Capítulo 2

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 Park Jimin:

 Ele para do lado de fora do vestiário onde eu estava mais cedo. 

— Tem certeza de que suas roupas estão aí dentro?

 Balanço a cabeça e resmungo uma resposta que não dá para entender.

— Vista-se — ordena ele, com um tom suave.

 Entro no pequeno vestiário. Lá dentro não consigo evitar de olhar para o espelho à frente do qual fiquei em pé aplicando o rímel pouco tempo atrás. Já consigo perceber que a imagem da garota que vejo no espelho já é de alguém diferente. O paletó preto me engole, proclamando que eu pertenço a uma outra pessoa e não mais a mim mesma.

 Tiro o paletó mas antes aprecio a sensação gostosa da lã em meus dedos e o cheiro de perfume levemente impregnado no tecido. Há algo de masculino e evocativo em seu paletó e eu não consigo deixar de pensar no que havia por trás do fato de ele ter colocado o paletó em mim. Como um cachorro marcando o território com seu cheiro.

 Tirando aqueles pensamentos da minha cabeça, dobro o paletó com cuidado e visto minhas roupas, calças jeans e uma camiseta de algodão de manga comprida combinando com minhas sapatilhas. Eu me sinto muito melhor depois de estar usando minhas roupas velhas. Enfio minha sacola de maquiagem na bolsa, coloco a bolsa no ombro e me viro para o espelho. Dou uma última olhada no espelho, preparando-me mentalmente para encará-lo de novo, e me despeço em silêncio da garota em pé à minha frente.

 Paro na porta, com a mão apoiada sobre a maçaneta. É agora ou nunca. Eu posso tanto ir atrás de Bill e implorar para desfazer esse contrato, e arcar com as consequências, ou posso sair dali e aceitar o que eu tenho que fazer. 

 Qualquer que seja a minha escolha, sei que minha vida vai mudar.

 Endireito meu corpo, encho meu pulmão de ar e abro a porta.

 Vejo August no corredor, esperando por mim com uma expressão entediada no rosto.

 Sinto ele passar rapidamente os olhos pelo meu corpo e de repente me sinto mal vestida ao lado deste homem rico e poderoso usando um terno caro e sapatos brilhantes. Ele pega o paletó que está comigo e começa a andar em direção à saída sem dizer uma palavra. É esperado que eu vá atrás dele, e por isso eu vou.

 Ao chegar no estacionamento atrás do prédio olho para alguns poucos carros estacionados ali, tentando memorizar suas placas caso ele se revele um psicopata, pelo menos terei alguma informação para levar para a polícia, já que tenho absoluta certeza de que seu nome verdadeiro não é August. 

 Eu não esperava que ele parasse ao lado de uma moto, e uma onda de medo toma conta de mim. 

 August guarda o paletó em um compartimento embaixo do assento e pega um capacete extra para mim. Seu dedo desmancha a linha de preocupação formada em minha testa.

— Você estará segura — ele diz, e coloca o capacete em minha cabeça. Seu peso em meu crânio é estranho. Esta será a minha primeira vez em uma moto. Parece que vou experimentar muitas coisas pela primeira vez nesta noite. 

 Depois de colocar o seu capacete ele sobe na moto e estica a mão para me ajudar. 

 O calor da palma de sua mão contra a minha me surpreende. Engulo em seco e então passo uma perna sobre o assento e me posiciono atrás dele. O ângulo do assento estreito me faz escorregar para a frente até que meu peito vai de encontro às suas costas. Não tem como não haver um contato próximo entre nós. A intimidade é inquietante.

 Imagino rapidamente se ele fez isso de propósito, veio de moto e não de carro para me mostrar desde o começo que não tenho controle da situação e para que eu me acostume com o contato físico. 

 Porque, com certeza, um homem que gastou um milhão de dólares tem um carro, se não tiver vários.

 Algo em sua natureza silenciosa e séria me diz que tudo o que ele faz é de maneira pensada e minha mente está catalogando todas essas coisas para montar o quebra-cabeça e descobrir quem é o homem a quem eu agora pertenço. 

 Ele liga a moto e meu braço voa para sua cintura. Sinto seu peito tremer e tenho certeza de que ele está rindo da minha reação. 

 Ganhamos velocidade quando ele desce a rampa que dá para a rodovia, e o vento frio da noite batendo em meu rosto refresca o calor que pode ser sentido entre nossos corpos. Fecho os olhos na tentativa de conter a sensação de pânico que surge em meu peito, mas só consigo ficar ainda mais nervosa e por isso abro os olhos de novo. Ele acelera e eu agarro desesperada a sua cintura, apertando meus dedos em sua barriga.

 No exato momento em que estou rezando para que nossa viagem de moto não seja longa, ele começa a desacelerar a moto, levanto a cabeça e vejo que estamos em um pista no meio de um campo escuro. Estou bastante alerta enquanto me pergunto o que estamos fazendo aqui, no meio do nada.

 Nunca imaginei que voaríamos para algum lugar, por isso quando ele para ao lado de um jatinho em uma pista de pouso abandonada, o ácido amargo queima subindo pela minha garganta.

 O pânico toma conta de mim quando penso na ideia de deixar tudo o que eu conheço para trás. Até mesmo meu endereço, que nunca significou muita coisa para mim, de repente parece ser algo que me define, e que está sendo arrancado de mim.

 Sem muito mais do que uma mochila, subo as escadas estreitas atrás dele para entrar no avião. É um jato pequeno com o interior brilhante e sofisticado. Um conjunto de quatro poltronas de couro ladeiam o centro do avião e August se senta em uma perto da janela.

 Sem saber onde sentar, eu me acomodo em uma poltrona na frente dele. O couro é convidativo e macio sob meus dedos e eu relaxo um pouco no banco e olho ao meu redor. A noite caiu rapidamente e está quase totalmente escuro lá fora. O interior do jato é iluminado por pequenas luzes LED instaladas no chão.

 August pega uma garrafa de vidro em uma mesa ali perto, coloca um pouco do líquido âmbar em um copo de cristal, e então toma um longo gole. Ele molha seu lábio inferior e fecha os olhos, descansando a cabeça contra o encosto de couro do banco.

 Não há nenhum aviso do comandante, nenhuma instrução sobre segurança. De repente o motor do jato funciona e estamos correndo pela pista. Eu me atrapalho ao colocar o cinto de segurança, conseguindo fechá-lo apenas no momento em que decolamos. Sinto os olhos de  August  me observando, com curiosidade, mas eu não me atrevo a olhar para ele. 

 Quando finalmente olho para cima, August já me serviu um copo da bebida e está segurando-o em minha direção. 

— Talvez isso a ajude um pouco.

 Eu não sou de beber, principalmente bebida forte, mas sei que ele tem razão. Não faço a menor ideia do que ele planejou para mim, e esta provavelmente será a minha única oportunidade de aliviar a minha dor, já que eu vou perder a minha virgindade mais tarde.

 Ele parece tão calmo e controlado que me faz imaginar o que ele está escondendo por baixo daquele terno comportado e caro.  

 Um arrepio quente passa pelo meu corpo e tomo um longo gole da bebida, que desce queimando pela minha garganta. 



Sweet Lie! (Yoonmin)Onde histórias criam vida. Descubra agora