Capítulo 14

91 10 1
                                    


Enquanto Alicia dormia em sua cama, fico olhando para janela e pensando no dia de hoje, pego minha bolsa que estava em cima da mesa ao me lado e retiro-o folheto que arranquei da parede, lendo-o atentamente dessa vez.

"Garota Perdida: Alicia, desaparecida a mais de uma semana perto do centro do Rio de Janeiro. Oferecemos boa recompensa. Caso tenha a visto ligue para os números a seguir. Ou procure no endereço descrito."

Meu coração aperta, me apeguei tanto a essa menininha nesses poucos dias que me dói pensar em deixa-la.

Pare com isso Dulce , essa menina não é como você, ela tem família, ela tem um pai e uma mãe que devem estar desesperados para encontrá-la.' Além disso não tenho dinheiro o suficiente nem para mim, imagina para uma criança. Já está decidido, assim que acordarmos vou deixa-la em sua casa. Mesmo que isso me doa.

》》》《《《

No outro dia...

-Alicia, levanta que temos que sair. - puxo as cobertas de cima dela e ela solta um gritinho, me fazendo rir.

-Ah não, acabei de dormir, estou exausta. - ela puxa a coberta da minha mão e volta a cobrir a cabeça.

Ela fala como se fosse uma adulta de verdade. Isso a faz ficar mais fofa ainda.

-E você acha que eu não estou? Além disso já teve umas oito horas de sono. Vamos logo preguiçosa.

-Ah tá bom, mas amanhã vou dormir até tarde. Meus poros da beleza não vão brilhar sozinhos. - ela diz imitando a voz da mulher do parque. Nós duas caímos na gargalhada.

-Coitada, seus poros nunca mais vão brilhar- brinco

-Claro que vão, xixi de cachorro é um hidratante natural. – Ela começa a rir, eu não consigo me segurar e me junto a ela.

-Meu Deus, Tem certeza que você só tem 5 anos? – digo quando consigo parar de rir.

-não, eu tenho 5 anos e 11 meses, meu aniversário é daqui um mês- ela diz sorrindo e eu me surpreendo.

- Você se lembrou? – digo e me jogo em cima dela, dando-lhe um abraço apertado. Ela reclama no início, mas depois me retribui.

-Você se lembra de mais alguma coisa? Qualquer coisa? – pergunto e logo percebo que estou a pressionando demais.

-Não, desculpe. - Ela fica triste. Você é uma anta Dulce .

-Está tudo bem, você tem muito tempo. – Eu a consolo e a ajudo a arrumar para sairmos pela ultima vez.

Vinte minutos depois já estamos em um táxi. Tive que pedir um pois não faço a menor ideia de onde fica o endereço descrito. Vai me custar o olho da cara pois é mais longe do que eu pensei

- Chegamos. - o taxista avisa. - Olho para janela e me assusto. Essa é a maior casa que já vi na vida... e oh meu Deus, tem um lago na entrada? Sim tem um enorme lago na frente da casa, essa por sinal é uma maravilha, ela fica muito distante dos portões brancos enormes, mas daqui já dá para ver alguns dos detalhes da imensa construção.

- Sim, se o endereço que tiver me dado estiver certo, é aqui mesmo.

- Então acho que é aqui mesmo. - descemos do carro assim que pago.

Meus olhos ainda estão focados na casa. Será que a família de Alicia é realmente tão rica assim? Eu sabia que pobre ela não era porque quando a encontrei tinha roupas de marcas caras em sua bolsa, mas nuca imaginei que era tanto. Agarro sua mãozinha e caminhamos em direção ao enorme portão.

- Você se lembra desse lugar Ali ?

-Eu... eu não sei ... talvez...- ela parece confusa, seus olhos viajam de um lado a outro da fachada da casa. –onde nós estamos? O que viemos fazer aqui?- ela parece nervosa.

- Alicia vem cá- digo e a pego no meu colo, ela agarra minha cintura com suas perninhas e segura em meu pescoço. –viemos ver a sua família de verdade. Essa é a sua casa.

- Minha casa? - ela arregala os olhinhos castanhos.

- Sim, sua casa, você vai se lembrar rapidinho quando estiver convivendo com sua família. – Alguma coisa entala na minha garganta, é o choro. Não posso chorar na frente dela, se não ela não vai querer ficar

-Não sei se quero ficar aqui.

-Vai ser legal, vem- Digo e caminho em direção ao interfone. Coloco Alicia no chão e aperto o botão. Meio minuto depois alguém atende

- Pois não?

-Ah oi, eu... eu vi seu cartaz na rua... é aqui que estão à procura de Alicia? – estou nervosa, minhas mãos estão tremendo.

-Olha moça, é aqui sim, mas já estamos cansados de trotes de mal gosto, meu patrão já está quase passando mal com tantas falsas esperanças. Então tenho que pedir que se retire.

- Não, senhor não é trote, eu...

- Ah claro, e teríamos que depositar o dinheiro para depois você entregar a menina. Sério, já estamos fartos.

-Não, não quero recompensa, ela está aqui comigo.

- Claro que esta senhorita. Tenha um bom dia. – O interfone desliga e eu estou de boca aberta. Estou entre ficar super irritada ou ficar feliz por passar mais tempo com Alicia.

-Minha família não quis atender?

-Não, minha querida, acho que eles estão meio ocupados agora.

Não poderia voltar para pensão agora, não tem ônibus nem táxi por perto. Além disso não posso continuar com Alicia, ela mora aqui. Minha única opção é esperar que alguém apareça e abra os portões.

– Vem, vamos sentar ali- Vamos até a lateral do imenso portão. Eu me sento primeiro e estico minhas pernas, cruzando meus pés. Alicia vem logo após e senta-se no meu colo e encosta sua cabeça em meu pescoço.

- Eu quero ir embora Dulce, estou cansada.

- Vamos esperar só mais um pouco...

Ela aconchega em meu colo e começa a cantar uma música bem baixinho. Me deixando sonolenta.

Meia Noite e Um - ADAPTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora