Sobre o amor

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Ana Clara Caetano

 Eu não acredito não nesse negócio de amor que acaba. Eu acho que amor não acaba não. Não é coisa de acabar. É coisa de se transformar mesmo. Igual, sabe quando a gente diz que na nossa casa existe uma fenda no espaço tempo, onde moram todas as lixas de unha, todas as meias e todos os clipes e todas as pilhas? Eles tão ali dentro da casa da gente, só que a gente não consegue ver, a gente não consegue acessar. A gente só sabe que tá ali. Eu acho que no nosso coração é do mesmo jeito. Existe esse mesmo espaço que a gente não consegue ter acesso, mas que moram todos os nossos sentimentos perdidos. E todos eles ficam fazendo coisas na gente que a gente nem imagina. E é nisso que eu acredito.

- Buuuuh! - Grita, Vitória por trás de Ana, a assustando. - O que tu já anda pensando aí heim Ninha? - Sentou na minha frente no sofá.

- Vitória, eu poderia te matar agora - Fala com o tom de raiva, logo acompanhada por um riso - Mas, eu preciso do meu duo - Diz Ana, pegando as diversas folhas espalhada por cada canto do sofá, reunindo em ordens e ordens. - Tava pensando...

- Pensando? - Vitória fez um gesto com a cabeça confusa, esperando que ela continuasse.

- Se o amor, um dia realmente acaba.. - Ana, sem nenhum contato visual com Vitória, continua organizando as folhas, sem mais saber o que realmente estava fazendo.

- Por que isso Ninha ? Porque esse pensamento agora? - Vitória segura na suas mãos impedindo que Ana tocasse novamente naquelas folhas de papéis e olhasse em seus olhos - Tu acha que aqui - Segura a mão da Ana levando até seu coração - Morreu alguma coisa? Ele continua batendo Ninha.

- Meu Deus, parece que seu coração vai sair a qualquer momento pela sua boca - Ana rir nervoso. - O teu coração continua vibrando e dançando como uma escola de samba. Mas, você sabe que não é isso que quero dizer...

- Então, me explica Ninha. Porque eu num tô entendendo mais nada - Respira fundo - Você quer dizer que, o que eu sinto aqui - Levando a mão ate seu coração - Não é mais o mesmo?

- Não é isso Vi - Ana levanta do sofá, novamente pegando as folhas e guardando em uma pasta. - É que o amor pode se transformar, só isso.

- Ana...- Vitória diz, sem entender ainda direito cada frase - O nosso amor, ele se transformou?

- Vitória já são 6 anos. Tu num acha? - Ana, olha no fundo do olhos de Vitória, é como se o brilho que havia ali, tivesse sumido.

- Eu acho Ninha que...- Vitória, se aproxima, tirando os cabelos de Ana dos olhos e o tocando seu rosto, seus rostos cada vez mais perto, seus corpos como uma irma puxando pra cada vez mais perto - Que eu...

- MENINAS - Um grito alto, sai da cozinha de Ana, fazendo com que nos assustasse e afastasse imediatamente. - Porque essa cara ? - Pergunta Isadora, olhando pra nós duas agora sem entender.

- E que eu tava contando pra Vitória que tô tão ansiosa pra tudo que vamos viver nessa turnê Isa - Ana muda de assunto, se afastando. - Porque gritou a gente desse tamanho, acordou todos os vizinhos.

- MEU DEUS - Agora foi a vez de Vitória, olhar pra mim assustada, algo atrás de mim estava estranho demais. - Parece que num vai ter mais turnê não Ninha - Vitória diz com a boca aberta aportando pra trás de mim.

- MANTEIGA - Meu coração disparou a mil. - EU NÃO ACREDITO NISSO - Ana corre atrás de Manteiga, enquanto ele simplesmente corre com os nossos figurinos novos na boca e rasgado ainda por cima.

***

Eu e Vitória se conhecemos no colégio em que estudávamos juntas e criamos uma amizade que uniu nossos desejos e talentos e seguir em busca de um sonho. No começo, em 2013, produzimos vídeos para a internet interpretando canções do nossos artistas favoritos, no sofá daqui de casa, ou as vezes até no sofá da casa de Vitória. O importante era que os vídeos fosse pro mundo, da maneira mais linda que existisse. Diante disso, nos alto e baixo da vida. Jamais imaginamos que hoje estaríamos vivendo uma das segundas maiores turnê do nosso trabalho.

A turnê cor, veio recheada de cor, igual o céu no final da tarde em Araguaína. Cores como amarelo, azul e branco, deixava a cidade ainda mais linda.

Hoje, seria o nosso primeiro show após pandemia. O nervoso, a ansiedade, tomava conta de todo o meu corpo. Enquanto, Vitória estava plena, como se nada tivesse acontecendo.

- Vi, tu tem noção - Corro, gritando no seu ouvido igual ela fazia no meu - Que é hoje? - Ela solta uma gargalhada. A gargalhada mais gostosa que já escutei em toda a minha vida.

- Eu tenho Ninha, será que nossos fãs sabe cantar nossas músicas todinha do álbum? - A típica, pergunta que Vitória faria em um momento que eu já estava morrendo de nervoso.

- E bom eles saber viu - Vitória, liga nossa caixinha de som - O que tu tá fazendo menina?

- Ensaiando Ninha, vai que até eu esqueça as letras - Vitória rir da minha cara, agora mais que nunca. - Eu não tô ansiosa, eu tô e nervosa...

Chegou a hora. As cores das nossas composição, chegará em cidade em cidade. O mundo será enfeitado pela nossas cores. 

Deixa eu me apresentar
Que eu acabei de chegar
Depois que me escutar
Você vai lembrar meu nome
É que eu sou dum lugar
Onde o céu molha o chão
Céu e chão gruda no pé
Amarelo, azul e branco

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