[Capítulo I] Homizio

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Ela – mulher incomum e de cabelos incomuns, presos em um coque frouxo agarrados por uma pena de cisne – estava escavando a terra do jardim da Mansão Malfoy, dando golpes brutos na terra marrom escura como a barra de seu vestido longo. Estava disposta a plantar lírios, mas acabara plantando cravos, pois considerava o aroma mais forte; resistente. Narcissa gostava muito de plantar e de plantar principalmente flores, talvez por seu nome remeter às flores de Narciso. E toda tarde de quinta-feira dedicava-se a cuidar de seu jardim consideravelmente bonito para uma bruxa sem experiência com jardinagem.

O sol já havia desaparecido de Witshire quando a mulher finalmente terminou de plantar seus cravos, que estavam sutilmente e da forma mais clichê possível, ao lado de suas rosas perfeitamente podadas – era uma bela perfeccionista e nunca admitira tal traço marcado desde a infância – retirou suas luvas e passou a limpar e guardar seu ancinho, pá e tesoura em sua maletinha um tanto velha, a qual roubou descaradamente de sua mãe Druella Rosier. Não tinha remorso algum, já que nunca viu a mais velha tocar em algo que fizesse tanta sujeira quanto a terra.

Na entrada da mansão, a bruxa retirava as partes sujas de suas vestes e suas botas e enquanto subia as escadas para preparar um banho, não pôde parar de pensar o quão silenciosa a casa se encontrava quando Draco estava em Hogwarts. Seu filho havia voltado à escola tanto para ajudar na reconstrução da mesma, quanto para se formar. – O que chocou a mulher, positivamente – Lucius estava preso, pela terceira vez. Narcissa não se abalara dessa vez, afinal, ela e Draco foram perdoados porque Harry Potter foi publicamente defender o ato da bruxa pela coragem ao mentir para Voldemort, mas Lucius não teve tanta misericórdia depois de tudo o que fez. Precisava ser punido, ela concordava com isso mesmo que doesse como o inferno estar longe do marido mais uma vez. Bem, a mulher estava sozinha; sem seu filho, seu marido e sua irmã, morta. Também estava sem amigos, já que os bruxos ainda odiavam os Malfoy, – e com razão, pensava – os comensais não queriam ouvir o nome da família após a traição. O único amigo que teve, foi Severus, do qual a mulher não fazia ideia de seu paradeiro após a segunda guerra.

Já dentro da banheira, coberta pela água e por peônias que ela mesma colhera de seu jardim, a bruxa não conseguia parar de pensar em como faria para conseguir descobrir onde Severus estava ou ao menos saber se o homem ainda estava vivo. Os dois se tornaram amigos quando Lucius foi preso pela segunda vez, após sua falha ao permitir que a profecia fosse destruída. Narcissa havia ficado desolada e foi quando se aproximou de Snape para obter ajuda em como tomar as rédeas da família, ainda mais com o nome dos Malfoy indo para lama, de onde nunca mais saíra.

Narcissa emaranhou os dedos em seus cabelos, lavando-os, deixando todo o aroma das peônias presos aos fios bicolores. Esticou-se, de pé e pegou seu roupão pendurado à altura da banheira, a qual esvaziou assim que colocou os pés no chão gélido. Vestiu o tecido felpudo e quente, se encaminhando para o andar de baixo, mais precisamente à cozinha, seu lugar favorito da casa. Se dispôs a preparar bombas de caramelo e ao menos dessa vez queria enviar não só para Draco, mas para Harry Potter também – que agora trabalhava para o Ministério. – Passou a separar os ingredientes cautelosamente, certificando pelo menos duas vezes se eles estavam corretos.

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— Você jura que nunca comeu bombas de caramelos, Severus? Todo mundo em Hogwarts era fascinado por esse doce quando estudávamos. – Narcissa disse, incrédula, sentando-se largada na poltrona ao lado de Severus, que estava de frente para lareira da mansão Malfoy enquanto bebericava seu uísque de fogo, a mesma bebida de Narcissa, que já estava tão alterada quanto ele.

— Já disse que não! Nunca gostei muito de doces. Às vezes experimentava alguns que... você sabe, Lílian me fazia comer porque os achava gostosos demais para serem ignorados – disse ele, deslizando a ponta dos dedos pela borda do copo quase vazio.

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