Me sentei na areia da praia de Icaraí. Ali permaneci. Olhando suas redes sociais pelo meu perfil falso. Você tinha me bloqueado na minha principal. Certamente, não aguentava mais o tanto de mensagens que enviava. E com razão. Eu estava desesperada. Talvez ainda esteja. Mas a psicóloga me ajudou um pouco.
Eu tenho noção das minhas razões para agir assim. Eu sei exatamente como começou, como se desenvolveu e como terminou, mas é difícil aceitar. Difícil lidar com a sensação de que eu aparentemente perdi o que nunca tive. Aparentemente não. Eu perdi. E é difícil pra caralho lidar com isso. Não é fácil lembrar do quanto eu achei que poderíamos dar tão certo, assim como não é fácil lembrar de Mateus me dizendo que você está namorando o Léo há quatro semanas.
Eu vi no seu Instagram. A foto que você já tinha postado com ele antes de nos conhecermos. Provavelmente, ela foi arquivada, e ontem, desarquivada. Percebi que foi ontem quando você desarquivou porque, todas as vezes que olhei seu perfil, durante todos os dias precedentes a ontem, eu não tinha visto essa foto. A fotografia perfeita em que vocês dois estão abraçados, sorrindo, felizes e sentados numa mesa de um restaurante - pelo visto, caro o suficiente pra ter feito vocês dois se arrumarem bastante. Caro que nem você. Que nem sua beleza. Que nem seu charme. Que nem sua covardia. Que nem você. Linda. Deusa. Vênus. Egoísta. Insensível.
Mas achei curiosa a legenda de uma foto que parecia tanto uma confraternização de casal:
"Tão bom te rever, amigo!" E um coração vermelho. Você não me enviava corações vermelhos. Só azuis. Sua cor favorita. A cor mais quente.
Fecho os olhos. O céu e o mar estão azuis. Minha blusa é azul. Puta que o pariu.
Dormi pensando na legenda. Dormi querendo me convencer de que Mateus se enganou e que, por raiva de ego ferido, inventou a história de vocês estarem namorando só pra me chatear. Ou melhor, não dormi, porque eu não resisti à tentação de ficar rolando sua página do Instagram por horas e horas e horas... Eu já sabia cada cor, cada pose, cada ângulo de cada uma de suas fotos. Eu olhava tanto pro teu rosto que podia vê-lo no meu reflexo no espelho. Eu estava viciada. Obcecada em você. Estava exaurida. Exausta. Caralho. Não aguento mais te ver. Não aguento mais não te ter.
Explorando seus destaques, encontro dentre os vários stories mais um arquivo recuperado: uma foto de vocês dois se beijando, há 2 semanas. No Cristo Redentor. Em seguida, uma foto centrada nas mãos dos dois; em cada dedo, há um anel de compromisso. Lindo, por sinal. Ouro branco. Não sabia que gostava de ouro branco. Percebi que não sabia muitas coisas de você, na verdade. Percebi que mal te conhecia. Mal te entendia.
Porque cinco stories anteriores a esse, você também recuperou uma foto nossa. A foto de quando tínhamos saído pela segunda vez, de quando nos encontramos na Reserva Cultural de Niterói e, no final da noite, fomos parar na minha cama. Nuas. Expostas completamente uma à outra. Ou pelo menos eu. Na foto, estamos sorrindo, uma do lado da outra. Seu braço estava por trás da minha nuca... Que saudade desse teu toque. De me sentir próxima de você.
Mas essa foto, especificamente essa, faz parecer que somos só grandes amigas.
Tirei print. Mandei uma mensagem SMS pra você, ainda de madrugada, já que tinha me bloqueado do Whatsapp.
Eu sei. Não deveria. Priscila me mataria. Acho que, no fundo, eu também.
Saudades, Jú.
Oi, Gabi. Que lembrança boa.
Como você está? A esse ponto, já digitava desesperadamente. Ansiosa. Porra. Uma resposta. Um sinal de vida. Você estava viva. Estava aqui. Olha só. Oi Gabi. Oi! Que saudade de você, Júlia. Ouça meu suspiro de alívio.
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Júlia
Literatura FemininaA gente vence a dependência emocional não pela força do ódio, mas por uma consciência radical de algo que a gente sabe que não suporta mais. Vencemos pela aceitação da quebra de um ideal que sempre buscamos e sempre mantemos. A dependência emocional...