Gancho estava controlando uma corrente de ar para fazer uma bola de papel amassado flutuar alguns centímetros sobre sua cabeça, o que era muito mais difícil do que parecia. Gotas de suor escorriam de suas têmporas e costas. Olhava quase fixamente para a bolinha, uma parte irritante de sua mente levava constantemente sua atenção para Wendy, que encontrava-se sentada em cima de sua mesa com as pernas cruzadas, amassando outro papel. Ela tinha prendido seus cabelos num rabo de cavalo com uma fita azul, que deixava alguns cachos soltos sobre as orelhas, testa e nuca, depois da primeira hora de treino, estavam próximos da segunda agora. Com a concentração dividida entre não deixar a bola cair e a bruxa, não reparou as intenções dela com o papel que estava amassando, até que o acertou no nariz e fazendo-o derrubar a bolinha que estava equilibrando.
‐ Mais que bela professora você é, agredindo seu charmoso aluno dessa maneira - o capitão encenou sua melhor cara de mágoa e a bruxa revirou os olhos.
‐ Bom, do jeito que você estava prestando atenção em mim pensei que veria isso vindo - ela estalou os dedos e um par de sombras seguravam os papéis no centro da sala - Não espere um aviso antes de uma bruxa, ou de qualquer um, antes de lançar um projétil em sua direção.
Foi a vez de Gancho revirar os olhos com a informação óbvia e Naná, que estava sentada na cadeira dele, latiu como se o encoraja-se a tentar novamente.
‐ Quero que faça isso ‐ Wendy fez os papéis darem uma volta ao redor da sala, então os colocou no chão em frente a Gancho.
Exibida!
Antes que tivesse a chance de tentar alguém bateu na porta.
‐ É bom os dois estarem vestidos ‐ Ching Shih gritou do outro da porta, antes de escancara-la e entrar seguida por Demétrius.
A mestra de armas tinha traços asiáticos, a mesma altura de Wendy, olhos pretos e cabelos lisos da mesma cor, cortados na altura do queixo.
‐ Já desocupou ela? Não vejo a hora de conhecer melhor nossa querida bruxinha ‐ Shih abriu um sorriso conspiratório.
‐ Capitão, preciso que confira o curso para a Terra do Nunca antes de começarmos o percurso - disse Demétrius.
O mestre de navegação não era muito alto, tinha a pele marrom, cabelos pretos curtos e olhos azuis escuros.
‐ Certo, vamos lá ‐ respondeu Gancho.
‐ Ótimo, vou mostrar o navio para Wendy ‐ anunciou Ching Shih.
Wendy, com um lindo sorriso de merda adornando os lábios e uma luz de diversão cintilando em seus olhos, pulou da mesa, entrelaçou o braço com a mestra de armas e saiu da cabine.
Pelas marés, teremos sorte se essas duas não começarem um motim.
✨
Wendy havia visto o convés, uma ampla sala de navegação, que possuía os sistemas e mecanismos que permitam o Jolly Rogers voar (que ela nem se deu o trabalho de tentar entender), um sistema para navegar o navio por dentro, que contava com espelhos encantados para ver a direção que seguiam e um para manter a água do navio em movimento para não estragar, não era atoa que tinham poucas cabines com um navio daquele tamanho, havia uma para o capitão, uma para Kony e Shih, que por serem as únicas mulheres na tripulação não tinha que dividir espaço com os outros, e uma maior para o restante da tripulação. Também havia uma sala para as refeições, que era interligada à cozinha, os porões, a enfermaria, um arsenal e os corredores de canhões, que era onde a ladra se encontrava.
Havia dois corredores de canhões, salas retangulares compridas cheias de canhões e alguns barris de pólvora, com várias janelas para atirar e mirar, um a bombordo e outro a estibordo (esquerda e direita de um navio, respectivamente, ela descobriu). Shih estava explicando como funcionavam para a ladra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Ruína da Terra do Nunca
FantasiaUma releitura de Peter Pan. Wendy Darling, uma bruxa residente na periferia londrina que, após a morte de sua mãe precisa cuidar sozinha de seus dois irmãos, John e Michael. Para isso ela se torna uma ladra. Se escondendo nas sombras e criando ilusõ...