Capítulo 4

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Naquele novo período que se iniciava, as meninas não tinham nenhuma matéria juntas, mas ao menos, as salas delas eram grudadas uma na outra. Poderiam se falar pelas paredes, talvez? Sentiram muito por não terem nenhuma aula juntas, mas nada parecia ser um obstáculo para aquele amor que crescia mais a cada instante.

Apesar da correria, estavam juntas em todo tempo livre. Antes, Elissa vivia em grupos diferentes, falando com todos. Ela era popular por seu carisma e facilidade em puxar assunto, todos a adoravam, mas com o romance que estava tendo com Maya, ela sentia necessidade de estar sempre com a ruiva.

Durante as aulas, trocavam mensagens de texto e marcavam de ir ao banheiro ao mesmo tempo para trocarem alguns selinhos e sentirem o cheiro do perfume uma da outra. Vez ou outra, trocavam de casaco para se sentirem próximas e Maya adorava quando Elissa lhe emprestava uma de suas blusas para levar para casa e dormir sentindo seu perfume.

A noite havia virado uma criança para as garotas, que conversavam até de madrugada. O assunto entre elas parecia não ter fim e a saudade que sentiam quando se afastavam era tão enorme, que não cabia no peito.

Algum tempo depois do primeiro beijo, as meninas estavam em uma das salas de estudo da biblioteca da universidade sozinhas. Elas abriam livros e cadernos na mesa e seguravam um lápis na mão para parecer que estavam estudando e discutindo sobre algum assunto da faculdade.

Maya não sabia bem como começar o assunto que queria, mas de forma desajeitada, começou a falar para Elissa o quanto gostava dela e o quanto o último mês havia sido o melhor mês de sua vida. Maya sentia que finalmente estava encontrando seu lugar no mundo, ela se entendia e as coisas começavam a fazer total sentido para ela.

Ela nunca se encaixou, nunca gostou de boybands, nunca achou legal ser fã de jogador de futebol e nunca sentiu o fogo que suas colegas relatavam quando beijava algum menino. Ela achava que não tinha encontrado o cara certo ainda, mas agora, ela sabia que realmente era diferente, ela gostava de mulheres, Elissa não era uma exceção na vida dela.

-Elissa, sei que ainda não contamos para nossa família e que você não pensa em fazer isso por agora, mas acho que o que estamos construindo nos faz muito felizes e por isso, gostaria de saber se, de repente, você aceita ser minha namorada?

Elissa corou na mesma hora, ela não costumava ficar sem palavras e normalmente estava sempre com a resposta na ponta da língua, mas ela só conseguiu sorrir, colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha e observar a beleza de Maya. A morena molhou os lábios com a língua enquanto a ruiva era arrebatada pela ansiedade em ter logo uma resposta.

-Claro que aceito. - Elas sorriram e o desejo de selarem os lábios era enorme, mas não podiam fazer isso ali, Maya não sabia bem o porquê, eram maiores de idade, estavam em uma universidade, ninguém tinha nada a ver com a vida delas, mas Elissa cismava que ninguém podia saber do que estava acontecendo entre elas, que ainda não era o momento.

A ruiva não ficava pensando nisso porque tudo o que queria era ter Elissa e acreditava que isso bastaria para sempre, porque o sentimento que nutria pela menina era forte e valioso demais. Por algumas vezes, ela quis conversar com sua mãe, não achava que a mulher se reagiria mal, mas sempre que compartilhava sua vontade com a namorada, ela tinha mil razões para Maya continuar escondendo seu verdadeiro eu.

Mas nem tudo é perfeito, mesmo quando o amor é verdadeiro e forte, ele é passível a erros e, com o decorrer do tempo, algumas pequenas atitudes de Elissa estavam machucando Maya. Ela não se importava mesmo de não contar para as pessoas que estava com Elissa, mas a morena desprezava a hipótese todas as vezes que alguém perguntava algo ou sugeria o romance entre as duas, como se não só fosse um absurdo, mas também impossível.

Além disso, Elissa correspondia constantemente às investidas que recebia de alguns rapazes, dando a desculpa de que fazia isso para que ninguém desconfiasse. Para Maya não fazia muito sentido, o que as pessoas tinham a ver com o que as duas faziam ou deixavam de fazer? Ela não entendia.

Mas Elissa não queria, de forma alguma, que as pessoas descobrissem que ela estava em um relacionamento lésbico. Quando Maya perguntava a razão, ela só dizia que não seria bom, porque as pessoas são preconceituosas, que não aceitariam as duas e que a vida delas viraria um inferno na faculdade.

No fundo, a ruiva já estava vivendo um pequeno inferno toda vez que era obrigada a presenciar as cenas que Elissa fazia para "disfarçar". Ela aceitava, porque acreditava que seria a melhor coisa a se fazer, precisava respeitar a decisão da namorada e fazia de tudo para agradá-la.

Certo dia, Elissa entrou na sala de aula e Mika e Janet estavam cochichando enquanto riam olhando para ela. A morena estava acostumada com essa atitude que se tornou corriqueira depois que ela se afastou das meninas por conta do que falavam de Maya, mas mais tarde, descobriu através da namorada que as portas e o espelho do banheiro feminino estavam pichados com a frase "Elissa é sapatão".

Ela entrou em surto, não entendia como estavam desconfiando e cismou que precisava tomar alguma atitude para que tirassem isso da cabeça de uma vez por todas. Maya tentou acalmá-la, mas foi em vão. Aquilo estava doendo tanto em Elissa que Maya se sentia culpada por tudo o que estavam vivendo.

-Eu vou precisar fazer um sacrifício, Maya, por nós duas, para esquecerem um pouco a gente. - A morena falou.

-Sacrifício? Por que não podem saber? Elissa, fica calma, não é o fim do mundo.

-Eu não quero que saibam, você entendeu? Ninguém pode saber. - Elissa foi ríspida e grossa e Maya ficou sem palavras, que inclusive era algo que vinha acontecendo com certa frequência.

-O que pensa em fazer, Elissa? - Maya perguntou depois de algum tempo.

-Lembra do Leon? Do quinto período de matemática. Ele pediu para ficar comigo, vou aceitar, é o jeito, ele fala para todo mundo e pronto, ninguém mais vai desconfiar.

-O que? Você deve estar brincando... - Maya falou praticamente caindo sobre a cadeira que estava atrás dela. As palavras de Elissa a acertaram com um golpe.

-Eu estou falando sério, é o único jeito. Você sabe o quanto te amo e é por isso que preciso tomar alguma atitude.

-Elissa, isso não faz o menor sentido. - A garota começou a ficar com a voz embargada e o choro preso na garganta ameaçava se libertar com lágrimas tímidas enchendo seus olhos.

-Eu não tenho escolha. - A morena falou de forma decisiva, pegou a mochila que estava sobre a mesa e saiu da sala de estudos. Maya não sabia para onde ela tinha ido, mas não teve forças para se levantar naquele momento. Ficou ali por algum tempo, pensando e tentando se recompor para tirar aquela ideia da cabeça de Elissa.

Quando conseguiu se reerguer, a ruiva pegou suas coisas e foi procurar a namorada na sala de aula, tinha que haver outro jeito, Elissa precisava tirar essa ideia idiota da cabeça e se aceitar. Maya estava escondendo a verdade de sua mãe há meses pela garota, mas toda aquela conversa a fez perceber que não tinha motivo para esconder de sua mãe, pelo contrário, ela precisava de apoio, precisava de conselhos.

Chegou na porta da sala timidamente e ouviu o falatório da turma, colocou a cabeça para dentro para espiar e procurar por Elissa, mas se arrependeu amargamente no mesmo segundo em que viu sua namorada agarrada ao tal Leon. Se alguém contasse para ela, não acreditaria, mas ela estava vendo com os próprios olhos. Sua namorada não só a avisou que a trairia, mas concretizou a ideia ridícula que teve sem o menor remorso.

Maya estava abalada demais, não tinha a menor ideia do que fazer, mas não queria ficar ali. Seus olhos queimavam e as lágrimas caíam copiosamente pelo seu rosto, seu corpo automaticamente a tirou do prédio, ela não tinha condições de assistir a aula e de ficar ali, no mesmo lugar que sua namorada que acabara de trair sua confiança.

Maya precisava de colo, precisava da sua mãe, mesmo que a mulher não soubesse ainda, a ruiva soube naquele momento que seu maior erro tinha sido esconder tudo o que estava acontecendo dela, como falaria tudo de uma vez só? Não sabia, mas ela precisava desabafar com a mulher em que mais confiava além de Elissa.

Se eu te ver de novo (Romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora