2. (À) flor da pele.

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Tracei uma poesia sem versos, sem rimas nem estrofes. Mas era poesia. Eu sei que sim, mas também sei que não. Poderia não ser, estruturalmente, mas era, essencialmente. Quem sabe, né?

Escrevi-a durante a viagem, dentro do trem. Quando penso sobre os pequenos textos, me emociono. São curtos, sim; entretanto, carregam uma grandiosidade de sentimentos não ditos.

Ok, mas e aí? Sobre o que escreveste, afinal?

Ah, sim! Era algo sobre...bem, leia!

"Eu parei de sentir muitas coisas, e comecei a sentir muitas outras. No entanto, até agora, existem muitas coisas das quais eu sequer experimentei saber como são. Que pena...

Que pena? Será mesmo?

Eu realmente olhei para o mundo ao meu redor quando coloquei os pés para fora de casa. Eu senti a brisa balançar meus cabelos, o calor abraçar meu corpo; mas também senti a ventania levantar meus braços e o frio cortar minha pele. Inspirei o outono, e expirei a primavera. Acelerei e desacelerei. Eu corri, mas também cansei.

Quando o barulho bateu em minha porta, eu não quis deixá-lo entrar, e então, ele começou a gritar. Bateu mais forte. Eu me encolhi, morrendo de medo. Chorei, sem saber o porquê daquele som tão alto me desesperar. Ele bateu, bateu e bateu. E eu também.

(Eu me bati)

Bati as pernas, as mãos na cabeça, a cabeça na parede, os punhos nas coxas. Eu só bati. Bati até latejar, cravei até arranhar, arranhei até sangrar. Sangrei até chorar. Chore até...? Bom, não importa. Nunca importou. Nem quando eu arrumava milimetricamente meus livros, posicionava as plantas ou ajeitava o que estivesse fora do lugar. Eram só manias. Manias de tentar arrumar o que não se pode consertar. 

Mas quando foi que parei para tentar me curar? Acho que eu também precisava me amparar. Que pena..."

Que pena? Será mesmo?

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⏰ Última atualização: Dec 03, 2022 ⏰

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