É realmente tudo novo?

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E por falar nela, a insensatez é minha companheira há alguns anos.

Enquanto eu digito e apago a história que eu estou prestes a contar para vocês, eu deveria me apresentar. Na verdade, eu já deveria ter feito isso há um bom tempo, certo? 

Meu nome é Linda. Eu tenho 20 anos e morava no Brasil até ontem. 

Meus pais, Júlia e François se conheceram em um churrasco na casa de uma das amigas da mamãe, Beth. Papai nasceu nos Estados Unidos e foi até o Brasil pra fazer um intercâmbio.

 Você não achou que ele era francês só porquê se chama François, né? 

Papai foi até a cozinha e mamãe comia um brigadeiro escondido de todo mundo, de acordo com ele, no momento em que ele viu minha mãe sentada no chão comendo algo duvidosamente gostoso e viu o canto da boca sujo de chocolate, não resistiu e pediu um pouco de ''brIGUALdeiro''. 

Eles me contaram essa história 20 vezes, a cada ano da minha existência. E eu morri de rir em todas elas.

Depois de dividirem o prato, ela contou sua história pra ele, e ele, a dele. E depois eles se apaixonaram perdidamente, e assim estão até hoje. 

Ah, devo ressaltar que papai disse que tinha eclipse naquela noite, mas cá entre nós, eu realmente acho que foi só pra aumentar o meu grau de exigência se tratando do amor. 

No meu último aniversário, eu escolhi de presente uma viagem pra Miami. É a terra natal do papai e eu queria conhecer a família dele.

Passei 9 longas horas dentro de um avião, comi todas torradas que as comissárias me ofereceram, inclusive as que caíram no chão.

 Eu não precisava ter mencionado isso, mas é bom que a gente já cria uma certa intimidade. 

Meu celular sobrevivia com aparelhos, e a cada hora que passava o carregador portátil esquentava mais. Enquanto eu observava a vista da janela eu acabei observando demais o senhor que colocava a cabeça na frente da vista já que eu estava sentada na poltrona que dava pro corredor e ele roubou a janela de mim, eu fiquei com medo de que ele acordasse e me visse olhando pra ele e foi exatamente quando eu me toquei que eu deveria ceder a completa inércia e acabei dormindo.

Acordei com o lado direito do rosto inchado e meu rímel parecia uma perna de aranha. Mas eu finalmente estava em solo estadunidense. 

Eu tinha vontade de sair empurrando todo mundo, mas como vivemos num mundo parcialmente civilizado eu desceria direto pra uma salinha cheio de agentes da polícia, e cá entre nós, uma salinha nunca é um bom sinal. 

Eu me comportei e esperei as pessoas saírem, comecei a procurar o setor de malas e enquanto eu esperava avistar a única mala rosa naquela esteira gigante, meus olhos começaram a vagar pelo aeroporto que mais parecia um shopping center. Espera ai, você ainda tá me julgando pela mala rosa? Qual é? foi a mamãe que escolheu. 

Peguei minha mala, e decidi comprar algo pra comer. Eu queria um pão de queijo, nem que fosse 70 dólares, eu realmente queria um pão de queijo. No fim das contas, eu acabei comendo um croissant de queijo e um café. Enquanto eu soprava meu café, eu avistei algo que me fez procurar no google se jet lag provocava alucinação. 

A alucinação deveria ter 1,85 de altura, cabelos lisos e pretos como a noite, a pele branca como um azulejo e usava calça de alfaiataria e anéis nos dedos. 

Quando sai do transe, percebi que minha boca estava aberta suficiente pra entrar uma mosca e então eu subitamente, a fechei.


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