Severus observava Narcissa adentrar ao grande salão com o bebê em seus braços. O brilho da mulher mudou, a postura também. Tornou-se mãe. Ela parecia nervosa, tentava sorrir ao máximo mostrando os dentes enquanto todos os comensais a recebiam com o filho. Lucius foi para o seu lado, exibindo a criança loira como se fosse um troféu; sorria de orelha a orelha, mas Narcissa estava encantada, parecia em transe ou em um lugar onde só estivesse ela e o pequeno embrulho que segurava. Severus estava sorrindo por dentro, diferente de como transparecia por fora, com toda a sua postura indiferente. Achou bonita a forma como a mulher estava reluzindo. Não tirava os olhos do sorriso dela; admirado.
Voldemort parecia abençoar a criança, bradando para os comensais ali presentes que havia nascido um novo integrante — um novo servo —. Lucius nesse momento cochichou algo no ouvido de Narcissa para que só ela pudesse ouvir. Severus não escutou, mas notou o desconforto da bruxa enquanto sussurrava baixo para o marido, com os olhos arregalados em desespero. Apenas avistou quando o homem loiro retirou a criança do colo da mulher e foi passando-a para os braços de cada comensal. A mãe ficou tão apreensiva que suspirava a todo momento e a expressão de felicidade que tinha quando chegou, sumiu.
Chegou a vez do homem de vestes escuras segurar a criança e ele segurou com todo o descuido possível. Olhou para Narcissa com um certo desespero, como se pedisse ajuda e ela se aproximou. Ia retirar o filho dos braços dele, mas ele desviou de forma quase imperceptível, transmitindo um olhar calmo para ela.
— Está tudo bem. Ele está seguro — disse, com a voz tão cautelosa — que ele mesmo se assustou — como a forma que segurava o desconhecido e a mulher assentiu, mudando o semblante para um muito mais tranquilo dessa vez. Talvez aquele fosse o primeiro bebê que Severus segurou.
Snape viu Narcissa com a criança outras vezes e por sorte, vezes mais leves. Praticamente acompanhou seu crescimento em breves visitas quando Lucius insistia que o homem fosse até a mansão para discutirem as missões que Voldemort instruía.
Em todas as vezes que via Narcissa com Draco, ela parecia feliz e realizada. Toda a sua postura elegante, por mais que continuasse ali, dava lugar a uma mãe totalmente atrapalhada e brincalhona, mas muito protetora e cuidadosa. Achava-a graciosa quando assistia a mesma imitando sons de animais para que o menino sorrisse e no fim, gargalhava junto dele. Também já presenciou a bruxa cozinhar com o bebê em seus braços, com ele enrolando os dedos nas pontas dos cabelos da mãe como se não pudesse se soltar dela em momento algum; viu quando a criança loira se machucou ao pegar a varinha do pai sem que ele percebesse, assim como acompanhou uma briga histérica entre o casal por conta disso; assistiu, em uma de suas chegadas até a mansão, quando Narcissa conjurou seu patrono — um urso-polar — para mostrar ao filho. Então sentiu-se também, amado de alguma forma. Lembrava de Eileen sendo atenciosa assim, como se só ele existisse e ali notou que amor jamais faltaria para o bebê. Talvez tenha sido a partir desse momento que a bruxa de cabelos incomuns percebeu que seguir o Lorde poderia não ser sua sina: quando teve Draco.
Seu flagra favorito, foi em uma noite da qual compareceu à mansão para uma das reuniões com Lucius e quando passou pela sala de estar para retirar-se, encontrou Narcissa embalando seu filho enquanto dançava ao ritmo de um som qualquer que balbuciava para ele, sorrindo largo. Ela estava descalça — coisa que ele nunca vira — e com uma camisola de seda verde escuro que caía até os tornozelos. Severus atrasou sua volta à Hogwarts porque os observou — sem ser visto — por alguns longos minutos.
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Estava tão profundamente entranhada em seus próprios pensamentos que não viu a hora passar. O sol já estava indo embora quando a mulher havia acabado de preparar leite com biscoitos para se alimentar à tarde. Assentou-se na beira da janela da sala, com seu copo cheio do líquido branco em mãos, avistando o jardim e as aves que pousavam em suas flores, que estavam em um movimento calmo por causa do vento. Em algum momento, quando bebericava o leite pouco a pouco, o vento bateu em seu rosto, movendo os fios da franja colada à testa.
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Reminiscência
RomanceNarcissa se vê sozinha após a Segunda Guerra, onde Voldemort foi derrotado, Lucius está preso em Azkaban e Draco de volta à Hogwarts para se formar. Além de sofrer com a solidão, não sabe o paradeiro de seu único amigo: Severus Snape.