Fora do tempo

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Quando Júlia abriu os olhos, estava sentada em uma poltrona. Olhou para os arredores assustadas, principalmente ao perceber que não estava mais na rua e sim em local quente e aconchegante. Pensou que tivesse desmaiado, e quando percebeu que estava sozinha, encarou o redor mais uma vez procurando pela garota que segurava a mão.

— Ana Clara? – ela se levantou abruptamente. Não estava com sua mochila, nem nada, e sua roupa estava também diferente, mas sua cabeça zumbia um pouco. Não conseguia reconhecer onde estava. O que realmente aconteceu? Respirou fundo e tomou coragem abriu a porta, com uma sala a qual nunca tinha visto. Era uma casa a qual nunca esteve.

— Ana Clara? – perguntou mais uma vez, olhando ao redor. Nenhuma resposta – Ana Clara! – perguntou novamente, de forma mais assertiva e em voz alta, para que quem tivesse ao redor pudesse ouvir.

E um silêncio total quebrado somente pelo zunir dos eletrodomésticos que deveriam ter ali perto.

— Mãe? – ela dizia em um sussurro assustado – Pai?

Sem resposta. Mas ela não chamava pelos pais biológicos, aqueles que ela percorreu caminhos inimagináveis para que eles e tantas outras pessoas sobrevivessem ao seu modo. Era pelo simpático casal de senhores que vivia em um sítio.

E ela definitivamente não estava em um. Não estava em casa, o que a fez ficar ainda mais angustiada. Onde estava então?

Do corredor saiu uma jovem senhora segurando uma grande tigela com massa branca, batendo-a com uma colher de pau quando pousou os olhos distraídos em Júlia.

— O que foi? – ela falava tranquila – Teve um pesadelo?

O coração de Júlia parou, principalmente quando a mulher colocou a tigela na bancada e foi se aproximando dela. Sem pensar, deu três passos para trás.

— Não encosta em mim! – seu tom de voz era assustado, e a mulher a olhou com mais estranheza ainda.

— Filha, você está bem?

Júlia piscou algumas vezes, tentando entender o que realmente tinha ouvido. Tinha sido chamada de filha por aquela mulher? Mas como se ela nem a reconhecia? Se fosse o caso, era a sua mãe de suas turvas lembranças ou era outra pessoa?

— O que aconteceu? – Júlia disse de forma quase inaudível – Cadê a... Ana Clara?

A mulher olhou para ela e riu, dando os ombros.

— Que história é essa? – ela aproximou a mão do braço dela, mas ela recuou mais uma vez – Do que está falando?

Júlia sentiu o ar faltar, e uma onda de ansiedade a atacava lentamente. Sentou-se na cadeira que tinha ali perto, deixando sua suposta mãe realmente assustada.

— Maria Júlia, o que está acontecendo contigo? – ela encostou a mão no rosto dela – Tá gelada, filha.

— Você me chamou de quê?

E então ela cerrou os olhos, confusa.

— Você é minha mãe?

— Ju, minha filha... – ela apoiou as duas mãos em seu rosto – estou ficando preocupada. Me conte o que está sentindo.

Júlia arfava. Ela tinha um segundo nome? Por que não lembrava disso? Ou será que naquele lugar ela tinha outro nome? E Ana Clara? Onde estava?

Ana Clara acordou em uma cama macia. Levantou de supetão, sentindo a adrenalina correr por suas veias.

— Merda, o que... – ela disse em um alto tom, olhando ao redor. Que quarto era aquele? E que cama era essa que ela estava deitada?

Será que tinha funcionado, afinal?

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