Capítulo 3

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Victória

Dizer que essa minha semana foi difícil é um eufemismo, talvez impossível! Existe uma palavra acima de impossível? Nossa, acho que tenho que pesquisar isso!!!

Mal tive tempo de entrar em contato com as galerias que eu queria fazer estágio ou alguma experiência de trabalho, pois a minha mãe ora nenhuma saiu do meu pé, ela tornou a missão da vida dela me transformar em uma dessas gostosas acéfalas que saem nas capas de revista, e nos anúncios e propagandas de cirurgias plásticas.

Um alívio foi por hora ela ter esquecido esse tema, eu não sei o que eu faria se ela levasse mais firmemente essa ideia em minha mente, eu realmente me recuso a acreditar e aceitar que eu mudaria o meu corpo para agradar a qualquer pessoa, acredito que eu não faria isso de forma alguma, cirurgias para mim são em momentos de extrema necessidade, pois se os médicos estudaram e a medicina evoluiu tanto, foi para melhorar a saúde das pessoas e não para fazer concurso de maiores peitos.

Claro que existem casos e casos, e eu já conheci algumas moças que para o bem interior delas, a autoestima e autoaceitação, uma cirurgia plástica reparadora fez milagres, e eu entendo isso de verdade! Eu entendo, mas o que eu não entendo é essa comercialização exacerbada do corpo da mulher.

Realmente me nego a acreditar que algumas mulheres acham que só serão aceitas ou só serão bonitas se elas se parecerem com uma boneca de plástico.

Mas infelizmente a mulher vem ao longo de milênios sendo colocada cada vez mais para baixo, sendo colocada como um subproduto, como objeto, como algo que tem que adornar a casa, a vida, ou a cama dos homens e Infelizmente essa tarefa de tirar esse machismo institucional e essa visão distorcida das mulheres levará também muitos anos.

Eu mesma tenho certeza que muito dos meus medos, e das minhas inseguranças são reflexos dessa sociedade machista opressora em que nós vivemos, tudo bem que os tempos são outros e que a vida é outra. Mas sinceramente ainda podemos ler nos jornais, nas reportagens as mulheres ainda trabalhando o dobro e ganhando três vezes menos, as mulheres trabalham fora, têm uma jornada de trabalho exaustiva e ainda chegam em casa cuidando dos filhos, enquanto os homens ganham duas vezes mais para fazer o mesmo trabalho e chegam em casa e esperam que tudo esteja pronto a espera deles...

Eu não serei hipócrita ao dizer que eu não sou afetada de alguma forma por tudo isso. Claro que sou!!! Pois nesse exato momento estou diante do espelho olhando o meu próprio corpo e pensando em tudo o que minha mãe e o personal trainer fizeram de planos para fazer com que eu tivesse mais bunda, mais coxa, imaginando o quanto odiei o sabor daqueles shakes que ela me arrumou pela manhã.

A minha única preocupação é engordar mais do que eu já estou imensa, eu me olho no espelho e a minha mente me mostra algo que tenho certeza que não é o mesmo que o espelho me mostra, ou que as minhas mãos sentem quando passo as mãos pelas minhas costelas, pelos ossos protuberantes das minhas saboneteiras ou dos meus quadris.

O difícil é mudar a percepção do que o espelho me mostra, e o que a minha mente quer que eu veja!!! Tenho plena consciência do que a minha mente distorcida me mostra é produto no meu adoecimento, tanto da mente quanto do corpo! Mas entre saber algo e realmente conseguir mudar isso, são duas coisas totalmente diferentes...

O bom de tudo isso, é que eu li o componente dos shakes e de certa forma fará bem para minha saúde, eu estava mesmo preocupada porque tive sérios problemas com anemia no ano passado, e já me sentia mal com tudo isso que eu vinha passando nesses últimos tempos, então uma ajudinha extra mesmo que da forma errada será boa... e a máxima agora é, a malas que vêm de trem.... opa é "a males que vem para o bem..."

O Feitiço da Água - Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora