Capítulo LI

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Anarda Resboc.

  Quando descemos no dia seguinte, somos guiados por um cheiro gostoso de comida sendo feita e, quando chegamos na cozinha, somos recebidos por Lua, sentada na grande mesa de jantar enquanto Josh trabalha animadamente nas frigideiras, fazendo várias coisas ao mesmo tempo.

— Oh, bom dia, crianças. – Cumprimenta e acena em direção aos assentos. — Sentem-se, Josh é um culinário de mão cheia e gosta quando temos convidados.

Meu rosto se contorce com seu jeito de nos tratar, mas então me lembro que por trás do rosto jovial da fêmea sentada a mesa, está a deusa responsável por esse mundo e pela vida de todos. Somos crianças, ao seu ver.
   Puxo a cadeira a sua frente, Marcos e Alex se sentando um de cada lado meu, algo que estava se tornando corriqueiro.

— Vocês gostam de panquecas? Eu espero que sim, eu fiz o suficiente para um pequeno exército. – Josh sai da cozinha, trazendo consigo em uma mão uma bandeja com várias panquecas, na outra trás uma jarra com mel. Ele apoia a comida na mesa, que ja está enfeitada com ovos, bacon, pães de diferentes jeitos e sucos, além de café e outras variedades de comida, todos cheirando a novo, todos feitos nessa manhã pelo pequeno Ômega saltitante. Quando se ajeita, olha para a deusa, atrás de aprovação, e a recebe em um sorriso satifeito da mesma, que estica os dedos, passando sobre sua maçã levemente.

— Obrigado querido, está perfeito, agora coma um pouco e fique forte.

O Ômega fica mais que feliz em obedecer, se sentando ao seu lado e começando a se servir. Lua volta sua atenção a nós novamente e aponta para as variedades de comida. — Por favor, comam, não se incomodem com formalidades.

Olho para mesa e, influenciada pelos machos ao meu redor que começam a se servir, puxo alguns pães, frutas e uma paqueca para mim, e aproveitando minha facilidade de acesso, passo a manteiga para Alex e a geleia para Marcos antes que eles pedissem. Sinto um olhar pesar sobre mim e levanto o olhar, encontrando Lua me analisando, um sorriso pequeno sendo escondido por trás de sua caneca de café fumegante. 

— Vocês três são incríveis. – Diz em tom apreciativo e toma um leve gole de café. A atenção dos meus namorados se junta a minha na deusa, que pousa o olhar de um a um. — Fogo. – Seu olhar pesa sobre Alex, a minha esquerda. — Gelo. – Seus olhos azuis, incrivelmente parecidos com os meus, me analisam — E Pedra. – Finaliza olhando para Marcos, se fosse qualquer um nos analisando tão minuciosamente, eu teria me sentido ameaçada e rosnado, mas a ameaça não está presente em seu olhar, nem o desejo sobre os machos ao meu lado, nem em mim, então não me retenso, deixo que ela me analise. — Ja faz muito tempo desde que eu vi essa combinação, interessante, de fato.

— Não acho que um relacionamento trio seja algo raro. – Alex diz confuso e um olhar de sabedoria recai sobre a fêmea.

— Não é o relacionamento, querido, mas sim o que ele significa, o que ele é, em sua essência. Não é mesmo? – Pisca para mim, e preciso de muito autocontrole para não perder minha expressão, é claro que ela saberia...

— Bom dia, bom dia, amores da minha vida. – Cumprimenta um guardião animado, logo atrás vinha o gêmeo de Marcos, não tão animado como o primeiro, bocejando pelo sono ainda presente. — Titia. – Beija o rosto da fêmea, que sorri amorosa para ele antes de tomar um gole de seu café, recebendo um olhar feio do sobrinho. — Meu tio não disse que a senhora deveria diminuir a quantidade de café que ingere?

Lua para, a caneca congelada a centímetros de sua boca, seus olhos azuis se viram para seu sobrinho, com diversão e malícia rodando nos seus olhos.

— Eu não conto se você não contar. – Então toma outro longo gole de sua caneca, que parece que não ficará vazia tão cheia.

— Nem preciso contar. – Noah aponta e se senta, Dion sentando ao seu lado depois de cumprimentar a deusa com um sorriso educado. — Ele saberá sozinho.

— Vocês dois e sua aversão ao meu querido café, algumas coisas simplesmente não mudam, e o café é meu grande companheiro. – Diz divertida e volta sua atenção para nos. — Antes de Rubi se tornar Lua verdadeiramente, eu trabalhava no hospital central de Los Angeles.

— A melhor cirurgiã do mundo, diga-se de passagem. – Confirma Gaïos enfiando comida goela abaixo.

— Estava sempre com um copo de café na mão, acho que virou um vício pois, mesmo depois de virar Lua, ainda não largo a cafeína. – Ri sob a caneca e então nos encara séria. — Comam com calma e então continuarei a contar a história para vocês...

Um estrondo longe me faz ficar alerta, mas a deusa faz um sinal para que eu continue no lugar.

— Não se incomode, querida, são apenas alguns demônios tentando ultrapassar minhas barreiras, gostarei de ver até quando Kronos insistirá em mandar seus demônios para cá, boa sorte para ele, devo dizer. – Se levanta com uma graciosidade que eu nunca terei, não importa quanto tempo eu treine e sorri carinhosa, mas feroz. — Josh os levará para onde estarei quando vocês terminarem, não se preocupem com os demônios enquanto estiverem aqui, estão em área neutra, estão seguros e nada e nem ninguém os alcançarão aqui, estão sobre minha proteção.

Então, silenciosamente, se retira da sala.

— Vocês tem meia hora. – Avisa Josh, a boca suja de calda que tenta limpar com a mão, se sujando mais. Gaïos ri baixo e pega um guardanapo para limpar o rosto e mãos do ômega, que depois de limpo, volta a atacar a comida como se nada tivesse acontecido.



Meia hora depois, como imposto pelo ômega, andávamos pelos corredores para encontrar com a deusa, o local com certeza era enorme por dentro e a magia era expessa, quase palpável e que fazia meus pelos se arrepiarem a cada passo que dou.

— Qual o tamanho desse local? – Alex questiona com um assobio quando passamos por um corredor de colunas altas e janelas que cobrem as paredes do teto ao chão.

— Esse é um pequeno palácio, mas é grande, por encantamento, então grande, essa palavra define bem. – Josh diz a frente, seus passos, mesmo que curtos,  eram rápidos para o seu tamanho.

— É maior que o nosso, Alex, com certeza. – Marcos ri baixinho, enlaço meu braço com o de Alex, dando um aperto leve e o macho me olha com um sorriso divertido.

    Josh empura grandes portas de mogno que se abrem com facilidade, passamos pelo arco da porta e entramos em um grande salão, a deusa está na frente de uma enorme lareira que crepita.

— Que bom que chegaram, crianças... – Lua parece um pouco mais que sombria quando se vira para nos encarar, culpa e tristeza rondando por trás de suas íris, tão diferente da fêmea que deixou a mesa de jantar, não muito tempo atrás. — Onde estava mesmo? Oh, sim... Eu pensei que aquela seria a ultima vez que Trevas faria aquilo, mas tudo estava prestes a piorar, muito, muito mesmo.

Ela assopra pelo local, então entendo do porquê escolheu aquela sala quando o enorme salão se transforma em uma cena de guerra sangrenta.

 𝙰 𝚐𝚞𝚊𝚛𝚍𝚒ã - 𝘓𝘪𝘨𝘢𝘤𝘢𝘰.Onde histórias criam vida. Descubra agora