Two

274 31 130
                                    

O som do tapa seco ecoa pela sala de reuniões totalmente vazia e o ar é arrancado dos pulmões de Kinn. O rosto de Vegas vira de vez e, de longe, se pode notar o local ficar vermelho. A mão de Gun ainda está no ar.

"Repete, repete o absurdo que você acabou de dizer."

Os punhos de Vegas estão fechados, mas seu olhar não vacila. Nem sua boca.

"Eu disse que não quero e não vou competir com o Kinn por absolutamente nada, eu gosto de trabalhar com ele. Você pode me bater até desmaiar se quiser, não vai ser a primeira vez mesmo."

E isso é tudo que Kinn precisa ouvir para começar a correr. Não no sentido literal da palavra, mas ele anda muito, muito rápido mesmo. Seus olhos ardem e ele sente como se o tapa tivesse sido desferido em sua bochecha. Caramba!

Algumas pessoas o cumprimentam, mas ele não responde. Seus olhos estão fixos no chão e qualquer movimento deles faria com que as lágrimas presas escorram. Tudo o que sua mente projeta é Vegas e todas as vezes que ele apareceu machucado alegando ter se metido em alguma briga aleatória. E se ele nunca brigou com ninguém? E se todas as vezes ele foi espancado pelo pai que deveria o proteger?

Respirando fundo dez difíceis vezes ao entrar no carro, Kinn inicia o motor e sai do estacionamento. Hoje foi a apresentação de projetos, o de Kinn tinha sido aceito, o de Vegas não, visto que os custos extrapolaram um pouco o limite. Korn tinha o parabenizado mais cedo, orgulhoso e dizendo que ele era insuperável. Kinn só não esperava que teria de superar o próprio primo. Pisando no acelerador, ele procura respirar fundo quando sua visão embaça ao lembrar do som da mão de Gun atingindo a bochecha de Vegas. Por isso seu primo saiu de casa assim que completou dezoito, irremediável em sua escolha. Por isso Macau estuda em outro país e Vegas não o quer aqui em nenhuma hipótese.

Como eu não percebi isso antes? Vegas apanha desde criança? Macau era espancado também? Por que....

Por que ele nunca me disse antes?

A gravata fica apertada em seu pescoço e se torna mais difícil respirar, mas depois de algum incerto tempo — talvez horas —, Kinn finalmente consegue respirar de novo e sentir o vento em seu rosto. O cheiro é salgado e ele percebe que é escuro e essa estrada vai dar na praia. Bom, ao menos ele está longe de todos. Ao avistar o pequeno bar na calçada bem em frente ao mar, decide sair. Beber é realmente uma ótima ideia.

Arrancando a gravata e o paletó, Kinn pega o celular e carteira para reservar um quarto no pequeno hotel do outro lado da rua, já que é perto do bar, do mar e ele pode caminhar tranquilamente após se embriagar um pouco. Decidido, ele ignora as chamadas perdidas e inúmeras mensagens na sua barra de notificações e executa a tarefa calmamente enquanto entra no bar. Kinn aprecia mais uma vez seu autocontrole adquirido após anos se treinando. Apesar de emocionalmente abalado ele conseguiu sair da empresa e se trouxe para longe sem cometer nenhum acidente. O celular em sua mão vibra novamente e sem querer ele lê a mensagem de Vegas.

'Você sabe que eu posso te rastrear, não sabe?'

Kinn aperta os lábios, resignado. Não é sobre ele. Claro, ele está fodidamente chateado e magoado com a situação, mas Vegas é a verdadeira vítima aqui e tudo que ele menos precisa é mais uma preocupação.

'Estou bem, só saí para me distrair um pouco, volto amanhã.'

Ao clicar em enviar, Kinn recebe outra mensagem antes mesmo que essa chegue ao seu destino.

'Kinn, faz HORAS que você não é visto, tá todo mundo preocupado!'

Isso o faz rir. "Todos" estão preocupados, mas só existem mensagens e chamadas de Vegas em seu celular, ele é o único que ameaçou abrir o aplicativo de localização que eles tem por motivos de segurança para saber o paradeiro de Kinn. Vegas é o único a se importar. Sempre foi. Até mesmo Khun Korn só lembra de Kinn quando a intenção é exibi-lo para os amigos.

Beach BarOnde histórias criam vida. Descubra agora