05 • garoto apaixonado pawat

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O ar é diferente do lado de fora.

Estava gelado pelo horário. O início de uma manhã sorrateiramente curiosa, com coisas que não sei o que virá ainda, mas que posso pensar depois, porque agora eu estou indo embora do hospital com Ohm Pawat me segurando firme na cintura. Muitas emoções aflorando por meu corpo magricela e faminto. Atravessamos a rua e já era longe o suficiente para que eu olhasse para trás e não cogitasse voltar ali tão cedo. Me apoiando no ombro de Ohm cada vez que afirmava a perna da cirurgia no chão, recebendo um aperto mais seguro como resposta, nós chegamos mais próximo dos pontos de ônibus, lojas de conveniência e barracas de rua. Ohm sorriu e me direcionou a uma mesa redonda de dois lugares deixando nossas coisas e me carregando para mais perto do alto balcão que uma senhora estava apoiada esperando. 

 — Ora, vejamos se não é o garoto apaixonado de ontem - sorrindo ela se direcionou a Ohm que riu baixo. - é o seu futuro marido, então?

Sorrindo envergonhado, ele me observou pelo canto de olho, esperando por uma reação vinda de mim sobre a pergunta que eu não sabia a resposta.

 — Senhora, este é Nanon. – Ele me apresentou.— Non, foi aqui que estive ontem quando saí. 

 — Muito prazer — disse cumprimentando formalmente e simpático a mulher empolgada alguns centímetros acima de mim – você é casado e eu não sei disso, Ohm?

— Acredito que estraguei o pedido oficial, querido. Sinto muito. 

Ohm riu negando, ficando corado, e a mulher riu também. Eu, que não estava entendendo muito, continuei esperando mais diálogos dos dois. 

— Vocês vão comer, meninos? Acabei de abrir, podem pedir o que quiserem! 

Eu nunca fiquei tão feliz com uma pergunta dessas.

— Tá com fome, né, carinha? – Ohm perguntou e respondi rapidamente, meu estômago até doeu. — Nós vamos comer, e a senhora pode deixar um pouco a mais para levarmos, também? 

— Vou fazer tudo rapidinho, vocês podem esperar sentadinhos aí. – Observei o quanto ela gosta de usar as palavras no diminutivo. Particularmente achei fofo. Sorri de canto sentindo a covinha do lado esquerdo afundar minha bochecha.

Eu estava grudado a Ohm desde que saímos do hospital. Doutor Jimmy foi muito gentil o tempo todo. Organizou minhas medicações que pegamos lá mesmo, e agora eu tinha muitas restrições com quase tudo, que é até meio bobo, como grandes emoções de um filme, se fosse dramático o suficiente, ou uma enorme produção nova da Marvel, por exemplo, eu poderia ter outro episódio de crise. Mas por trinta dias eu teria que ser praticamente um ser humano sem muitas emoções. Chato.

— Consegue sentar, Non? – Ohm estava me segurando, tentando achar uma posição confortável para que eu pudesse me sentar na banqueta.

Mesas pretas de madeira pesada estavam estacionadas na calçada em frente ao trailer de comida. Não atrapalhava o movimento mas tínhamos muitas pessoas já circulando por ali. Reconheci algumas enfermeiras do plantão noturno e o técnico de radiologia que me contou que no meu raio X do tórax, ele pode ver a silhueta de Ohm no lugar do coração. Outra vez sorri pequeno com a lembrança.

— Só preciso ir devagar – disse e sorri - tá tudo bem. 

Me ajeito delicadamente no banco enquanto Ohm me segura e ajuda deixando minha perna esticada sem ficar no caminho de ninguém. Sentado em minha frente, Pawat estava com o rosto apoiado no queixo, o vento bagunçando seu cabelo, que hoje estava caído. A grande franja cobrindo a testa e um pouco cobrindo seus olhinhos brilhantes que estavam me encarando tanto. Seus fios voavam, os meus também, e numa rajada mais forte de vento, meu cabelo, um pouco maior que de costume, voou para cima, fazendo Ohm rir. 

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⏰ Última atualização: Dec 31, 2023 ⏰

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