Bonafont e Ciel

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Eu nunca acreditei que a vida fosse boa. Nunca tive aquele lampejo de esperança por algo melhor. Triste? Um pouco, mas eu não sabia que as outras pessoas ainda se esforçavam para ser feliz até conhecer Naruto. Ele mudou a minha perspectiva. Por isso é diferente para mim, ele não é um interesse amoroso, ele é muito mais do que isso. Naruto é garantia de que eu posso ser feliz.

Comprei duas marcas diferentes de água. Bonafont e Ciel. Duas cores diferentes: Laranja e azul. Não sei qual o meu problema. Quer dizer, eu sei. O meu problema é Naruto.

Esfreguei o rosto com as mãos na cozinha de casa, as garrafas estavam em cima da mesa de mármore me encarando, me julgando. Todas de plástico, 500 ml cada. Eu estava hesitando, quieto, debruçado na pia, tomando coragem. Foda-se.

Peguei a seringa em um gesto rápido, puxando o líquido do calmante para fora do frasco e espetei a primeira garrafa. Bem próximo a tampa, um furinho minúsculo. Contei as gotas, um sussurro quase inaudível escapou da minha boca enquanto eu contava até dez. Dez gotas pingando rapidamente. Eu continuei uma por uma em todas as 30 garrafas da marca Bonafont, aquela com o rótulo laranja.

E quanto mais eu continuava, mais fazia sentido, mais fácil se tornava. Era por um bem maior. Era por mim e Naruto. Juntos. Era por amor. Eu estava suando de ansiedade. Coloquei a outra marca de água na mesa, as outras 30 garrafas de água pura, sem amor. Misturei.

Guardei tanto no armário quanto na geladeira, guardei das duas marcas, juntas e misturadas. Puras e com amor. Funcionaria assim: No dia que Naruto escolher beber água Bonafont, eu lhe darei atenção inconsdicional. No dia que ele escolher a Ciel, irei desaparecer.

Você vai me amar, Naruto. Do mesmo jeito que eu te amo. Estou burlando a parte chata, a parte que eu não sei como funciona. Você me entenderia, eu sei que sim. Olha como eu estou me esforçando por você: Comprei na Amazon, é um sensor de movimento. Vou colocar na porta da geladeira. O sensor vai acionar uma câmera minúscula que deixei na prateleira, só para ver de onde eu estiver a cor da garrafinha de água que você escolher.

Estou no quarto, quando Naruto chega em casa. Preciso controlar o impulso de me levantar e ir até ele e é engraçado, pois estou jogando CS, mas não consigo mais me concentrar. Escuto seus passos no andar de baixo e isso faz eu diminuir o som do computador só para te ouvir. Estou ficando obcecado demais.

Desliguei o jogo, porque mesmo com o som no mínimo não consigo escutar. Há um lance de escadas entre nós, afinal. Ele jogou a mochila no chão, escutei um baque fofo e abriu a geladeira. Preciso saber o que ele vai pegar, se vai beber algo, se vai beber a Bonafont. E no outro segundo estou animado, excitado. Me parece uma brincadeira.

Liguei a câmera rapidamente só para vê-lo se apoiar no balcão da cozinha e mexer no celular. Ele está rindo para a telinha, despreocupado. Então caminhou vagarosamente até o quintal, onde eu não posso mais vê-lo. Isso me enche de aflição, queria continuar observando-o, apenas isso, não faz mal.

Quando me dou conta, já estou descendo as escadas, pulando os degraus. Entrei na cozinha e peguei um saco de Doritos na prateleira de cima e tão despreocupado quanto ele, disse:

Naruto. - Como que dissesse oi. Ele estava encostado na parede de fora, no quintal, fumando. Ele olhou para dentro com um sorrisinho e parecia que não havia um problema sequer no mundo inteiro.

Queria fazer alguma coisa hoje. É sábado. - Me aproximei. Eu não sabia o que dizer, não sabia o que sugerir, não costumo sair só porque é sábado. - Quer? - Ele ofereceu o cigarro para mim. - É de palha.

Não, tudo bem. - Ele deu de ombros.

Você deve me achar idiota, né? - Não concordei, só fiquei lhe encarando. Seu olhar era fixo na parede de trás do quintal, uma pintura branca um tanto desgastada. - Por fumar.

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⏰ Última atualização: Oct 05, 2022 ⏰

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