Início de uma guerra

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Raoni havia passado uma noite não muito boa em sua oca. Por não possuírem uma televisão, nem rádio, sua tribo não fazia ideia do caos que ele e Os Protetores haviam causado nos quatro cantos do mundo, mas ele sabia de tudo, mesmo que na maior parte do tempo estivesse sob controle de Kairus, o que o impediu de se lembrar de tudo, as lembranças da raiva que ele sentiu quando percebeu que estava sendo controlado pelo vilão, ele o matando ao afundar seu tridente no pescoço dele, a explosão da máquina, a forma rude e desapontadora das pessoas que eles tanto protegiam quando saíram de lá, era muita informação para sua cabeça. Quando acordou, no dia seguinte, o Índio percebeu que o tridente estava brilhando, o que o fez perceber que o artefato estava se comunicando com ele, tentando relembrá-lo de tudo que havia acontecido. 

Além disso, ele também ficou sabendo através do tridente, que as pessoas lá fora, não queriam mais ver os heróis pintados de bronze, fazendo aparecer na mente do herói, as mesmas imagens da passeata que passava na televisão para todos os heróis. Isso o deixou bastante triste também, pois embora ele amasse estar em sua casa, ele também adorava ir para a cidade e salvar vidas. 

Quando se levantou, meio sonolento e chateado, percebeu Aruana indo até ele.

- Raoni, está tudo bem? - perguntou ela.

- Sim, só estou cansado... A missão foi cansativa! - respondeu ele, torcendo pra índia acreditar.

E ela acreditou, pois assentiu e chamou-o para comer. 

A refeição em família, no entanto, foi interrompida pelo Pagé.

- Raoni, temos um problema! - alertou ele, do lado de fora.

- O que houve, Pagé? - perguntou ele, se levantando e deixando a comida ali mesmo.

O pagé então, apontou para um lugar próximo ao rio, onde um índio aparecia com um ferimento bem grande e profundo o ombro direito, o qual possuía algo comprido como um cabo de lança, ainda perfurando o mesmo.

Percebendo a gravidade do ferimento do amigo, Raoni se aproximou e o ajudou a se equilibrar segurando-lhe, enquanto o índio ferido passava o braço intacto pelo ombro de Raoni, que o ajudava a ir até a oca do pagé, já que ele também era um curandeiro.
Depois de alguns minutos, o Pagé finalmente conseguiu tirar o resto da lança, conter o sangue e cuidar do ferimento do índio, embora ele não estivesse curado, ao menos, estava agora fora de perigo. Assustado e intrigado, Raoni não hesitou em perguntar:

- O que aconteceu Jakarta? 

- Lembro de estar no lago, caçando peixes, quando uma lança bem grande parou próxima de mim, quando Jakarta olhou para o lado para tentar me proteger, outra lança perfurou meu ombro - respondeu ele.

- Então Jakarta foi atacado? - quis saber Moacir.

O índio assentiu e então, Pagé começou a examinar a lança. Depois de alguns minutos, ele os olhou.

- É uma lança pantaneira! - disse.

- Achei que os pantaneiros fossem nos deixar em paz! - reclamou Janaína.

- Moacir sempre disse que aquele povo sempre mente! - disse Moacir.

- E o que faremos com isso? - perguntou Jakarta.

- Iremos contra-atacar! - disse Aruana.

Todos, menos Raoni, concordaram.

- Como assim filho? Seu amigo, um índio de nosso povo se feriu gravemente e não quer dar o troco? - indignou-se Moacir.

- Pai, o senhor vive nesse lugar há muitos anos, mas esse tempo que passei lá fora da floresta, salvando pessoas da cidade grande, o senhor não sabe o que eu vi, ouvi e aprendi - enfrentou-lhe o jovem índio - Um desses aprendizados é que, apesar de nossa cultura diferente, somos iguais em um aspecto: temos sempre motivos para nos rebelar! Se aquele povo pantaneiro prometeu nos deixar em paz e agora está nos atacando, tem que ter um motivo e eu vou descobrir! 

- Descobrir? - falou Aruana - Quer dizer que está querendo ir para o bioma vizinho?

- Tá maluco Raoni? Você vai morrer! - disse Jakarta.

- Não vou não, eu consigo descobrir o que está havendo! - bufou Raoni, se levantando.

- Raoni, sei que é o novo líder, mas é arriscado demais! - falou Janaína, tentando fazê-lo mudar de ideia.

Mas Raoni estava determinado a dar um basta naquilo tudo, queria tirar a história a limpo. Assim, virou as costas e saiu da oca do pagé indo até a sua para pegar seu tridente. Quando saiu, sua tribo não estava mais na oca do pagé, mas pelo movimento, dava pra perceber que eles estavam desobedecendo as ordens do índio e pretendendo ir até o Pantanal para começar a guerra mais uma vez. Com isso, Raoni percebeu que precisava ser rápido, ele tinha que encontrar as respostas e entregá-las ao seu povo antes que eles invadisse o bioma vizinho. Para ser mais rápido, então, usou o tridente para sobrevoar pelos céus. Admirando a grande e bela paisagem que a Amazônia tinha, os rios, o céu azul misturado com o verde das árvores davam-lhe uma visão tão magnífica que ele nunca fora capaz de perceber. Para ele, aquilo era benéfico, pois graças ao tridente, era o único índio capaz de voar. E ver aquela paisagem quase o fez perder o foco e passar direto pelo lugar onde queria.

Pousando no chão, começou a caminhar pelo local mais denso da floresta, as árvores eram mais próximas, os raios de sol quase não batiam no chão, mas Raoni precisava ir até lá. Uns dois passos à frente e ele chegaria no Pantanal. Respirando fundo, estava prestes a dar o primeiro passo quando sentiu a presença de alguém atrás de si. Começou a girar seu corpo, dando voltas incessantes, até ouvir um som de cobra próximo à árvore.

- Boiuna, que susto me dera! - reclamou ele, abaixando a guarda e virando-se para ela  - O que faz aqui?

Boiuna, então, foi se transformando novamente em mulher. Mas Raoni logo percebeu que ela não estava com uma cara de satisfeita, parecia reprovar sua decisão de ir até o Pantanal.

- Eles machucaram você? - perguntou, mas a mulher fez que não - Você viu quem foi que atingiu Jakarta? - ela novamente fez que não - Então qual o problema?

Boiuna não respondeu, apenas olhou na direção densa da mata. Raoni suspirou.

- Olha, eu sei que você está com medo de acontecer algo comigo, mas não se preocupe, eu tenho meu tridente para me proteger. Se disfarça de cobra e se esconda, caso eu precise de ajuda, te chamo - pediu ele, entrando mata adentro sem esperar Boiuna responder.

Depois de entrar no bioma pantaneiro, o tridente brilhou e ele começou a ficar atento, pois isso significava perigo. E ele não estava errado, pois logo uma lança surgiu e por pouco, não o acerta. Raoni conseguiu se aproveitar de seus reflexos sobre-humanos e desviou da mesma. Que fincou no tronco de uma árvore.

- Droga... - bufou ele.

Logo, ele se lembrou do dia anterior, quando houve a guerra dos soldados de Kairus contra os heróis e seu tridente fez um campo de força impenetrável que impediu ele de ser acertado pelas balas do Alicate. Assim, ele fez o mesmo, ativando o campo de força, que logo impediu ele de ser acertado por outras lanças e flechas que viriam a seguir. Os pantaneiros escondidos, vendo aquilo, se esconderam, com medo do índio fazer algo com eles. 

Raoni só desativou o campo de força quando enxergou a cabana da pessoa que ele mais precisava conversar. Parando alguns metros na frente da porta, tomou coragem:

- NINA!! - chamou ele, esperando ela aparecer.


Índio Feroz - Coração GuerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora