6. Sombra e luz

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Mas, como ia manter esse segredo dos demais? Não, com certeza a achariam louca e, se mostrasse aquele aparelho para outras pessoas, talvez criasse problemas para elas

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Mas, como ia manter esse segredo dos demais? Não, com certeza a achariam louca e, se mostrasse aquele aparelho para outras pessoas, talvez criasse problemas para elas. Concluiu que esse fosse o motivo que a faziam estar vagando por aí, e se confiaram em Cora, ela tinha que fazer valer o voto de confiança.

Queria fazer perguntas, mas não sabia como fazê-las. Também queria contar tudo para Laura, mas se ela já tinha desconfiança sobre as visitantes, agora as julgaria ainda mais.

Mas a vida seguia, e enquanto as garotas de longe tentavam se adaptar à nova rotina, Coralina olhava distraída para a matéria dada no quadro, e como era de se esperar, sua amiga logo notou.

— Aconteceu alguma coisa?

Coralina só negou com a cabeça. Estava tão absorta entre o sono da noite não dormida e as linhas de pensamento que se multiplicavam em sua cabeça que sequer prestou atenção no que foi dito.

— Coralina! – ela falou em um tom mais assertivo, mas sem sucesso.

Coralina estava ali, sentada com as mãos apoiadas no queixo, definitivamente em outro lugar. A última vez que a viu assim foi quando a mesma pensava em uma desculpa para dizer a sua mãe que coincidisse para que elas pudessem ir ao cinema na hora do corujão.

Mas ela também tinha seus questionamentos, como por exemplo, o fato de não conseguir tirar aquela garota em específico da cabeça. Vez ou outra vinha um pensamento intrusivo da imagem dela no sofá, olhando para ela e desviando o olhar. Nem quando ela a cumprimentou na frente da casa de Cora.

Era aquela sensação inquieta de querer conversar com aquela garota, porque era de longe a pessoa mais inusitada que já viu, e não sabia dizer se era por conta da sua roupa, o jeito de se portar ou pelo jeito que ela a olhava, escusa, desviando em seguida.

E, afinal, por que pensava naquilo?

Negou com a cabeça consigo e voltou a prestar atenção na professora à sua frente.

Já na casa de sua amiga e confidente Coralina, dona Graça, como era mais comumente chamada, rasgava elogios para Júlia que, antes do almoço, já tinha terminado todo o serviço, enquanto Ana Clara tinha saído para arrumar as compras com o patriarca.

— Obrigada, minha filha – ela dizia profundamente feliz com a ideia de que iria assistir sua novela da tarde sem preocupações – você leva muito jeito pro trabalho pesado.

— É que eu sempre ajudei meus... – ela ponderou ao perceber que, para ela, ainda valia a versão de Ana Clara sobre elas – colegas no trabalho por aí. Pegava serviço bem mais pesado.

Era evidente que enganar a senhora que tão bem a acolhia a incomodava, mas se convencer alguém com a mente supostamente mais aberta já tinha sido uma tarefa árdua, quem dirá uma senhora de vida pacata?

— E seus pais, como lidam com isso de vocês ficarem por aí?

Meus pais biológicos foram mortos e os meus estão perdido em algum lugar longe daqui, pensou Júlia, que pressionou os lábios e colocou uma das caixas no lugar.

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