Mirrorball

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"Silêncio, quando ninguém estiver por perto, meu querido, você vai me encontrar na ponta dos pés, girando em meus saltos mais altos, amor, brilhando apenas para você

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"Silêncio, quando ninguém
estiver por perto, meu querido,
você vai me encontrar na
ponta dos pés, girando em
meus saltos mais altos, amor,
brilhando apenas para você. [...]
Eu ainda estou naquele trapézio,
ainda estou tentando de tudo para
manter você olhando para mim"

Eu odeio otimistas.

A inquietação dos dias, meses e anos passando sempre formigou em minhas veias, a sensação de o globo girar e eu permanecer em minha inércia, caminhando devagar demais, tomou cada um de meus dias até aqui.

Não estou nos meus dias finais, mas também não estou mais na flor da idade. Não há mais um mundo de possibilidades à minha frente, o que me resta é me contentar com a monótona rotina no escritório de contabilidade até o dia de me aposentar, após isso meus dias se resumirão à poltrona, televisão e cerveja quente.

Eu sei, sei que os otimistas de plantão dirão que não devo me contentar com uma vida que não me agrada, que há sempre tempo de mudar, não importa a idade. Acredite, eu realmente queria mandar meu chefe, que possui uma inteligência tão limitada que me torna revoltado sobre como pessoas tão idiotas podem vencer na vida, se foder, acredite, eu quero. Também gostaria de largar tudo e partir para um destino longe de San Francisco, talvez abrir um bar em algum canto do mundo mais quente e sem neblina cobrindo qualquer paisagem a ser vista.

Os odiáveis otimistas, diante da ciência do meu sonho, sorririam com seus sorrisos irritantes e diriam se arrisque, corra atrás desse sonho, acredite em você, vá ser feliz. Essa é a razão de eu odiá-los, otimistas se tornam tão presos em suas bolhas de purpurina que se recusam a enxergar o óbvio: o mundo não é justo, ele é cruel e aniquila todos seus sonhos de juventude. Não importa o quanto se esforce, o quanto se recuse a soltar seus desejos mais profundos, uma hora ou outra, a pressão da corrida e ao mesmo tempo inércia de lutar por um sonho te consumirá, lhe obrigando a seguir o caminho disponível, não aquele que deseja.

Inicialmente, você não perceberá isso. Prometerá a si mesmo que é uma solução temporária, dirá que entrará em contabilidade porque conhecimento nunca é demais, dirá que conciliará isso à preparação de sua faculdade dos sonhos. Depois, quando se ver formado em um curso que não gosta e ainda mais distante de sua profissão dos sonhos, jurará que vai trabalhar na área por tempo o suficiente apenas para juntar dinheiro o bastante para aí sim correr atrás de suas reais ambições.

Anos se passarão e, ainda agarrado ao estigma que deve ser uma pessoa positiva não importa o quão terrível o cenário seja, dirá a si mesmo que ignorar ao fato de não nutrir sentimentos intensos pela pessoa que namora não é nada de mais, procrastinará para terminar o relacionamento porque é mais confortável não se submeter ao agito que um término traz, a promessa se estenderá até você estar casado com ela.

Os anos passarão, mesmo com um casamento infeliz, você ignorará isso em nome do dever de ser grato ao fato de ter alguém no mundo que te ature o suficiente para posar nas fotos de fim de ano ao seu lado e aquecer o outro lado da cama. Assim se estenderá até o dia que esse alguém será corajoso o bastante para admitir o óbvio: o relacionamento é fadado ao fracasso, não há sentimentos, é apenas confortável. Divórcio é a solução. Eu fico com a casa, você com os móveis.

Pluto e Genevieve I l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora