Rocinha

Profundo

Flor On

- Me larga que eu tô bem - Karen diz embolado me fazendo rir

- Fica quieta em baixo da água mulher - Digo segurando o riso

- Seu homem é maior gostoso - Ela comenta fazendo uma cara engraçada - Ele parece gostar de você - Me olha de forma amorosa me fazendo suspirar - Você merece ser amada e cuidada por alguém Flor, não deixa ninguém atrapalhar tá bom? - Conclui e eu concordo com a cabeça sem dizer nada

Eu sempre escuto que mereço as coisas. Mereço ser amada, respeitada, porém ainda existem bloqueios em mim que me sabotam o tempo todo e que me impendem de perdoar meus próprios erros.

- Vamos te colocar pra dormir mocinha - A levanto do chão e a ajudo a secar seu corpo

Eu a levo para o quarto de visita onde Sofia está tão apagada que nem percebe Karen deitando ao seu lado. Eu a cubro e lhe dou um beijo na testa.

- Boa noite amiga! - Digo e deixo o quarto caminhando ansiosa para ter um momento com Pedro

Eu o encontro na sala abrindo um vinho tinto cantarolando a musica que toca baixo na televisão. Eu escoro meu corpo no batente o observando por alguns instantes vendo ele tirar sua camisa preta e servindo duas taças.

- Deu certo com as meninas? - Ele diz ainda de costas

- Como sabe que estou aqui? - Ando em sua direção enquanto ele se vira estendendo uma das taças pra mim - Vinho você bebe? - Questiono antes de me deliciar com o sabor marcante do vinho

- Duas taças no máximo! - Afirma sorrindo pegando em minha cintura - Eu já passei por muita coisa na favela linda, eu sei quando alguém esta me observando - Conclui erguendo a taça em minha direção

Nós brindamos nos encarando profundamente como se estivéssemos duelando internamente, qual de nós dois é mais complexo? Sinto que se formos ter algo terei que ser verdadeira com ele, mesmo não estando preparada. O que me faz pensar nas palavras de Zion: "...Mais quando Júlia morreu,ele, perdeu o chão...", eu não serei a unica a ter que me expor e ser verdadeira, ele também esconde problemas do passado que fazem parte de quem ele é hoje.

- O que você tanto pensa? - Ele questiona com os olhos cerrados e um leve sorriso de canto

- Acho que deveríamos conversar sobre...- Penso - Isso! - Aponto pra nos dois e ele sorrir

- Por mim tudo bem! - Ele se afasta indo sentar no sofá - Vem! - Me chama enquanto sinto meu coração bater mais forte

- Eu estou nervosa - Digo ao sentar em sua frente o fazendo rir - Para de rir Pedro - Jogo uma almofada nele

- Nervosa por qual motivo Flor? - Ele diz colocando sua taça na mesinha de centro me puxando pela cintura em seguida

- Porque a ultima vez que gostei de um cara - Respiro fundo, realmente não é fácil falar sobre esse assunto - Ele me destruiu! - Concluo não conseguindo encarar seus olhos

- Eu consigo entender que não é fácil pra você tocar nesse assunto, e eu só quero saber quando você se sentir confortável pra conversar sobre. - Fala fazendo um carinho em minha bochecha - Eu também tenho muitas coisas para te contar Flor, alguém que eu amava foi assassinada diante dos meus olhos e eu realmente ainda estou aprendendo a lidar. Estar com você, sentir algo por você,é uma revolução em cima dos meus traumas, e se de alguma forma eu posso ser verdadeiro com você é te dizendo que eu sou filho do dono na rocinha, eu cresci na favela Flor, vi muitos amigos meus morrerem, eu já vi muitas coisas, inclusive já vendi muita droga por ai - Eu o encaro assustada - Um dia vi uma colega sendo internada por conta das drogas que eu mesmo vendia pra ela - Ele respira fundo - Depois disso eu resolvi que não queria seguir a linhagem do meu pai, parei de vender, comecei a estudar de verdade e escolhi fazer direito. Meu pai um dia vai precisar de um bom advogado - Sorrir meio triste pra mim que o encaro calada absorvente todas as informações - Eu não quero te magoar, mais não posso prometer que não farei porque ainda existem muitas valas abertas, e não posso pedir a você que compreenda todas - Conclui pegando a taça de vinho da minha mão tomando um longo gole - Se sente menos nervosa? - Brinca e eu nego seria