What is love?

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 Entrei numa biblioteca que ficava a algumas quadras da casa do tio John. Desde que a gente voltou, tudo parecia um maravilhoso caos.

O melhor amigo do tio John, Caleb, se envolveu em acusações de fraudes estando na liderança da filial em Miami. 

Comecei a procurar alguns livros de romance, e enquanto passava pelas seções, me deparei com uma plaquinha com o título bem grande e em relevo: ''Auto Ajuda''. Ri sozinha imaginando que seria vergonhoso se alguém me pegasse ali, mas, quase que instantaneamente recobrei minha consciência e fui até lá. Ajuda nunca é demais.

Sentei numa mesa que ficava de fora da biblioteca, e pedi um café expresso pra tomar. O dia estava lindo. Quente, com ventos fortes e a minha vista era a praia. Se eu reclamasse de alguma coisa, Jesus me puxaria.

Coloquei o fone de ouvido e cruzei os dedos pra tecnologia adivinhar o quê eu queria ouvir, e ela acertou.

- Wicked Game - Chris Isaak 

(A versão com a Gemma Hayes também é linda! <3 )

Comecei a folear o livro e acabei me perdendo nos meus pensamentos.

Me lembrei do meu antigo relacionamento, das coisas que eu gostava nele, nos momentos em que vivemos juntos, nas crises de risos, nos beijos com saudade, nos sentimentos que floresciam pela primeira vez dentro de mim e quase que por um instante eu me esqueci do quanto me quebrou em pedaços.

Acho que a nossa mente tenta de alguma forma deixar as coisas mais bonitas pra evitar que o estrago seja grande demais. Mas, ao mesmo tempo, quando ela faz isso nos deixa vulneráveis o suficiente pra voltar pra aquilo que nos feriu. Estranho, não?

Parei meus olhos em uma frase que me chamou atenção:

''Precisamos mesmo ter alguém do nosso lado? Ou usamos isso para alimentar nosso ego frágil?'' 

Eu não sabia responder.

Também, não sabia o que significava o amor. 

Como você sabe se já amou alguém? Quando você fica preso naquilo que te fere, não fica porquê ama, fica porque se agarra naquilo que criou sobre a pessoa. 

Eu cresci com um exemplo de amor dentro de casa, meus pais. Foram únicos na vida um do outro. E como isso era possível? Eles se amavam porque não tinham sido feridos antes o suficiente a ponto de se tornarem céticos quando se encontraram? Ou de alguma forma encontraram a receita de uma poção mágica que os fez perdoar os erros um do outro e como uma amnésia permanente não lembravam mais da dor?

Era muitas perguntas nessa cabeça grande. É sério, eu tenho um cabeção. 

Terminei meu café, e fui embora caminhando bem devagar apreciando cada pedacinho daquela cidade.

Comecei a ouvir um assovio e estava atrás de mim. E eu só pensava que agora era o momento perfeito pra algum anjo vir me buscar. Eu não ia contar pra ninguém no fim das contas.

- ''Linda!''

Pai do céu. 

Eu orei em voz alta e decidi encarar. Tirei a chaves do meu bolso e virei com tudo na direção que vinha o som.

- ''Sa..sa..samuel?'' - Perguntei vendo Samuel num porsche  911 carrera vermelho. Eu abri a boca como se fosse cantar ópera. Sinceramente, desse jeito não têm como não ser interesseira. E eu tô rindo enquanto escrevo isso em você, querido diário. E a única razão pela qual eu escrevo, e que eu desabafo e ninguém me julga.

- ''Uma vez me disseram que latinas costumam a riscar o carro do cara com uma chave. Eu acabei de confirmar isso. É como se eu estivesse no filme velozes e furiosos e você fosse a Let, uau!'' - Disse Samuel me fazendo rir.

- ''O quê você tá fazendo aqui?'' - Perguntei.

- ''Primeiro abaixa a chave.'' E eu abaixei depois de perceber que eu apontava a chave na direção dele como se fosse uma faca. 

- ''Abaixei.'' - Disse e Samuel riu.

- ''Tô dando uma volta por aqui enquanto meu pai é devorado pelo seu tio igual hiena é devorada por leão.'' - Samuel.

- ''Seu pai é o Caleb?'' - Perguntei.

- ''O bom e velho Sr. Caleb.'' - Samuel.

- ''Eu sinto muito por isso, Samuel.'' - Disse.

- ''Se quiser fazer algo por mim, entra aqui e vamos dar uma volta.'' - Samuel.

- ''Você não vai me sequestrar não, né?'' - Disse.

- ''Você usa chave como faca, enfrentou a Tiffany que parece a Regina George de meninas malvadas, se alguém aqui for fazer alguma coisa, esse alguém é você.'' - Samuel.

- ''Você é observador.'' - Disse entrando no carro. - ''Onde vamos, Sam?'' - Indaguei. 

- ''Gosto da forma que a nossa intimidade cresce. É igual um bolo, antes a massa tava fina, e você apontou uma chave pra mim. Agora que eu acrescentei um pouco de polvilho, ela cresceu e eu sou chamado até de Sam.'' - Disse.

- ''Se você colocar polvilho no bolo, ninguém come. E ainda jogam a massa em você. Não é polvilho, é fermento, anta.'' - Disse dando um tapa na cabeça dele.

- ''Nosso amor tem falhas, mas ainda vai ser um bolo lindo.'' - Samuel.

- ''Vai ser a primeira vez que você vai ver alguém pular de um carro em movimento. '' - Disse o fazendo gargalhar. 

Ele colocou ''Heat Waves - Glass Animals'' pra tocar e aumentou o som.

- ''Gosta dessa?'' - Sam.

- ''Eu AMO essa música! Me dá seu óculos.'' - Disse pegando o óculos do rosto dele.

- ''Eu tenho a visão sensível, sabia? Já notou que a cor dos meus olhos é a mesma que tem no céu? cara, eu sou muito especial.'' - Sam.

- ''A minha também. A diferença é que a cor dos meus olhos, é a cor do céu á noite.'' - Disse e ouvi Sam rindo. Ele se inclinou e abriu o porta luvas pegando outro óculos e acelerando o carro. 

A sensação de ter o cabelo voando (mesmo sabendo que ficaria mais embaraçado do que cabelo de boneca na mão de criança de três anos) a música alta tocando, a velocidade do carro e a vista da praia era impagável. 

Olhei pro lado, e acabei observando o Samuel mais do quê o esperado. Se meus olhos fossem um raio-x, essas horas ele já tinha tido uma mutação no DNA.  

A blusa branca ia até o cotovelo. A correntinha de ouro era bem singela e tinha um pingente de crucifixo. Ele é cristão. Pensei, e voltei pra análise. O cabelo loiro milimetricamente cortado em camadas, o óculos marrom, a boca grande e vermelha contrastava com a pele branca o excelente gosto musical e o jeito que segurava o volante..

Eu por um acaso estou no cio? 

Repreendi meus pensamentos e voltei meus olhos pro mar. Era isso que eu precisava, água. 

- ''Chegamos.'' - Disse Sam estacionando o carro próximo a praia. 

- ''Eu não tô de biquíni.'' - Disse.

- ''Vamos numa praia de nudismo.'' - Disse sério.

- ''AHAHAHAHAHAHAHAHA! Cadê a chave? eu vou te furar agora!'' - Disse procurando a chave.

Sam riu alto e tentava recuperar o fôlego colocando a mão na barriga. 

- ''Jesus Cristo! você é um ser humano louco. Não tem praia de nudismo, eu vou te levar até meu barco.'' - Sam.

- ''Aí fica mais fácil me matar, né? Depois é só jogar meu corpo em alto mar e pronto.'' - Disse.

- ''Você assiste documentário criminal?'' - Perguntou.

- ''Uhum. Até pegar no sono.'' - Respondi.

- ''Nosso destino é o casamento.'' - Disse me fazendo rir. 

Como eu queria que a vida fosse.Onde histórias criam vida. Descubra agora