O acordo

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6 anos atrás em Brasília

A reunião parecia bem animada para quem se envolve com política e outras burocracias, mas para Irma com seu quinto drink não parecia nada além de uma feira de vaidades e longe do que lhe foi oferecido. José falava que eles iam mudar a vida das pessoas e ele só mudou a dele. A dela também, mas não era exatamente algo bom. Irma só queria voltar para casa e sentir o cheiro de seu filho, mas estava ela fazendo as apresentações já que ela era de uma família conhecida do Rio e todos amavam esse conto do filho do rei do gado com a socialite carioca. 

Ela odiava cada vez mais, Irma viveu já um conto de fadas. Aquilo era nem perto do que teve e com a idade, ela passa ter desgosto em se contentar com pouco.

-Você não deveria beber tanto.....

Maravilha, o marido lembrou dela.

-E você deveria me dar mais atenção não? Que tal a gente aproveitar a babá e dar uma fugida?

-Meu amor, você sabe que isso é para um bem maior? Anos de dedicação para me formar e ter essa chance de poder ajudar mais nosso povo. Seja boazinha, sorria e tome uma água. Prometo aquela viagem para o exterior assim que aceitarem meu nome na campanha,sim?

Antes que ela pudesse falar algo, ele sai e novamente Irma está só com sua solidão on the rocks. Tudo se mistura quando ela nota um homem ao lado dela com cabelos nostalgicamente compridos, mas o olhar sempre era diferente. O estranho a olhava com se não importasse com a aliança em seu dedo como ele mesmo tinha. Irma toma de uma vez só o resto que havia em seu copo e vai para a porta dos fundos do restaurante fechado pelo partido esperando que ele entendesse o recado.

E ele entendeu...Irma nunca havia traído ninguém. Bom, não fisicamente, mas lá estava ela transando entre uma um barril vazio de chopp e uma lixeira. Era decadência e álcool. Talvez a pessoa em questão soubesse que foi usado quando ela gemia algo e quando fez questão que ele acabasse logo.

-Qual seu nome, linda?

-É "você nunca me viu", entendeu?

Ela sai arrumando as roupas e muito pouco satisfeita.

-Quem é Trindade?

Irma tenta segurar a raiva e a tristeza, mas não se vira para responder.

-É alguém que nunca mais terei...

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Tempo presente

Irma se sentiu um pouco tola ao sair com um dos cachorros, o Lenon, para tentar seguir o rastro dele com o cheiro presente na pena, mas não teve muito sucesso. Foi difícil manter as crianças em casa, mas hoje quem tinha um encontro com o violeiro era ela. Antero foi convencido pelo padrinho de ajudar a limpar a viola e as meninas pelos bolinhos de chuva de Filó.

Depois de uma busca em vão, Irma decide tentar a sorte na prainha onde ela falou e ele ouviu sobre deixar algo. Era mais ou menos a hora em que ele se encontrou com as crianças. Ela estava nervosa tanto quanto num primeiro encontro. mesmo que ele não quisesse admitir, ela sabia que era real. A mãe de Antero preparou tudo o que poderia o ajudar de imediato e passou mais perfume do que deveria uma vez que ele a deixou, mas ela sabia o quanto Trindade amava o cheiro dela. Por sorte, ela trouxe na mala um frasco do cheiro dela antigo. Zé Lucas depois de um tempo achou que era floral demais e parecia um enterro, ela como sendo boazinha de sempre, passou a usar um perfume cítrico.

Tudo parecia meio mágico novamente: o lugar, o cheiro de flor saindo dela e a expectativa que ele fosse aparecer. As rugas mais acentuadas trouxeram um pouco de insegurança que ela tentou esconder com a maquiagem. Será que ele ainda a acharia uma princesa? ela tão cheia de pecados e feridas ( muitas causadas por ele, ela não poderia esquecer). Por que ele aparece? Será que novamente se foi? Ela conseguiu reencontrar e perder novamente Trindade?

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