Paula e Cristina.

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Paula e Cristina caminhavam com as mãos entrelaçadas, vezes ou outra uma encostava a perna em um mato que roçava a pele causando a alergia, e algumas formigas travessas, portanto ambas só continuavam a seguir o mapa mental que guardaram para poder encontrar o que tanto queriam.
A cápsula do tempo, que ambas fizeram a cinco anos. Uma relíquia, só ambas as duas sabiam o que tinham escrito e colocado naquele pote de vidro com diversos segredos na época que ambas dividiam.

Caminharam por mais alguns minutos e quando encontram aonde tinham enterrado, as duas entram em ação para desenterrar.

— não creio que trouxe uma pá desse tamanho, Paulinha — Cristina brinca, ao tirar da mão da namorada que apenas revirou os olhos.

Ambas começaram a cavar, depois de alguns poucos minutos cavando a terra que escorria cobrindo toda grama, as duas começaram a ver o início do pote de vidro intacto.
As duas sorriram.
Sem frescura nenhuma, Cristina enfiou a mão na terra pouco se importando se sua unha se sujaria.
A terra que acumulou durante anos no pote, dificultou a abertura, mas depois de tanto tentar as duas começaram a tirar todos os papéis e cartas que haviam escrito e colocado lá dentro. Tinha até pulseiras do reggaes que era bastante famosa na época, e alguns brinquedos antigos.

Era lágrimas de Paula chorando de um lado, e de Cristina do outro. Ambas aproveitavam o momento comentando o quanto tudo aquilo havia marcado a infância delas.
Porém as cartas que ambas começaram a ler, começou a se tornar embaraçoso.

— eu não sei dizer ao certo mas eu sempre tive uma queda ou ranço pelo g, só não te contei por que sabia que gostava dele. Não queria ser taxada como talarica, obs: nunca fiquei com ele assim que Cristina lê, a mesma sente as bochechas corarem. E as duas riem.

Paula arregalando os olhos, ainda rindo da um tapa no ombro de Cristina que ri alto deitando a cabeça no ombro da mesma envergonhada.

— tá próximo. eu — Paula diz ainda rindo do segredo da mesma.

Assim que ela abre o papel, lendo devagar Cristina percebe a feição dela mudar, ficando surpresa corando.

— eai o que diz?

— eu nunca gostei de garotos — ela lê o bilhete em voz alta

Cristina abre a boca surpresa

— gata, mas e aquela história depois do g você não ficou com o d que você tinha dito? — Cristina pergunta curiosa.

A namorada nega.

— eu nunca fiquei com ele

— pera, quê?

— eu menti, só queria parecer meio descolada fingindo que fiquei com mais caras que a Renata, e o g depois do nosso primeiro encontro, só transamos e não gostei dele e nem da nossa transa pra ser sincera, percebi que gostava de mulheres, ainda mais quando a l apareceu — ela cora envergonhada.

Cristina, coça a nuca incomodada depois de ouvir a ex namorada da outra mas mesmo assim se aproxima da mesma.

— não achei que abrir essa cápsula fosse fazer a gente falar coisas que você nunca me contou depois do nosso relacionamento, não posso te julgar também menti em algumas coisas naquela época — Cristina solta com seu sotaque lento, e a voz suave que faz Paula sorrir olhando encantada pro sorriso da namorada, deixando um selinho ali.

— tá, agora minha vez.

Cristina pega o penúltimo bilhete que havia escrito. E no mesmo segundo, sua mão treme, mas solta um sorriso.

— Paulinha, lembra daquela vez que te pedi um preservativo bem na hora que você e o g estavam se beijando e eu acabei dizendo que iria dormir com um menino depois da festa de aniversário da Renata? então, eu menti, eu não ia transar eu só queria ir embora daquela festa. Não sabia dizer o que eu tava sentindo naquele dia, eu estava com raiva, todo mundo tava se pegando e eu como sempre ficava pra titia, a pessoa que eu gostava não ligava para mim. E mesmo achando que eu gostasse do g afinal de contas sempre foi você, eu não gostava que ele te beijasse, eu queria estar ali, eu achava que gostava dele, mas na verdade eu gostava mesmo era de você. talvez nossa amizade acabe depois que abrirmos essa cápsula do tempo, desculpa — Cristina sentia as lágrimas caindo dos seus olhos — velho, eu não sabia que tinha escrito isso...

Paula estava chorando também. Ambas se abraçaram.

— a nossa amizade não acabaria se não tivéssemos namorando e apaixonadas uma pela outra, e mesmo que você lutasse contra eu não aguentaria ficar longe de você — Paula sussurra, ainda a abraçando.

Ambas riem.

— eu acho que abrir essa cápsula foi algo impressionante da nossa parte, imensurável e perspicaz inteligência não achas? — Cristina agora sooa com uma voz rouca e engraçada parecendo masculina querendo amenizar o clima que se instalou.

Paula concorda rindo.

— irei ler a última. — Paula diz ao pegar uma das pulseiras do reggae ao entregar na mão da namorada.

Cristina fica confusa.

E assim Paula lê a carta que ela havia escrito.

fevereiro de 2005
Depois de muito tempo debaixo da terra que essa cápsula ficou, venho do futuro dizendo que essa pulseira é para a minha flor.

Para Cristina, te amo melhor amiga.

E assim ambas começam a rir, entre lágrimas e abraços.

— da sua flor que virei o seu amor, Paulinha — Cristina beija os lábios da namorada sorrindo apaixonada.

E assim ela coloca a pulseira na mesma que sorri, vendo como seu cabelo voou atrapalhando seu fechamento no nó, pegando com o dedo e o colocando atrás da orelha dela. Ambas se olharam apaixonada. E se beijaram novamente.
E assim, Cristina se levanta, agora dessa vez pegando sua última carta, a abrindo, sentindo a terra sujar o papel com a marca dos seus dedos.

Paula a olha curiosa, com as pernas em forma de índio.

fevereiro de 2005
Talvez a gente brigue, ou nem se lembre mais dessa cápsula do tempo, ou talvez no futuro alguma de nós nem esteja mais aqui, mas saiba que amei te conhecer.
Para sempre minha melhor amiga, e meu amor não correspondido. — Cristina sorri, boba e depois mostra o desenho que ela fez das duas juntas, iguais aqueles desenhos do infantil com palitos.

Paula sorri, vendo o desenho se levantando da grama, abraçando Cristina sorrindo apaixonada.

— velho, você desenhava mal pra cacete — Paula brinca, agora provocando a namorada de cabelos chanel que a olha revirando os olhos

Ambas riem.

Cristina olha fixa para o desenho, rindo assim que ambas voltam a se sentar de frente uma a outra.

— você tem razão, desenhava mal pra caralho, não teria como desenhar alguém tão linda como você, seria impossível.

Paula fica sem jeito, mas ambas sorriem no mesmo instante se abraçando fortemente, pouco ligando se as mãos de ambas estavam com terra, ou se estavam todas sujas pelo mato, haviam compartilhado de um momento único, de uma relíquia e claro, de seus segredos da vida.

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