Vernon confronta seus demônios do passado.

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AVISO: Esse capítulo pode conter gatilhos.

“Podia, mas não fiz. Fiz uma escolha e me arrependo dela até hoje. Os ossos se consolidam. O arrependimento fica com a gente para sempre.“

[...]

Do lado de fora daquele adorável jardim de infância, as criancinhas estavam gritando e correndo de um lado para o outro no parquinho, rindo à toa. Castelinhos de areia, escorregas, primeiros beijos e flores cheirosas para todo lado, a felicidade escoando pelos poros em forma de suor daquelas criaturas infantes. 

Do lado de dentro daquele inferno em forma de instituição, uma única criança estava sentada em uma das cadeiras da sala de aula escura e vazia. Seus gizes de cera estavam espalhado em cima da mesa, todos esperando sua chance de compor a linda paisagem que o garotinho estava desenhando.

Três pessoas estavam nessa paisagem. Uma delas era pequena e as duas grandes eram um casal, o que implicava que o desenho era da família daquele garotinho. Os traços eram mais suaves na mãe, enquanto o pai era mais disforme, com cores mais escuras. O garotinho se desenhou em vermelho e preto. 

A porta se abriu e por ela passou uma outra criança. Ela segurava sua lancheira na mão e parecia cautelosa, chegando perto da mesa onde o outro estava como um gato espreitando uma possível ameaça.

— Oi.

Nenhuma reação do garoto. A criança então se sentou do outro lado da mesa e se debruçou sobre ela, espiando o que o garoto desenhava na folha. Isso pareceu incomodá-lo, pois ele puxou um pouco mais o papel para si.

— Que desenho bonito. Eu gosto de desenhar, minha cor favorita é branco! — Desatou a falar, mesmo sem resposta. — Por que tá sozinho aqui?

Novamente, sem resposta. Mesmo assim, a outra criança não desistiu, mexendo na lancheira que segurava em seu colo. Pegou seu sanduíche e o partiu em dois, tendo o cuidado de colocar metade em um guardanapo e deixá-lo no alcance do garoto, que encarou a comida em silêncio.

— Me chamo Minghao. — A criança se apresentou, dando um sorriso e mostrando suas janelinhas. — E você pode comer comigo se você quiser!

Naquele dia, Minghao conseguiu arrancar uma palavra daquele garoto.

“Vernon!”

[...]

Espuma branca escorrendo pelo canto da boca, manchando o sofá e a blusa. Frascos e mais frascos de remédios vazios espalhados pelo piso, assim como guimbas de cigarro e cacos de vidro. Gritaria ao fundo, calmaria na mente.

“Você não ama o nosso filho, nunca amou!”

“Esse garoto me sufoca, sufoca a nós dois, Melody, e você sabe disso!”

“O que mais podemos fazer senão dar apoio ao nosso filho e criá-lo?!”

“Eu não tenho dinheiro e nem tempo pra cuidar de uma criança… assim!”

“O que está insinuando, Simon?!”

“Que esse garoto é doente!”

“Você é uma pessoa horrível!”

Não conseguia entender o que estavam dizendo, mas sabia que seus pais estavam discutindo muito feio. Ainda durante suas convulsões, conseguiu girar seus olhos na direção da cozinha, vendo sua mãe desesperada ao telefone enquanto seu pai ajeitava as malas antes de passar pela porta e ir embora.

NO DISCRETION || VERHAO.Onde histórias criam vida. Descubra agora