Vinte e Três

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Duas semanas depois.

-  Annie? – Chamou Maitê batendo levemente na porta do meu quarto – Ah, sua vadia! Eu achei que ia embora novamente.

- Oi May – respondi cruzando os braços

- Ah Annie... – May me olhou enquanto eu negava com a cabeça – eu sinto tanto....

- Eu também sinto. Demais.  – respondi me sentando na cama de meu quarto enquanto Maitê me avaliava – O que eu perdi?

- Annie eu não sei se... – tentou me fazendo cortar sua fala

- Para. Está tudo bem Maite, acredite em mim.

Maitê me encarava duvidosa. Eu sei que talvez esteja avaliando o quão ruim,  seja lá o que ela queira me contar, pode ser. Ou talvez esteja tentando avaliar se minha perda de peso recente é um problema com P maiúsculo.

De todas as formas eu não voltei para ser a vítima deles. E eu estava farta daquele olhar de compaixão.

- Seu pai queria matar Dulce, e era pessoal, todos sabíamos. Ele espancou Alfonso, aliás ele tem um nariz quebrado agora. Ele trouxe o inferno para cede Annie, não aceitou o que fizeram com você. Estava louco, você foi embora e ele sabia que podia não voltar. E então ele tentou matar Dulce, Alfonso entrou na frente, tomou um tiro por ela... seu pai estava furioso, Alfonso estava enfrentando ele, ele nunca tinha feito isso... era o preferido... e ele estava desesperado Annie, Alfonso tomou uma decisão desesperada, ele queria protegê-la... – pisquei encarando Maite

- O que ele fez? Fugiu com ela? – Ri sem humor.

- Casou com ela Annie. – gelei – eu sinto muito Annie, acho que ninguém esperava que ele ia tomar uma decisão tão estúpida em relação a ela... Mais ela sendo mulher dele agora seu pai não pode mata-la... É a regra.

- Se não teria que matar ele também. – completei sentindo o nó na minha garganta apertar ainda mais me sufocando.

- Annie – senti Maitê se ajoelhar, mais eu estava alheia demais para sentir qualquer coisa que não fosse aquelas palavras dilacerando ainda mais cada pedaço do meu coração.

Casou com ela.
Casou.
Com ela.

E eu era a vadia mentirosa. Eu quem mantinha planos e segredos com meus ex. Eu quem estava errada. Ao inferno os dois.

Casou.
Com ela.

- Anahí olha para mim. – Maite segurou meu rosto me forçando a encara-la – você não vai quebrar, entendeu? Não é o fim - Estava errada, era o fim, era o fim do começo que eu não tive oportunidade de desfrutar. Era o fim, era o fim de sonhos e de uma promessa.

A promessa da minha felicidade.

– Annie eu posso te ajudar...

- Me ajudar em quê Maite? O homem que me prometeu o céu está casado com OUTRA em menos de uma semana. Me ajudar? Você quer me ajudar ? – Ri sentido as lágrimas caírem, era inevitável eu estou sensível, ferida e vulnerável, e sozinha.

Eu estou sozinha.
De novo.

- Te ajudar, sim. – retrucou Maite se levantando – tem alguém que você precisa ver.

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Suspirei aliviada por não ser Alfonso assim que sentei na mesa indicada por Maite na pequena confeitaria. Seja quem for, não importava de fato

- Posso ajudá-la, senhora? – sorri para a garçonete confirmando

- Um café puro, por favor. – pedi

- Dois. Dois cafés puros. – encarei a mulher que já me analisava atrás da garçonete e senti meu estômago se revirar, isso não era possível.  – Olá, filha.

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- Você é um filho da puta. - citou Henrique pela vigésima vez no dia - um maldito filho da puta, e se eu soubesse que isso não afetaria Anahí você estaria com uma bala no meio da sua cabeça.

Como se fosse fácil para mim também.

- Henrique por favor. - pedi parado em frente sua mesa - Vou me mudar com Dulce, você não terá que vê-la mais. Apenas me dê tempo.

- Como se a Chucky fosse o maldito problema, Herrera. - Chucky? Revirei os olhos, Anahí, claro. - É uma pena tudo o que aconteceu, vocês juntos eram imbatíveis.

Imbatíveis.

- Henrique, Poncio está agindo, ele está traficando dentro de um galpão, temos o endereço, podemos acabar com ele de vez. - comecei enquanto Henrique cruzava os dedos sob a mesa me encarando - me dê o aval e farei .

- Não. - gelei, sentindo a raiva me consumir

- Henrique eu sempre fui fiel a você, a cede e a tudo. - falei cruzando os braços em frente a ele - não é justo me menosprezar só por que Anahí e eu não demos certo. Porra, Não é fácil para mim também.

- Não estou fazendo nada Alfonso.  - Corrigiu - apenas que eu mesmo vou resolver esse incoveniente do Poncio, e você será informado quando deverá agir e se deverá. Até lá, aguarde quieto. É um favor você estar vivo ainda.

...

Senti o sangue escorrendo conforme socava mais e mais a parede, a carne rasgada da mão latejando a cada batida.

- Pare. - pediu Dulce encostada de braços cruzados na parede do apartamento que deveria ser meu e de Anahí.

Ela estava no lugar de Anahí.

Naquela merda de apartamento. E aquele chão, onde quase a amei tanto quanto gostaria de ter feito, onde a tive em meus braços pela última vez.

Última vez.

Soquei novamente

- Alfonso isso é ridículo. Você só vai se machucar, e de quebra arrumar encrenca com o vizinho do lado. - argumentou e engoli o asno que senti quando ela pegou minha mão cobrindo com a sua - vai lavar isso Poncho, eu vou até a farmácia comprar umas bandanas e uma pomada.

Senti minha garganta queimar. O que eu estava fazendo?

Fingir não sentir a falta de Anahí era esmagador demais. E por mais que todos me dissessem que eu estou equivocado demais que tinha feito a merda toda, eu não poderia descartar a confiança de irmandade que tinha com Dulce. Ela nunca mentiria para mim, certo?

Mais porquê Anahí faria? 

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