CAPÍTULO 02

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Olho ao meu redor com atenção, gosto de analisar cada canto de algo novo para saber se nada pode ser ameaçador. E essa sala é quase fria.

Suponho que ainda não foi decorada e coisas íntimas não foram colocadas aqui. Como um porta-retrato com uma foto feliz. Toda pessoa que tem um escritório tem uma foto da família, ou de casal, ou dos filhos na sua sala.

Meu pai tem uma com todos nós. Meu irmão também e até meu tio delegado. Achei que fosse um clássico.

Mas não aqui. Até tem um porta-retrato na mesa, mas está vazio, apenas uma imagem de árvore, provavelmente já veio nele.

E um quadro colorido ficaria perfeito na parede totalmente branca e vazia.

─ Então...

Paro de xeretar o ambiante com os olhos e encaro o homem na minha frente.

─ Então... ─ repito, sem saber o que se prossegue depois do "então".

─ Você me deve explicação, não?

─ Pelo quê?

─ Eu te peguei falando mal de mim aos funcionários, e até onde parece, eu sou o chefe aqui. Isso te coloca em uma posição bem ruim para o primeiro dia.

─ Bom, tecnicamente eu estava falando do meu novo vizinho, e eu não poderia imaginar que você seria... você.

─ E sobre o chefe ter que chegar antes dos funcionários?

─ Isso é o que acho e é a verdade. Pelo menos no meu ponto de vista.

Ele eleva suavemente o queixo, com ar de arrogância, e eu detesto isso. Não tinha ficado na mesma sala por mais de cinco minutos com o meu vizinho, e agora, olha que coincidência, estou aqui tentando manter o meu trabalho e dependo justamente dele.

Vejo aquele homem pegar uma pasta e ler por alguns segundos.

─ Melina... Eu não me lembro de ter te contratado na minha empresa.

─ Margot me contratou. Sou designer de interiores. Por isso estou aqui.

Ele franze o cenho parecendo confuso, então lê mais uma coisa na pasta, e essa coisa o faz sorrir. Não entendo, mas prefiro fingir que não notei.

─ Vai me demitir por ter me pegado falando de você?

─ Não posso te demitir, ainda. Você passará por testes, aí sim, talvez, eu te contrate.

─ Margot falou que eu já começaria hoje, ela não falou nada sobre testes.

─ Margot é meu braço direito aqui, mas não pode contratar ninguém além daqueles que trabalharão diretamente com ela, como sua secretária.

─ Sou designer, pensei que trabalharia diretamente com ela.

─ Podemos observar que você pensa em muitas coisas erradas.

Arqueio uma sobrancelha e me seguro para não retrucar, porque ah, eu sei fazer isso muito bem. Mas, meu lado racional está me lembrando que esse homem de social é meu chefe aqui, e não o vizinho de regata escutando música alta.

─ Posso dizer que você começou mal, mas terá como mudar isso, é claro. Sou justo com os meus funcionários.

─ Oh, muito justo, posso imaginar.

─ E aqui eu não sou seu novo vizinho que você pode gritar, jogar sacos de lixo e colar papéis estúpidos na porta.

Respiro fundo e sorrio forçadamente.

PEDIDO AO LUAROnde histórias criam vida. Descubra agora