02 • sorrir para Ohm Pawat com fome

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Quando acordei era noite.

Tive dificuldade de abrir os olhos, eles estavam pesados como se eu tivesse com o maior sono do mundo, mesmo que me sinta desperto. Apertei os olhos e mantive por alguns segundos até me acostumar com uma claridade invasiva demais. De primeiro impacto, olhei ao redor após ouvir um bipe da máquina ao lado de minha cabeça. Do outro lado haviam monitores, e vários tubos pelo quarto branco. Olhei rápido para meus pés e senti uma pontada na cabeça, grunhi e esperei o latejar passar devagar. Tentei olhar novamente e enxerguei lençóis brancos e minha perna direita imobilizada. Estava com uma dor insuportável ali. Meus braços estavam todos roxos e com acesso venoso que ligava um soro transparente, e na mão direita um amarelado que ia pendurado acima de minha cabeça em argolas de metal. 

Não me lembrei de muito. Minha boca estava seca e implorei para alguém aparecer e me dar um copo d'água. 

No canto da sala, próximo à janela, estava Ohm Pawat. 

Arregalei os olhos ao percebê-lo ali. Eles estava dormindo encolhido em uma cadeira visivelmente desconfortável pelo seu tamanho. Estava apoiado nos braços e as pernas junto ao peito. Isso renderia uma dor nas costas absurda depois. Mas eu só podia estar alucinando. Por quê, raios, Ohm estaria dormindo no meu quarto de hospital? Não quis acordá-lo, então fiquei em silêncio o encarando por tempo demais. Tempo esse interrompido por um médico entrando, sorrindo ao perceber que eu encarava Ohm dormindo pesadamente. 

— Ele ficou aqui o tempo inteiro. – O médico alto disse chegando mais perto com as mãos no bolso do jaleco. Ele tinha canetas penduradas no crachá e um estetoscópio no pescoço. No bordado estava seu nome e especialidade, mas eu estava zonzo demais para enxergar com clareza. — É bom que consiga descansar. 

— O tempo inteiro? O que aconteceu? 

Ele pegou uma prancheta que estava acoplada em minha cama, folheou, e deu um visto. 

— Eu nunca vi um homem chorar tanto. Ele ficou muito apavorado no começo, achei que teria dois pacientes na ala cardíaca – coçou a cabeça, levantou o lençol reparando em minha perna. Pude perceber um enorme curativo. Senti uma pontada de dor e fiz careta. — Você tem um namorado muito especial. 

— O Ohm chorou por mim? Estou muito confuso, e em todos os tópicos possíveis na minha cabeça só existem pontos de interrogação. 

Doutor Jimmy. Era isso que estava escrito no jaleco. Cirurgião Cardiologista. 

— Nanon, você teve um episódio de algo que ainda não sabemos o que aconteceu de fato. Nós realizamos um procedimento chamado angiografia coronária. Mais simplificado, um cateterismo de urgência. 

— Eu me lembro agora. Da sala de cirurgia. 

Ele concordou. 

— Você chegou desmaiado. Seu namorado estava junto e contou um pouco da história. Disse que você queixou uma dor no peito, tremores e falta de ar. Mas tivemos que acordar você para realizar a cirurgia. E deu um pouco de trabalho. – riu ainda vasculhando meu corpo. — Dói aqui? – apertou próximo ao curativo. 

Gemi e disse que sim, ele apenas concordou e disse ser normal. 

— Você quer que eu fale tudo agora ou tem alguém que quer chamar, fora ele? – apontou para Ohm. — Posso esperar que acorde e volto depois para conversarmos sobre seu diagnóstico. 

Podia ser pensamento de doido mas eu iria esperar que Ohm acordasse. Não estava com tudo claro em minha mente, mas sabia que era ele, depois de tudo que possivelmente aconteceu, e Win, que eu teria o porquê compartilhar. Chame do que quiser, mas mesmo ele sendo só o que meu amigo diz – apaixonado –, não neguei nenhuma vez para o médico que ele não era meu namorado. 

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