Se eu te ver de novo (Romance sáfico)

Capítulo 3

Por sorte, Maya só ficou mais dois dias em São Paulo e voltou para seu estado natal, já que, mesmo que ainda tivesse uma semana de férias da faculdade, o trabalho a chamava. A atendente de marketing se divertiu bastante e conseguiu descansar a mente nos dias em que passou com seu pai, mas ainda se sentia desmotivada e não via a hora de conseguir um estágio na área em que estava se graduando.

Maya sempre tivera vontade de crescer, ser independente, estudar, ela era uma menina extremamente estudiosa e dedicada a construir a melhor vida possível. Sentia que tinha uma enorme dívida com seus pais, então isso a motivava a estudar e trabalhar, porque queria um dia poder dar conforto aos seus pais, que sempre batalharam muito para lhe dar tudo o que precisava.

Quando saiu da área de desembarque do aeroporto, um enorme sorriso surgiu no seu rosto ao ver que sua mãe a esperava. Elas viviam discutindo por coisas bobas, mas quando ficavam longe uma da outra, a saudade gritava e elas não viam a hora de se encontrar novamente. Maya achava que nunca conseguiria ficar muito tempo longe de sua mãe e quando viajava para visitar seu pai, esse achismo se tornava um fato consumado.

A ruiva correu com sua pequena mala de carrinho e abraçou Karin, que tinha poucos centímetros a menos que ela. A mulher de cabelos castanhos se emocionava sempre que se reencontravam, ela dizia que Maya era seu pilar de sustentação e nem conseguia imaginar como seria quando sua filha alçasse os voos que tanto se preparava para alçar. Karin sabia que Maya tinha um futuro brilhante pela frente e não precisava se esforçar para enxergá-lo.

Ela se sentia sortuda por ser mãe de uma garota tão especial e esforçada, mesmo depois das tantas dificuldades que o divórcio de Karin e Ottis acarretou para Maya, ela se manteve gentil, bondosa e esforçada. O que mais preocupava a mulher era a insegurança da ruiva, ela não entendia como uma menina tão incrível nunca estava feliz com os próprios resultados, sempre encontrava defeitos em seus trabalhos e nunca estava satisfeita com suas conquistas.

Por vezes, ela se culpava, se perguntava onde ela e Ottis erraram e, de fato, muitas respostas vinham à sua mente, mas eram tantas, que nunca concluía nada. Karin orava com intensidade para sua filha conquistar seus sonhos, pedia sempre muita saúde e proteção, não conseguia dormir enquanto a filha não chegava em casa e sempre preparava seu café antes de sair para o trabalho para garantir que a ruiva comesse algo antes de iniciar o dia.

Por mais feliz que Maya estivesse em ter sua mãe ali para recebê-la, foi inevitável pensar o quanto gostaria que Elissa estivesse ali também. Isso a fez pensar que sua mãe ainda não conhecia Elissa e, de repente, começou a imaginar como faria para contar à mulher o que estava sentindo pela menina, o medo de ser rejeitada começou a crescer dentro dela.

Sua mãe nunca fora uma pessoa preconceituosa, pelo contrário, sempre a ensinou a caminhar pelo caminho do respeito e do amor. Mas como dizia um certo ditado, com os outros é diferente, né? O que Karin faria se Maya contasse a ela que estava apaixonada por alguém do mesmo sexo? E que, provavelmente, ela era lésbica?

Maya não queria contar naquele momento porque dentro dela estava uma confusão difícil de organizar. Ela não conseguia decifrar seus sentimentos e, no fundo, ainda tinha receio de estar se confundindo ou sei lá, vai que ela só é capaz de sentir isso por Elissa, mas não era momento para se perturbar tanto, então a ruiva tentou esquecer esses pensamentos e se dedicou a conversar com sua mãe enquanto voltavam para casa.

***

Desde que voltou para o Rio de Janeiro, Maya tentava buscar formas de encontrar Elissa, mas a morena sempre tinha algo para fazer com a mãe e não conseguia tempo para encontrar Maya nos horários livres da ruiva. Quando perceberam, o tempo de férias chegou ao fim e o reencontro finalmente aconteceria.