Se eu te ver de novo (Romance sáfico)

Capítulo 2

Em um dia em que teriam aula de matemática aplicada juntas, resolveram se encontrar um pouco antes na mesma cafeteria da primeira vez. Elissa não parecia muito bem e Maya estava preocupada por perceber que a menina vivia entre altos e baixos. A morena parecia ter tudo, não precisava se preocupar com dinheiro, vivia em uma casa linda, tinha ótimas notas sem precisar de muito esforço, sua beleza era indiscutível, era querida por onde passava... Maya não compreendia, mas sabia que não podia chegar a uma conclusão sem tentar entender.

Por isso, chamou Elissa para tomar um café por sua conta, já que na grande parte das vezes era a ruiva que recebia esses mimos. Ela queria criar um ambiente confortável para Elissa para estimulá-la a falar a verdade sobre seus sentimentos, não podia guardar tudo para si porque alguma hora, ela sufocaria. Maya sabia disso por experiência própria.

-Como você está, estrelinha? - Maya perguntou, chamando-a pelo apelido recém atribuído, devido sua popularidade na faculdade e nas redes sociais.

-Eu tô bem, anjo. - Elissa respondeu com o olhar baixo enquanto puxava a manga de seu casaco azul para cobrir as pontas dos dedos. Não demorou muito para Maya descobrir que aquele era o agasalho preferido de sua amiga, só não entendia de onde Elissa tirava tanto frio, já que moravam em um estado que fazia bastante calor.

-Tudo bem que nos conhecemos há dois meses, mas acho que já te conheço o suficiente para saber que não é verdade. - A ruiva disse, arqueando as sobrancelhas. Elissa forçou um sorriso amarelo. - Ei, não quero te forçar a nada, só estou preocupada e quero que saiba que, seja lá o que for, você não precisa carregar sozinha, ok? Eu estou aqui.

Ela apoiou sua mão sobre a mão de Elissa que repousava sobre a mesa e a apertou levemente. Elissa olhou nos seus olhos por um instante e sorriu novamente em um agradecimento silencioso a Deus ou a quem quer que tivesse posto Maya em seu caminho.

-Eu... - Ela tentou começar, mas não conseguia sequer pensar no assunto sem que um nó se formasse em sua garganta. Respirou fundo e continuou. - Eu estou com problemas em casa... com os meus pais, na verdade.

Novamente, Elissa suspirou e Maya voltou a apertar sua mão, motivando-a a continuar e, ao mesmo tempo, agradecendo-a por confiar nela a ponto de falar sobre assuntos que diziam respeito a sua família.

-Há algum tempo eles não se entendem mais, meu pai não respeita minha mãe e deixa claro sempre que pode que a trai. Eu não entendo porque ela insiste no casamento, ela não reage, nem parece se importar. E ela merece muito mais que isso. Eu queria odiá-lo, mas eu simplesmente... não consigo.

-Imagino que realmente não deve ser fácil lidar com esses sentimentos e te digo que sempre que sentir vontade, você pode conversar comigo, não guarda pra você, porque não faz bem. Falar nos ajuda a digerir de uma forma menos devastadora e enquanto não nomeamos o que sentimos, a dor parece não parar de crescer.

-Obrigada por existir, Maya... você é realmente um anjo.

Elissa havia percebido que Maya não era uma garota qualquer, ela era especial, tinha algo de diferente no seu jeito de viver a vida, de enxergar os outros, de acreditar nas pessoas mesmo quando as pessoas não mereciam. Ela era marrenta sim, mas por dentro, era uma manteiga derretida.

Era estranho lidar com aqueles sentimentos, mas eles só aumentavam a vontade de Elissa de estar o tempo inteiro na companhia de Maya. Elissa nem imaginava, mas a ruiva sentia a mesma coisa e tentava entender o que aquilo tudo significava. Não era a mesma sensação que sentia por outras pessoas com quem fizera amizade ao longo da vida, nem mesmo era o mesmo sentimento de quando ficava a fim de algum menino na escola.

Era um desejo enorme de tocar Elissa, de sentir seu cheiro, de imaginar tudo em seu futuro com Elissa ao seu lado, de experimentar coisas que nunca tinha feito e, ao mesmo tempo, morrer de medo de estar delirando e em algum momento acabar perdendo a menina, que naquela circunstância, considerava ser sua única amiga.