Brincando Com Fogo

Capítulo 8

— Eu não sou um tarado por seios enormes. - Bufei.

— Não? Bom, não é isso que o seu desenho nos diz. - Me olhou sarcástica.

  Eu tinha a péssima mania de desenhar enquanto escutava música. Era o que fazia sempre que estava sem criatividade para criar algo. De alguma forma, escutar música enquanto rabiscava limpava a minha mente e acabava por ter ideias geniais após alguns minutos ou rabiscos.

  O problema que não eram rabiscos convencionais, eram desenhos de super heroínas com partes do corpo pronunciadas, tipo aquelas caricaturas de desenhistas de rua, cabeça pequena e peito ou bunda super grandes com cintura fina. Era algo constrangedor, não podia negar, um homem de trinta e um anos fazendo estes tipos de desenho, mas eu não conseguia evitar, quando vía o desenho já estava feito.

  Jayme já havia encontrado esses desenhos e dado um leve sermão, pois Genevieve poderia encontrar e fazer uma queixa de assédio sexual para o RH, já que ela me odeia ao extremo. E sempre fui prevenido com isso, deixava sempre o mesmo bloco na mesma gaveta escondido embaixo de papeladas. Mas quando Anahi chegou eu estava desenhando e não me atentei que peguei justamente o bloco proibido.

  Peguei o bloco e joguei dentro da gaveta.

— Desenho para distrair a cabeça. De alguma forma, desenhar e escutar música me relaxa e limpa a mente. Normalmente deixou ele sempre no mesmo lugar e não me atentei de não ter guardado quando você entrou na sala. Desculpa!

— Você está pedindo desculpas? Por quê? Medo deu lhe denunciar para o RH?

— Denunciar pelo quê? - Coloquei a mão na cintura a encarando.

— Por fazer desenhos que objetificar mulheres.

— Peço desculpas por tudo, por estar fazendo desenho no expediente e tais desenhos que objetificam as mulheres... Na sua opinião.

— Quero fazer uma pergunta. Se eu fosse um homem, esse tipo de colega que saímos para beber e cantar algumas mulheres. Você estaria se desculpando?

  Xeque mate. A mulher era extremamente inteligente.

  Claro que não pediria, até faria piada. Ela era inteligente e estava fazendo uma pergunta capciosa apenas para me pegar. Sorte que passei pelo treinamento do RH sobre assédio sexual e sensibilidade, por isso, sempre estive preparado para perguntas do tipo.

— Caso ele se sentisse ofendido, sim.

  Com certeza nenhum homem se sentiria ofendido por isso, nos homens gostamos desse tipo de desenho, gostamos de seios abundantes.

— Então, você pediu desculpas apenas por achar que eu me senti ofendida?

— Sim. - Dei de ombros.

  Achava que o assunto havia se encerrado ali. Por isso me sentei e Anahi se acomodou melhor na cadeira. Mas estava na cara que o assunto não seria encerrado tão cedo.

— Então objetificar a mulher pode, deste que não ofenda ninguém?

— Eu não falei isso. Você que está presumindo que eu objetifico mulheres e eu não concordo. Você quem está objetificando mulheres - A mesma me olhou com os olhos arregalados - Veja bem, você presumiu que ela poderia ser apenas mais uma burra por ter peitos enormes. Mas na verdade ela é uma das super heroínas com o maior QI e não seria os seus seios que a transformaria em uma burra. Logo, você prefere julgar antes de saber.

— Nunca escutei tanta besteira.

— Não é besteira, é uma realidade. E a única pessoa que não percebe é você. - Dei de ombros. - Perceba, o nome dela é forte: Anne Camis, usa capa e possui um poder de ler e matar mentes. Por que você pré-julgou que ela seria uma burrinha, estilo Arlequina?

— Arlequina não é burrinha, ela se faz. É bem diferente. Mas assim como você objetificou a Anne Camis, a produção de esquadrão suicida também objetificou a Alerquina. - Deu de ombros.

— Viu, novamente você pré-julgou. Só porque ela usava shorts curtos quer dizer que ela foi objetificada?

  Nem eu mesmo acreditava no que falava. Claro que foi a pura objetificação no esquadrão suicida, nos quadrinhos a roupa da Alerquina era completamente diferente.

— Eu vou trabalhar que ganho mais. Passar bem Pablo Picasso.

  Anahi se levantou, colocou o chapéu de caubói, pegou sua caixa, piscou para mim e saiu sorrindo.

  Ela era encantadora. Mas era só mais uma pé no saco como todas as outras, estilo aquelas militantes.

  Combinaria com a Genevieve.

2/5