Capítulo 3 (Ayla)

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Eu tinha morrido?

Graças a Deus, não.
Fui acordando aos poucos mas já conseguia ouvir o choro escandaloso de Rita de longe, senti que estava sendo medicada pela veia e que provavelmente estava no hospital.
Também senti alguém segurando a minha mão. Era uma mão macia e em algum dedo tinha um anel: era a minha mãe. Eu reconhecia seu toque muito bem.
Uma lembrança em forma de sonho se passou pela minha cabeça. Eu era pequena, provavelmente tinha 5 anos, e eu tinha caído de bicicleta no parque da cidade pois estava aprendendo a andar de bicicleta sem rodinhas. Assim que eu caí minha mãe veio me acalmar. Ela pegou um merthiolate daqueles que você passava com uma "pazinha" na ferida para passar no meu machucado.

- Não mamãe! Vai arder! - Falei alto enquanto soluçava.

- O que é melhor: ficar com um machucado que vai ficar super feio na sua perninha e vai doer bastante por muitos dias ou uma ardência de cinco segundos que vai fazer seu machucado sarar rápido?

Minha mãe era a pessoa que dava os melhores argumentos e conseguia persuadir qualquer pessoa, por isso virou advogada.

- O ardido de cinco segundos... - Respondi engolindo o choro.

- Então segura a mão da mamãe que eu vou passar o remedinho.

Quando eu segurei a mão dela, como ela pediu, foi como se eu não sentisse nada. Parei de sentir dor, ardência, tudo. Até a grama que eu estava sentada. Foi como se eu estivesse flutuando segurando a mão de um anjo... E minha mãe era um anjo para mim.
Aquele mesmo toque me fez abrir os olhos. Ela me abraçou forte e Rita e Henrique vieram para perto.

- Minha filha! Você está bem?! - Dava pra ver as lágrimas nos olhos dela. - Graças a Deus você está viva!

- Amém meu Deus! Obrigada senhor! - Disse Henrique logo em seguida.

- Gente... O que aconteceu? Só lembro que tinha fogo e mais fogo ao meu redor... - Me acomodei na cama do hospital com a ajuda de Henrique.

- Você simplesmente saiu correndo pra dentro do colégio! Se lembra?! Assim que a gente viu que o Marco não tinha ido pra escola... - Rita olhou pra mim com uma cara de "meu deus eu quase falei" e pensou no que falar.

- A gente ouviu que tinha uma pessoa dentro do banheiro masculino e a Ayla foi dar uma de salvadora da pátria e quase morreu! Né Ayla? - Henrique ajudou Rita.

- Ah... Eu lembro... - Eu lembrei do que realmente tinha acontecido, mas tive que disfarçar e ir no embalo de Henrique - Mas ela tá bem?! Quem era!?

- A gente não sabe ainda... Mas parece que a pessoa faleceu. - Agora Rita estava falando a verdade. Dava pra ver nos seus olhos.

Aquelas palavras martelaram na minha cabeça. Uma pessoa tinha morrido por minha causa. Eu nunca me perdoaria por aquilo.
Não consegui segurar e o choro veio com tudo e minha mãe e meus amigos se surpreenderam.

- Calma filha... Você fez o que pode, estava um calor imenso e você não estava vestida como uma bombeira para conseguir resgatar a pessoa. A hora dela, ou dele, tinha chegado. - Minha mãe me puxou pra um abraço, mas nem com o toque dela eu me acalmei.

Olhei para Rita e Henrique enquanto estava no abraço.
Eles sabiam o porque eu chorei: eu matei alguém inocente.

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