Enquanto o Sol se Põe

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 Ficamos acordados até depois da meia noite.

Entre revelar as fotos que ainda estavam em seus rolos, folhear os álbuns e fazer uma seleção, gastamos tempo demais relembrando o momento de cada flash e então debatendo qual merecia ir para a parede e a razão. Malfoy tinha uma razão bem firme de que as da minha corte e principalmente com ele deveriam ser a maior parte, fazendo bico e bufando quando eu insistia que buscava um equilíbrio. Acabei achando um meio termo que nem busquei, quando ele percebeu que eu havia separado uma rara foto de apenas nos dois, tirada em seu aniversário, cortesia de Sue Hopkins, para colocar em uma moldura própria ao lado de minha cama. Isso rendeu um sorriso tão largo e tão bonito e tão odioso em seu rosto perfeito que quase me arrependi, mas ao menos agora ele estava em paz.

Com isso e mais algumas fotos tiradas na hora, me fazendo ter que anotar "comprar mais recipientes" na minha lista mental, na minha próxima ida ao Beco.

Conversamos muito, Draco e eu. Nada do que deveríamos, mas sim todo o resto. Em dado momento da noite, em meio a petiscos e doces extraviados da cozinha por Hoops, percebi o quanto aquilo era único. O simples fato de estar presenciando o garoto em seu estado mais puro e relaxado. Os relances que consegui capturar em Hogwarts não eram nada em comparação com agora, em seu ambiente de conforto. O cabelo desarrumado, a postura curvada e imperfeita em cima das fotos, os olhos brilhantes e um sorriso torcido no canto dos lábios que prometiam as crueldades mais deliciosas ao soltar pequenos golpes aqui e ali, nunca deixando de cutucar uma briga que não tinha mais força ou sentido e era apenas esportiva.

Fizemos um bom trabalho no mural da parede, assuntos suaves como a música que começou a tocar do toca-discos que Malfoy pediu que trouxessem de seu quarto. Composições que dançavam com nossos nervos e que tudo que eu pude fazer, após terminarmos o trabalho e Draco se inclinar e me oferecer a mão, foi aceitar. Giramos e rimos pelo quarto, as tentativas de meu namorado me ensinar alguma coisa de dança. Não era por ser difícil que progredíamos com lentidão e sim por algo dentro de mim não conseguir fechar a boca em provocações quando ele estava tão perto de mim. Ele insistiu, porém, e era mesmo um excelente dançarino – não que fosse surpreendente, levando em conta que era o mínimo que sua natureza exigia.

Caímos em minha cama em algum momento e não saímos de lá. As palavras passaram a diminuir de tom, o volume do toca-discos a diminuir, as velas do quarto foram se apagando como se Palais soubesse que estávamos quase dormindo, ou não podia esperar para isso acontecer. Enfiados debaixo das cobertas e com a janela aberta para a brisa refrescante da primavera, eu podia sentir o calor de Draco perto de mim, mas nunca perto demais. A confiança de que ele estava lá, apenas o suficiente para eu o alcançar se precisasse foi o que era preciso para terminar de me embalar no sono. Acordei apenas muitas horas depois, com o quarto iluminado pelo sol e pisquei grogue várias e várias vezes para tentar me reestabelecer no mundo. Estava claro demais para ser início da manhã e estava quente demais para o calor vir apenas das cobertas. Quente e macio demais.

Apesar de ter pegado no sono um bom braço de distância de mim, Malfoy havia feito seu caminho durante a noite. Sentia seus braços frouxos ao redor da minha cintura, suas pernas enroladas nas minhas e sua respiração perto do meu rosto. Ainda estava dormindo. E ficava ainda mais bonito assim, o bastardo. Eu estava de frente para ele, meus próprios braços largados e encolhidos no pequeno espaço que criaram no meio de nós, como se ainda tentassem salvar o mínimo de distância para que meus fantasmas não me tirassem o sono. Funcionou e tudo que eu tinha tempo de mim naquela manhã de 12 de junho era um corpo descansado e uma mente curiosa.

Não era a primeira vez que via seu rosto relaxado ao dormir, mas parecia.... diferente. Com cuidado, levei a ponta dos dedos para seu rosto. Toquei, quase com as unhas, nos traços perfeitos ali. As sobrancelhas retas e apenas um pouco mais escuras que seu cabelo, a maçã do rosto, o nariz reto e os lábios desenhados. Bonito. Bonito demais para o próprio bem – tanto meu quanto dele. Como eu poderia recusar algo assim? Como eu poderia dar as costas ao garoto mais belo do mundo me oferecendo... tudo? A suplicia crua que me fez naquele galho de árvore voltava em correntes no meu coração. Draco me daria tudo: cada estrela no céu, sua alma, seu coração. E eu, como poderia recusar tal oferta generosa? Não o faria. Não era forte o bastante. Sequer queria tentar ser.

Corona IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora