Capítulo 1 ⸺ Concorrência Nova.

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João Santiago só queria que ela parasse de falar

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João Santiago só queria que ela parasse de falar. Odiava ouvir sermões e seus ouvidos estavam doendo, pelo que parecia a diretora Silvana iria continuar por um longo tempo. Ela era a mulher que mais cuidou dele naquele orfanato, era quase uma mãe, mas não gostava quando João a chamava assim. Mesmo que tinha um carinho imenso por ela, ainda não gostava de quando Silvana ficava nervosa. E aquilo tinha sido culpa de Hiago Machado de novo... Maldita hora da madrugada que ele tinha que ter fome! E agora por causa de um roubo de pãezinhos, eles estavam lá na diretoria de novo. Já era a segunda vez na semana.

Da outra vez, a culpa tinha sido de Miguel Lima, sua aparência era assustadora pra quem não o conhecia, principalmente pela falha na sobrancelha. Ele vivia arrumando confusões com os menores do orfanato. João o respeitava e andava junto com ele, pois sabia que se precisasse de um soco amigo, ele teria a seu favor. Era bom tê-lo por perto.

A boca da diretora abria e fechava, enquanto João fingia que o sermão não era pra ele. E não era de qualquer jeito. Se não fosse aquele comilão, eles não estariam lá. Mas, quando um se ferrava, todos iam junto... Afinal, Hiagão convenceu todo mundo a ir junto, pois estava com medo do escuro. Carlos Eduardo, um nanico que raramente usava óculos e falava embolado, disse que era para irem com ele, pois entendia o lado de Hiagão. João não sabia como um garoto tão grande como ele não sabia se defender sozinho de qualquer coisa que estivesse pelos corredores do orfanato. Mas, lembrou da freira Anastacia e isso o convenceu a ir junto.

Agora estava ali, ouvindo o que não deveria. E ainda por cima, tendo que aguentar a freira Maria Alice o olhando de expressão fechada. João se sentia mal quando desobedecia à freira Maria Alice, ela era como uma irmã mais velha pra ele e isso fazia seu coração se apertar um pouco, porém estava acostumado. Maria Alice ficava séria por alguns minutos e depois esquecia totalmente do sermão. Se tivesse realmente anjos reais, Maria Alice era um deles no meio daquele capeteiro, disso João tinha certeza absoluta.

— Isso tudo foi ideia de quem? — perguntou, mais uma vez.

A diretora estava sem paciência e olhava para João sempre que era possível para deixá-lo ainda mais desconfortável, pois sabia que ele era ruim em guardar mentiras. Miguel estava vermelho ao lado do amigo, se ouvisse mais uma vez que tinha sido o culpado, ele iria explodir.

— Seja sincero, Miguel... — ela o cutucou.

E ela cutucava com a vara curta demais. Nunca era bom cutucar um cão raivoso com vara curta. Ou o que quer que seja o ditado. Miguel a olhou com aquele rosto de quem iria falar merda, como sempre.

— Ah, tenha misericórdia, eu já disse que não fui eu, sua velh-

— Sr. Silvana, a gente promete que não vamos fazer isso de novo, sério mesmo... Estávamos com fome e descemos para comer de madrugada. Só isso. — interveio João antes que Miguel caísse no soco com a diretora.

Suas melhores habilidades eram apaziguar as situações e essas em questão aconteciam muito em sua volta. A sobrancelha da diretora pareceu uma criança no escorrega, subindo e descendo, até que enfim, soltou o ar do peito e tranquilizou a expressão.

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