A casa

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O Rio estava cada vez mais seco e era difícil pescar algo, ainda mais com os poucos recursos. Antero até emprestou uma vara, mas para conseguir algo era necessário ir para mais além. Trindade lembrava dos momentos que fazia isso com seu amigo Tibério. Amigo não, irmão.
Além da princesa e guri, ele sentia muita falta de seu companheiro. Algumas vezes se aventurou mais próximo à casa dele com Muda para ver como andavam as coisas. Ele parecia bem e era merecido tudo isso. Porém uma tarde Trindade ouviu o ponteio de seu irmão e depois ele se lamentando sozinho.
-Oh capetinha, cadê você? Até hoje não tive coragem de batizar minha menina porque você que é padrinho como sou do teu moleque.

Talvez por isso ele se afeiçou à Helena mesmo ela sendo mais desconfiada do grupo e no fundo ele sentia que ela aprendeu a confiar. Maria era também muito esperta como o pai Jove e corajosa e sincera como a mãe. O velho pode estar certo que tudo está no seu lugar sem ele por lá., porém ele não conseguia esquecer o medo no olhar de Irma com a insistência de Zé Lucas.

Trindade realmente precisou aprender a fazer algo que nunca imaginou ser capaz para salvar sua princesa. Ele se culpou desde então. Irma só estava passando por isso porque ele não derrotou o pacto e precisou salvar sua família. No fundo ele sentia que foi usado em uma trama maior que ele. "Será se ela nunca me conhecesse, seria mais feliz?" Ele pensou muito nessa possibilidade.

O barulho do avião interrompe seus pensamentos e a dor misturada com alegria em seu peito dizia quem estava lá.

-Você voltou,princesa...

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Antero, Helena e Maria não entenderam bem o motivo que a mãe do menino mandar mais comida, roupas e remédios para o passeio deles. Ainda mais depois de quase jurar que o forasteiro seria algo da imaginação deles ( e eles sabiam que não).

-Mãe, você resolveu acreditar em nós?

Ele nota que a mãe demora a responder, mas ele sente que as emoções dela sobre esse assunto eram intensas. Antero ainda não sabia como interpretar.

-Ele não fez companhia para vocês? Você não está tocando cada dia melhor? Eu só queria ter certeza de algumas coisas e também daqui a pouco vocês vão voltar aos estudos e irão menos lá.

O grupo finge acreditar porque tudo isso ajudaria realmente o amigo deles.  O pai de Helena tentou ajudar, mas o violeiro fugia dele também e em algum papo de adulto, ele foi convencido que não era um problema eles estarem ali.

Quando chegar ao local de sempre o amigo estava tentando assar um peixe com uma aparência duvidosa. O lanche da cesta do cavalo do Maria será bem usado.

Antero sempre sente uma vontade imensa de abraçar o amigo quando chega, mas sempre se segura porque tem, no fundo, medo de se apegar demais e ele sumir do mesmo jeito que apareceu.

-Senhor violeiro, parece que você tem uma fã!
-Mais respeito com a minha mãe, Maria!
-Mas eu falo sério...

Como de costume eles começam a discutir entre eles e Helena aproveita para fazer o prático que é montar o piquenique deles. Não antes de salvar o bolo de ser jogado no Antero num argumento voador da Maria.  O amigo só ria dos dois teimosos.

-Dessa vez a Maria está certa e espero que ela não escute isso. A tia Irma mandou muita coisa para você, violeiro. Nossos cavalos vieram quase como em comitiva.

-Um dia será uma real,Helena.

Antero resolveu parar a briga para ajudar sua amiga. Eles então tiram a encomenda dos cavalos com a ajuda do violeiro que estava estranhamente mais calado. Ele parece animado quando vê entre os pertences um berrante e uma viola.

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