000. 𝘸𝘩𝘰 𝘪𝘴 𝘮𝘺 𝘧𝘢𝘵𝘩𝘦𝘳?!

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GEMIDOS. GEMIDOS ERAM A ÚNICA FORMA DE MELODIA que adentravam os tímpanos de Florence Vanderbilt naquela tarde. Sussurros sórdidos e nojentos, palavreados indecentes que saiam de forma hábil dos lábios de sua mãe, Leila, que se agarrava a um cara, na sala de estar.

Flora fez uma careta, rolando na cama e cobrindo-se completamente com o cobertor, na falha tentativa de abafar o som que a causava náuseas. Entretanto, apenas sentiu o fervor subir por entre seu corpo, de raiva.— pela sua mãe inconsequente que transava com um completo desconhecido no sofá em que às vezes ela ficava.— e de calor. — graças á infernal cidade em que morava, Austin, no fim no mundo.

A menina estava aos prantos, não aguentava mais viver daquela maneira. Todos os dias, a mais velha levava um homem para sua residência, sem importar-se com a presença de sua filha. E a cada dia, a situação a consumia. Aquilo estava passando dos limites e poderia ser perigoso, levando ao fato de que Florence e Leila viviam sozinhas.

Por isso, há alguns meses, Flora havia descoberto a existência de seu pai. — fato que, sua mãe sempre tentou manter as esquivas.— E, desde então, pediu a ajuda de uma detetive para encontrar seu genitor. Ela sabia que era loucura, e que talvez ele nem soubesse de sua existência, mas ela tinha que tentar. Tentar por ela, pela sua mãe e pela vida que ela merecia ter.

Foi quando o toque de seu celular ressoou pelo ambiente, chamando sua atenção. Ela alongou-se para pega-lo na escrivaninha e assim que seus olhos, até então desinteressados, pairaram sob o nome escrito na tela, arregalaram-se imediatamente.

— Puta merda.— Soprou, sentando-se no colchão.— Tudo bem Flora, agora você vai atender, e agir como se não estivesse com esperanças.— Disse para si mesma inspirando fundo em seguida, tomando coragem para clicar no botão verde.

Você consegue, pensou.

— Olá.— Falou, forçando desinteresse em seu tom de voz.— Olá? Que porra é essa?— Comentou baixo, afastando o celular de seu rosto.

— Tem alguém ai?— A mulher do outro lado da linha começou.

Após pigarrear, Flora continuou:

— Ah, oi! Tem sim, sou eu, Flora.

— Eu sei que é você Florence.— Riu.— Amara pediu para eu te ligar, ela quer que venha até aqui.

O coração da Vanderbilt disparou, podendo ser ouvido á quilômetros de distância.

— Ela... — Sua voz falhou, então ela respirou fundo.— Ela o encontrou?

— Apenas venha até aqui, minha chefe dirá a você.— Fora a última coisa que a mulher de pele escura lhe disse, antes de desligar a chamada.

A loura pulou da cama, dando passos largos até o guarda-roupa, onde pegou a primeira roupa que viu pela frente. Vestindo-a rapidamente, caminhou em direção a porta, abrindo-a com o maior dos cuidados.

Ela rangeu ao deslocar-se pelo assoalho, fazendo com que a moçoila aperta-se seus olhos cristalinos fortemente, murmurando um xingamento. Alongou o pescoço até a passagem da sala, onde pôde ver Leila na cena mais grotesca que já vira em toda sua existência.

Contorceu-se, fazendo uma careta. Torcendo para que isso acabasse de uma vez por todas.

Caminhou silenciosamente até o outro lado do curto
corredor. Mordiscando a pele de seu lábio inferior,
receosa caso sua mãe sentisse sua falta nesse meio
tempo.— o que seria algo raro, mas nunca se sabe. Afastou as mangas de sua blusa até os
cotovelos, e tocou a maçaneta do hall de entrada, virando-a com delicadeza.

Suspirou assim que pôs seus pés para fora de casa. Viajando seus olhos para o céu nublado, contatou que teria de ir logo, pois á qualquer momento poderia cair um enorme temporal, e ela com certeza não queria ficar encharcada, muito menos adquirir um resfriado.

𝐏𝐑𝐈𝐌𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑𝐄 | 𝙘𝙤𝙗𝙧𝙖 𝙠𝙖𝙞 Onde histórias criam vida. Descubra agora