Capítulo 9 - Uma parte da história ♬

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     Permaneci em silêncio enquanto Laura parecia organizar mentalmente o que pretendia me contar

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     Permaneci em silêncio enquanto Laura parecia organizar mentalmente o que pretendia me contar. Desci apenas para fazer duas xícaras de café para nós, pois sei que a história vai ser longa. Não que fosse uma necessidade minha saber, mas ela precisava desabafar e pôr essa história para fora.

— Tudo começou dez anos atrás... — Laura iniciou pensativa, interrompendo a inquietude da minha mente. — Meu pai e o pai do Fernando, se conheceram há anos, então foi impossível não nos envolvermos desde a infância, brincando um com o outro desde sempre. As coisas foram mudando, as brincadeiras cessando e a guerra dos hormônios e da puberdade chegou. Claro, não podíamos mais passar tanto tempo juntos. Mas ainda nos víamos e as coisas fluíam bem. Com o passar dos anos, fui desenvolvendo algo mais que amizade e fui correspondida. Papai não aceitou muito bem de início, mas acabou cedendo ao perceber que o Sr. Vasconcelos manteria a palavra de que Fernando não iria arruinar minha "honra", pura bobagem, perdi a virgindade aos dezesseis anos com aquele idiota uma semana depois. E fomos nos envolvendo, nos envolvendo cada vez mais, até que cheguei aos dezoito e decidi que iria me casar. Eu estava cega, apaixonada, fui uma tola por aquele cara. Nossos pais odiaram saber que estávamos transando, mas as camisinhas e os anticoncepcionais não passaram despercebidos.

Ela suspira fundo, bebe um pouco mais de café e segura a xícara com firmeza. Eu só observo, não digo nada, seria capaz de estragar a ordem dos fatos bem organizados em sua mente brilhante. Confesso que estou um pouco inquieto, ansioso para o desfecho.

— Então depois de tantas idas e vindas, ficamos noivos. Claro que meus pais não apoiaram logo de início, mas acreditavam que Fernando poderia ser um bom rapaz. Que história! Ele era um ordinário. Me humilhava, me diminuía, me traía com qualquer garota dessa cidade. E eu perdoei, diversas vezes, chamei aquilo de amor porque amava mais a ele do que a mim. Foi horrível. Minha ficha demorou a cair e quando finalmente aconteceu. Meu pai me culpou. Disse que agora eu teria que casar porque ninguém ia querer uma mulher usada. E aquilo doeu, doeu na minha alma. Eles não me deram apoio. Eles me queriam ao lado do Fernando só por aparências. Quando a fazenda ficou em uma crise financeira, meu pai não queria que eu terminasse o relacionamento fracassado. Porque a família do Fernando nos ajudou e isso teria um custo. Claro que teria. Eles não eram caridosos. Por isso decidi ir embora. Arrumei as minhas coisas numa noite de verão, saí com a caminhonete que Fernando me deu em um dos meus aniversários e fui embora para longe.

Laura seca as lágrimas, suspira fundo e pausadamente. Eu não sei bem o que dizer. Estou revoltado com tudo isso. Essas pessoas quando têm dinheiro são capazes até de vender os filhos. Esse não parece o homem que eu conheci, mas eu jamais duvidaria das palavras dela. Afinal, todos têm uma versão de nós, mas a verdadeira, poucos conhecem. Fico alheio a tudo por alguns segundos, enquanto um silêncio nada incômodo se instala entre nós.

— Me desculpe por despejar essa parte da minha vida em você. Mal nos conhecemos, tô sendo inconveniente... — ela lamenta, levantando subitamente da cama e girando os calcanhares no tapete felpudo no centro do quarto.

— Que isso, tô aqui pro serviço braçal e sentimental. Pode contar comigo sempre. Não sou muito em expor esses sentimentos, mas prometo tentar — afirmo, levantando em seguida e já sinalizando que estou indo embora. — Sabe, amanhã, podemos dar uma volta, deixar essa energia negativa de lado. Tomar um banho no riacho, lavar a alma. O que acha?

— Gostei. Estou bastante interessada, cowboy. — Laura brinca e observar seu próprio rosto num espelho na pentedeida de frente para a cama. — Essa pessoa não combina comigo. Já deixei de ser essa Laura há muito tempo. Não quero mais voltar nesse lugar. E estou disposta a descobrir quem quero ser. Ah, e talvez você venha de brinde.

— É mesmo? — ela brinca e eu sorrio, nós dois fazemos o clima anterior se dissipar de uma forma tão natural. Eu mal me reconheço quando estou com ela. Tudo parece se encaixar.

— Sim, cowboy. Estou ansiosa para ver como você vai melhorar meu humor amanhã. Só preciso de uma boa noite de sono, prometo. Amanhã, tudo será esquecido. Uma nova eu irá surgir — assegura, tentando soar natural, mesmo estando chateada.

— Não precisa. Nem sempre vamos ter dias bons. Os dias ruins sempre chegam e eu fico feliz que confie em mim para falar sobre eles. Estou à sua disposição sempre — nos aproximamos um pouco mais e eu deposito um beijo casto na testa dela. Sorrimos mais uma vez, talvez pela intimidade que surgiu ou o modo que nos olhamos. Mas, eu sei, tem alguma coisa acontecendo aos poucos aqui e não vou abrir mão disso. — Boa noite, baronesinha.

— Obrigada por hoje. — Ela reforça, me agradecendo pela milionésima vez. E eu sorrio, sem saber ao certo como agir diante do olhar intenso e lindo dela. — Boa noite, cowboy. Não vou me esquecer de como você me deu apoio. Obrigada, de verdade. Nos encontramos amanhã. Estou ansiosa para esse dia de folga. Até mais.

Saio do quarto com um sorriso no rosto, o tipo de sorriso que acontece quando alguém está ganhando nosso coração. E, honestamente, Laura já tinha usurpado o meu.

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⏰ Última atualização: Oct 21, 2022 ⏰

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Sabor Canela (Short fic)Onde histórias criam vida. Descubra agora