Doce final.

358 71 10
                                    

A cidade de Seoul era guiada pelo vento, que vez ou outra atingia as folhas verdes das árvores e derrubava-as no chão, causando divertimento nas crianças risonhas que corriam de um lado para o outro, seguindo em direção ao parquinho mais próximo da região, onde poderiam ser facilmente monitorados por seus pais e responsáveis.

O céu sempre azul claro preenchido por grandes e cheias nuvens brancas amanheceu um pouco mais frio naquele dia, trazendo consigo o ar abafado por causa da mudança de clima e a costumeira chuva de verão, que formava pequenas poças d'água no chão e que molhava às árvores e a grama que tinham em abundância naquela única porção natural do lugar.

A faculdade, esta citada anteriormente, ficou cheia de alunos desde que o primeiro horário foi anunciado pelo sinal do campus. Os corredores do local logo foram tomados por estudantes que cursavam áreas distintas, desde administração à veterinária, e por professores com cadernos, fichários e papéis em mãos, que seguiam em direção às classes que abrigavam quarenta, cinquenta alunos.

Kim Taehyung era um dos universitários que seguia o percurso em meio aquela bagunça logo pelas seis horas da manhã, com o cabelo um pouco bagunçado, um óculos sobre o nariz e o uniforme da faculdade um tanto quanto maltratado. Isto por causa da agitação que foi pegar o ônibus em movimento, já que em um momento ou outro tropeçou no próprio pé e caiu no chão.

O jovem rapaz caminhava com rapidez, com a mochila no ombro e com um único destino em direção à sua sala, onde a primeira aula do dia já estava sendo ministrada há mais de dez minutos. Sendo assim, ele não demorou para virar os pés para a esquerda e bater duas vezes na porta, que indicava a classe A de Letras. Não esperando por uma resposta e entrando no lugar, Taehyung pediu licença e caminhou para a sua mesa na segunda fileira, sentando-se em silêncio e erguendo a cabeça para admirar o professor que já lhe fitava com curiosidade.

— Bom, pessoal, abram o livro na última página que paramos. Hoje eu vou passar algumas coisas no quadro e vou explicar o trabalho que vocês precisarão fazer para mim para a próxima sexta-feira — disse Jung Hoseok, o professor, com a sua doce e sutil voz. O professor virou de costas, pegando o giz e escrevendo algumas coisas na lousa. — Aliás, bom dia a todos.

Taehyung sorriu para o professor.

Ele pensava em como Hoseok podia ser tão gentil.

Em como ele tinha um cheiro tão bom.

E em como ele era tão bonito.

Taehyung não notou, mas enquanto pensava mais e mais em Hoseok, a primeira aula já tinha passado e ele tinha perdido toda a matéria que cairia no teste de semana que vem. O rapaz era apenas um bobo apaixonado, afinal, e por isso agia daquele jeito. E tudo piorou ainda mais quando o jovem alfa viu que o professor estava o olhando outra vez, agora com um pouco de decepção e com o cenho franzido.

— Eu preciso ir ao banheiro — disse o professor. — Eu estarei de volta em cinco minutos.

Suspirando fundo ao ver o ômega sair do pequeno auditório, Taehyung olhou para os lados e coçou com a ponta dos dedos o queixo. Todos os alunos tinham começado a conversar, uns pegando os celulares e outros fazendo algumas atividades do curso ao tempo em que esperavam o professor voltar. NamJoon não tinha ido para a aula naquele dia e não tinha ninguém além dele que o Kim considerava como amigo. Por esse motivo, ele se levantou e saiu da sala com rapidez, não querendo que ninguém notasse que assim tinha feito.

Procurando por Hoseok ao pisar nos corredores outra vez, Taehyung levou a destra ao peito e sentiu o seu coração acelerar ao tomar um susto, visto que quando olhou para o lado, ali estava o professor. Hoseok tinha os olhos arregalados em sua direção, os lábios crispados e a faceta confusa, demonstrando curiosidade e frustração.

Hoseok parecia pequeno quando Taehyung o observou de perto.

O professor trajava um suéter de algodão bege, uma calça social amarronzada e uma sapatilha também marrom. As suas madeixas estavam arrumadas para trás, e o seu rosto tinha pouca maquiagem, com um pingo de blush ali e com um pingo de iluminador ali. Hoseok parecia fofo demais, belo demais e cheiroso demais.

— Taehyung, ei, por favor, fala comigo — Hoseok sussurrou para o outro, aproximando-se dele. — Nós precisamos voltar para sala, não podemos ficar aqui no corredor. Alguém pode nos ver.

— Professor. — Taehyung piscou, acordando de seu desvaneio. — Oi, me desculpe. Como o senhor está?

— Eu que tenho que te perguntar, Tae — o ômega falou. — Você está bem? O que aconteceu? O seu... o seu lábio está sangrando... — Hoseok tocou o ombro do outro, acariciando-o sutilmente. — O que aconteceu? Me diga, o que aconteceu?

— Não é nada, professor. Eu caí sem querer. Você não precisa se preocupar.

— "Caiu"? Você tem certeza? Você parece avoado.

— Eu prometo: eu estou bem.

— C-Certo — tímido, Hoseok respondeu e se afastou. — Eu pensei que você não iria vir hoje.

— Eu sei, me desculpe. Eu me atrasei.

Hoseok concordou.

— Nós precisamos voltar.

Vendo que o professor estava prestes a entrar na sala de aula, Taehyung segurou com delicadeza o seu pulso e o puxou para mais perto, prendendo-o fracamente contra a parede e sorrindo pequeno para ele. Taehyung abraçou Hoseok, circulando os seus braços pelos quadris esguios do homem e colocando as suas narinas contra a glândula de cheiro alheia. Baunilha.

— T-Tae, você não pode fazer isso aqui. Alguém pode ver — Hoseok sussurrou, sentindo os seus pelos se arrepiarem ao ter o nariz do outro contra o seu pescoço. — T-Taehyung... — Suspirou fundo, passando lentamente os braços envolta do pescoço do universitário, ainda um pouco hesitante e receoso.

— Eu queria te ver, passei o fim de semana todo com saudades de você...

Hoseok sentiu as suas bochechas rosarem.

— E-Eu também — respondeu. — E a Minji... a Minji quer te ver de novo. Ela disse que adorou a tigresa rosinha que você conseguiu para ela no circo. Ela quer te dar um presente também.

— É mesmo? — Taehyung se afastou com demora, gostando de poder apreciar o rosto do professor de perto. — Eu quero muito vê-la também. Ela é um amor. Ela é igual a você, professor.

— T-Taehyung... — Envergonhado, Hoseok abriu um sorriso pequeno. As bochechas dele pareceram ficar ainda mais vermelhas, queimando igual ao fogo e doendo como se tivessem machucadas. — Obrigado, Tae. O passeio foi muito bom... eu... a gente precisa ir agora. Nós podemos conversar melhor depois. Pode ser?

— Pode ser, professor. Até daqui a pouco — sussurrou. — Eu entro primeiro.

— T-Tudo bem.

Afastando-se do professor e querendo caminhar em direção ao auditório outra vez, Taehyung ficou surpreso ao ter, agora, o seu pulso segurado. Sentindo brevemente os lábios de Hoseok contra o seu, Taehyung sorriu abertamente e olhou surpreso para o outro, que o fitava da mesma forma: surpreso pelo o que tinha feito.

— Vai, Tae — pediu o professor, empurrando o aluno. — Rapidinho.

Abobalhado, Taehyung se curvou em respeito a Hoseok e deu as costas de uma vez, caminhando com rapidez para a sala, voltando a se sentar em sua cadeira e esperando pela aparição do docente, que surgiu pela porta alguns minutos depois. Continuando a prestar atenção na aula, Taehyung deu um longo e fundo suspiro ao poder ficar ali parado, apreciando o professor enquanto ele ditava a matéria.

Perdendo-se em seus pensamentos, Taehyung fitou Hoseok com atenção. E ficando ali, ele notou uma coisa: Hoseok foi feito para ele, com aquele jeitinho simples e gentil. O jovem alfa sabia que desde o início, desde que sentiu o cheiro doce e sutil de outrem, ele tinha encontrado a sua alma gêmea. Desde o primeiro e especial beijo que tiveram quando foram ao circo.

E com tantas dúvidas e questionamentos, Taehyung esteve certo o tempo todo: Hoseok, o seu professor, era a sua alma gêmea. E nada poderia mudar isso.

Vanilla.Onde histórias criam vida. Descubra agora