Tudo parece estranhamente confortável.

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- ''104,105,106,107,109, não, espera. Eu perdi a contagem.'' 

Eu estava sentada em um sofá de camurça e com os pés sob um tapete de estampa de vaca, zebra, zoológico, só Deus sabe de qual animal era aquela estampa. Já havia contado toda decoração daquele teto, e bebido 2 taças de chardonnay. 

Eu geralmente levo um tempo pra tomar nota de alguém, mas no momento em que eu cheguei naquela casa eu não tive outra opção além de julgar aquelas pessoas.

Os miller pareciam estátuas de gesso. As risadas eram calculadas e todo mundo ficava calado pra ouvir o matriarca fazer piadas de mau gosto com alguém. A comida era um filézinho mixuruca que mais parecia uma folha de papel, vinha com um pedaço de grama em cima e tinha verde, muito verde. 

Tio John e Alfred Miller saíram para o cais do lado de fora da casa, deixando as mulheres na mesa da sala de estar. 

Mariah e Alice conversavam a respeito de como Dolce e Gabbana desciam degraus da moda a cada desfile. E eu? Orava silenciosamente pelo arrebatamento. 

Olhei pra Anne e percebi que ela piscava o olho esquerdo e apontava a cabeça pra uma direção. Cheguei perto com calma e sensibilidade e perguntei:

- ''Você tá passando mal?'' 

-''Eu só tava tentando te avisar que nós vamos sair daqui.'' - Disse Anne.

-''Meu Deus, menina! Melhora isso. Eu quase gritei perguntando se alguém aqui era médico.'' - Disse.

-''HAHAHAHA! Linda, minha vontade é te deixar aqui depois dessa.'' - Disse Anne.

- ''Se o seu irmão pecar contra você 70 vezes, perdoe.'' - Eu disse.

-''Idiota! vamos.'' - Anne.

Entrei no carro sentindo um cheiro horroroso de maconha e comecei com uma tosse persistente de cachorro.

- ''Quem é o usuário? eu não ando com pessoas assim.'' - Disse.

- ''Seu primo!'' Disse Will com um cigarro desconhecido na mão e os olhos vermelhos feito olhos de coelho. 

- ''Deus do céu!'' - Disse assustada.

- ''Quer dar um tapa, gatinha?'' - Perguntou Will.

- ''Eu sou cristã.'' - Disse séria.

-''E eu também, prima. Por isso aprecio tudo que Deus criou hehehehe.'' - Disse Will.

- ''Ainda bem que você o aprecia, porquê se eu for presa por sua culpa, adivinha? você vai conhecer ele mais cedo.'' - Disse.

- ''Aqui.É.Legalizado.'' - Disse Will, pausadamente. 

-''Saco! queria tanto ver você num camburão.'' - Disse.

- ''Gente?? vamos?'' - Perguntou Anne.

Will parou em um posto de gasolina que ficava próximo a praia. Tinham vários carros parados na conveniência, e aparentemente os herdeiros de toda Hamptons estavam ali. 

Tinham algumas meninas dançando na carroceria de uma caminhonete, copos vermelhos jogados no chão (é, exatamente aqueles que aparecem nos filmes), carros luxuosos e muita gente.

Desci do carro e senti meu estômago dançar no ritmo da música. Eu tava com muita fome. 

- ''Tô com fome.'' - Disse.

- ''Eu também, linda.'' - Disse Adam.

- ''Eu também.'' - Disse Anne.

- ''E eu mais ainda, gente.'' - Disse Will.

Will pegou na minha mão e fomos em direção a conveniência. Eu entrei e peguei 3 pacotes de salgadinho. 

- ''Vai ser isso?'' - Perguntou Adam.

- ''Pra mim sim, e pra você?'' - Respondi.

- ''Jesus, mulher! O bife a la nota de dinheiro não te encheu não?'' - Perguntou.

-'' Te encheu?'' - Perguntei.

-''Não, eu entrei dentro da cozinha e comi um pão que eu achei lá. Linda, não tinha nem recheio, mas eu comi.'' - Disse Will me fazendo rir. 

-''Vou pegar algo pra beber. O quê você quer?'' - Perguntei.

- ''hmmm...cerveja!'' - Disse Will.

Fui em direção ao freezer e peguei algumas cervejas e uma pepsi pra mim. Quando eu estava indo em direção ao Will eu paralisei igual água parada da dengue. Só poderia ser as taças de Chardonnay, era a única explicação viável. 

- ''AAAH! Linda, vem cá!'' - Disse Will puxando meu braço. ''Esse aqui é Luke, Luke miller.''

- ''Oi! Prazer em conhece-lo.'' - Disse estendendo a mão...

 PARA O SR. ALUCINAÇÃO QUE EU VI NO AEROPORTO. 

- ''O prazer é todo meu!'' - Respondeu sorrindo.

Senhor, se há 50 minutos eu pedi um arrebatamento, agora agradeço pelo senhor não responder a todas as minhas orações. 

Ele era lindo. Simplesmente, lindo.  Eu tenho certeza que a origem da palavra lindo veio do hospital de onde ele nasceu. 

- ''Esse é Craig, esse é Thomas, e esse é Samuel.'' Disse Will apontando aos rapazes que estavam junto com Luke.

- ''Oi meninos, prazer em conhece-los. Sou Linda.'' - Disse acenando feito uma foca. Uma foca sem graça e com medo de esquecer como andava com aquele tanto de homem perto.

- ''Eu pago.'' - Disse Will.

Saímos da conveniência e ficamos encostados no carro conversando. Os meninos eram legais e eu me sentia confortável perto deles, confortável até demais.

Tomei algumas cervejas e aquilo me deixou animada suficiente pra eu começar a rir verdadeiramente. E isso significa que eu comecei a rir similar a uma gazela.

- ''Vamos descer lá pra praia?'' - Sugeriu Will.



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