros, balançando suavemente ao som de "Yelllow" do Coldplay que saía dos alto falantes de seu celular apoiado na mesa de centro. Ela estava de olhos fechados, virada para a beirada do prédio, cantando quase inaudivelmente e sorrindo de vez em quando, mas algo em sua postura me mostrou que não eram sorrisos de felicidade.

Sentei no fim da escada e observei seus lábios soletrando lentamente os versos da canção com um sorriso no rosto, mas uma tristeza imensa emanando de seus ombros.

"Your skin, oh yeah, your skin and bones

Turn into something beautiful"

Fiquei ali, observando-a e sentindo meu coração doer por ela. Ela estava triste e isso me partiu o coração. Por fim, quando a música estava quase no fim, ela abriu os olhos e deixou escapar as lágrimas que estava prendendo. Então, respirou fundo e enxugou o rosto, desligou a música no celular e olhou ao redor. Seus olhos se arregalaram quando pousaram em mim e eu não consegui desviar daquele imenso oceano tempestuoso em suas írises. Ficamos nos encarando por algum tempo sem dizer nada até que ela desviou o olhar, respirou fundo novamente e falou.

-  Há quanto tempo você está aí? - sua voz não parecia furiosa, mas eu me levantei lentamente antes de responder.

-  Cheguei faz pouco tempo, não quis invadir sua privacidade, só não queria atrapalhar o momento - ela enxugou os olhos de novo e se virou para mim - Está tudo bem? 

-  Tá tudo bem! - sorriu, mas não chegou aos olhos - Você precisa de alguma coisa?

-  Eu trouxe seu café da manhã - estendi a bandeja e me aproximei aos poucos - Anna disse que você estava aqui e que não tinha tomado café, então resolvi trazer pra você - coloquei a bandeja em cima da mesinha de centro e me sentei na cadeira ao lado da sua.

-  Obrigada! - ela olhou as duas xícaras e me encarou com questionamento.

-  Eu também não tomei café ainda, então pensei em te fazer companhia, mas acho melhor eu ir, você deve querer privacida... - eu estava me levantando para ir embora quando ela me interrompeu.

-  Não quero ficar sozinha - seus olhos tristes encontraram os meus - Fique, por favor! - me sentei de volta.

-  Tudo bem - sussurrei pois seu pedido me desnorteou um pouco.

Ficamos em silêncio comendo e eu queria saber o que tinha acontecido, o porquê de ela estar tão triste e se eu poderia fazer algo para ajudá-la, mas tive medo de me intrometer demais e afastá-la. Queria que ela se sentisse confortável para falar o que quer que a estivesse chateando, sem que se sentisse pressionada.

-  Sonhei com minha mãe - ela soltou quando toda a comida tinha acabado, me surpreendendo.

-  O quê? - ela me encarou.

-  O motivo de eu estar com essa expressão sombria é esse - ela me lançou um sorriso triste - Eu sonhei com ela e acordei com saudades - seus olhos se encheram de lágrimas e eu quis abraçá-la.

-  Me conte mais sobre ela - incentivei e ela me olhou surpresa antes de começar a falar.

-  Ela era brilhante - sorri - Era tão feliz e radiante que contagiava todo mundo ao redor dela. Ela chegava em um lugar e todo mundo olhava pra ela, ria com ela, queria estar perto dela, porque ela era uma estrela na Terra - sua voz embargou e ela respirou fundo - Uma vez eu caí feio, ralei o joelho e fiquei chorando um monte, aí ela veio com aquela voz doce e começou a me contar uma história de princesas aventureiras que se ralavam o tempo todo, mas que sempre se levantaram e seguiram em frente e eu esqueci a dor do machucado e quis ser igual a elas - as lágrimas caiam livremente agora.

-  Ela gostava dessa música? - eu queria que ela continuasse falando e me mostrasse mais um pouco sobre ela.

-  Acho que ela nem conhecia, mas toda vez que ouço "Yellow" me lembro dela porque era sua cor preferida - sorri de novo e ela me acompanhou - Ironicamente, ela era tão brilhante naturalmente que sua cor favorita era amarelo - rimos.

-  Você sente muito a falta dela, né?! - ela assentiu.

-  Normalmente não dói tanto, meio que estou acostumada com a ausência dela, como se eu estivesse anestesiada mas às vezes, como hoje, acordo sentindo muito a falta dela e tenho que chorar um pouco e ouvir essa música.

-  Entendo - sorri triste.

Ela me olhou com o cenho franzido e senti que ela ia tocar no assunto dos meus pais, então voltei ao assunto de antes, querendo que ela esquecesse o meu luto e me contasse sobre o seu. Além disso, queria que ela continuasse falando. Queria ouvir sua voz, me contando mais sobre ela e queria conhecê-la melhor.

-  Me conte mais sobre sua mãe.

Ficamos conversando pelo que pareceram horas e eu fiquei encantado por Louise Bonnet. Ela não só era incrível, mas tinha colocado no mundo e criado a mulher mais espetacular e extraordinária em que eu já tinha colocado meus olhos. 

 6/6/24

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 6/6/24

Mais um cap extra que foi adicionado, espero que gostem!!!

Conheçam um pouco da mãe da Alexia e se apaixonem por Louise Bonnet!! 

Boa quinta, até a próximaa!! 

UM ACASO DO DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora