A Ruína da Terra do Nunca

Capítulo 1

Wendy se movia silenciosamente pelas ruas. Mantendo se fora da luz dos postes enquanto perseguia seu alvo. Um respeitável membro da alta sociedade inglesa e sua esposa, saindo para um agradável passeio noturno. Enquanto se esgueirava pelos cantos para ficar fora de vista, Wendy pensava nas várias coisas mais agradáveis que ela poderia estar fazendo com o próprio tempo ao invés de perseguir nobres esnobes que provavelmente perderiam as carteiras para uma criança.

Esta não era para ser uma noite de trabalho, Wendy poderia ter voltado para casa e jantado com os irmãos, poderia ter passado a noite em uma taverna com Marlene e talvez depois segui-lá para seu quarto. Teria até mesmo preferido ouvir Naná guiar um coro uivante dos caninos da periferia londrina a escutar os recortes da conversa fútil e mesquinha do casal a sua frente,não que estivesse se esforçando para fazer isso. Ela era capaz de ampliar seus sentidos, podia ver melhor no escuro que a maioria e projetar tanto sua audição quanto a visão, mas mesmo quando não estava fazendo isso seus sentidos eram mais sensíveis que o normal.

Conforme essa linha de raciocínio avançou a ladra então se lembrou do motivo de ter começado a persegui-los em primeiro lugar. Ruas atrás o casal em questão passou por uma jovem de aparência surrada que estava andando sozinha à noite e o respeitável casal não podiam seguir seu caminho cuidando das próprias vidas. Não, eles precisam humilhar a mulher que era, na visão deles era inferior, e socialmente considerada inferior só por ter nascido com um útero.

Esse era o tipo de situação que fazia o pavio não tão longo de Wendy encurtar. Principalmente porque se ela não soubesse lutar, se não tivesse se recusado a sentir luto e mantido ela e os irmãos vivos depois da morte de sua mãe, se não soubesse controlar seus poderes, domando as sombras e andando por elas,criando ilusões tão reais que enganava mais que só a visão de suas vítimas, se fosse uma bruxa apenas um pouco menos habilidosa poderia estar na mesma situação.

A ladra se aproximou quando o casal dobrou a esquina, estava apenas a alguns passos de distância quando ouviu os gritos.

Poucos metros a frente, três guardas estavam abordando uma mulher que aparentava ter por volta de 30 anos, mas a mulher não foi a primeira coisa que Wendy reparou. Assim que ouviu o grito seus olhos pousaram nos uniformes que os oficiais usavam, azuis como os olhos dela. Membros da Caçada às bruxas.

Merda.

Quando os reconheceu, Wendy imediatamente escorregou para as sombras. A ladra estava pronta para dar meia volta e sumir, seria a coisa mais sábia a fazer. Mas não foi o que ela fez. Mesmo que quisesse a ladra duvidava de que pudesse dar as costas para a mulher, ela provavelmente não era uma bruxa, mas Wendy não deixaria outra pessoa ser levada pela Caçada se ela pudesse impedir, não de novo.

Wendy respirou fundo, imaginando o que os guardas veriam e se preparou para a potencial loucura que estava prestes a fazer.

A Caça às Bruxas era uma ordem criada pela coroa para combater as bruxas espalhadas pelos domínios da Inglaterra. Formada por soldados altamente treinados, os caçadores eram lutadores de elite, destemidos, intimidadores e incrivelmente inúteis. O esquadrão de tolos,que nem desconfiavam da possibilidade de bruxos, raramente capturavam uma bruxa. Raramente, ela sabia melhor do que gostaria. Outro grito da mulher trouxe Wendy de volta a realidade.

De onde os caçadores estavam, eles viam um casal bem nascido, a julgar pelas vestimentas, seguindo seu caminho para casa. Eles viram uma figura se esgueirando pelas sombras, viram a figura encapuzada abordar o casal, roubar seus pertences e fugir pela direção que o casal tinha vindo. Dois deles correram atrás do ladrão o mais rápido que podiam antes que ele desaparecesse de vista, o terceiro ficou para vigiar a bruxa e conferir se os nobres não tinham se machucado. Depois de garantir que o casal estava bem, ele se voltou para a bruxa, mas ela havia sumido. O caçador, amaldiçoando-se por sua tolice, foi atrás de seus companheiros que estavam perto de encurralar o ladrão. Pelo menos a noite não seria um fracasso total.

Wendy se apoiou na parede atrás de si, sua cabeça já estava começando a doer pelo uso dos poderes,mas precisaria manter a ilusão por mais alguns minutos. O casal, que a perda das posses não tinha sido ilusão, tinham seguido seu caminho. Uma coisa a menos para me preocupar, pensou a ladra. Ainda oculta pelas sombras a ela chegou perto da mulher acusada de bruxaria e disse apenas:

-Fuja.

Wendy deu as costas para a possível bruxa e seguiu seu caminho. Ainda tinha trabalho a fazer.