Eu odeio que eu me lembre
Eu gostaria de poder esquecer o que você fez em dezembro passado
- E o Paul? - questionei Maite pelo telefone enquanto mexia a sopa na panela, Ultimamente era a única coisa que meu estômago considerava aceitável para almoçar- ele disse que viria.
- Viajou. De última hora, ele está arrasado, acredite. - respondeu Maite - Any, mil desculpas, seu pai pediu para analisarmos as digitais desse colete, ele está encharcado de sangue, isso vai levar horas...
- Está tudo bem May. Vou levar Gorgonzola para dar uma volta, talvez, não se preocupe, estou bem. Nós vemos amanhã?
- Sem dúvidas! - respondeu e então o silêncio na linha me pegou.
Ótimo, quebrada e sozinha.
Mais quem liga para o Natal não é mesmo? Desconsiderando de que eu deveria estar cozinhando biscoitos e um enorme peru para uma ceia que aconteceria se tudo fosse tão diferente... talvez Chloe fizesse careta para a sopa sem pestanejar e roubaria biscoitos.
Sorri pensando nisso, eu não ia a cede há semanas, e não via Chloe também...
E nem Alfonso.
Não que isso importasse, talvez apenas porque uma parte de mim se quebrasse um pouco mais ao lembrar do sorriso dele... Dos olhos, e da forma como me olhou quando entrou no meu quarto no mesmo dia em que me pediu para ser sua. Para sempre.
O pra sempre que deveria entrar para a história de tão curto.
Você deixou meu coração uma bagunça (uma bagunça)
Rapaz, você estragou tudo
Desliguei o fogo enjoada novamente, não era possível que absolutamente tudo me deixava mal. Eu já fui mais dura.
Porra.
Muito mais.
Me encarei no espelho ignorando a intuição que latejava em minha cabeça, talvez eu devesse sair um pouco. Talvez não, a neve estava extremamente forte para o final de dezembro. Mesmo assim peguei a coleira de gorgonzola e descemos o elevador para caminhar.
A porteira mau humorada abriu o portão assim que me viu sair do elevador.
A magia do natal.
Talvez eu devesse comprar comida chinesa e assistir alguma comédia romântica pelo resto da tarde.
Caminhei por um quarteirão, e as pessoas se mostravam agitadas de mais, presas em seu próprio mundo, o cheiro da ceia sendo preparada já era notável nas casas. Entrei no mercadinho de esquina com a minha rua e prendi gorgonzola na parte da frente do poste para que me esperasse.
Peguei algumas besteiras, e parei de frente na parte farmacêutica...
Teste de gravidez.
Não poderia ser, não é? Se a história fosse outra... talvez eu devesse mesmo me preocupar, mais não era. Não mesmo.
Ou talvez fosse... O que explicaria todo o mau estar e esse pressentimento estranho.
Teria exatamente dois mêses, e era novo demais para dar sinais, pequeno demais.
Não poderia ser .
No natal passado, eu te dei meu coração
Mas no dia seguinte, você o jogou fora
Este ano, para me salvar das lágrimas
Vou dar para alguém especial, oh, sim
Se não era, então não custava testar, certo?
Joguei o teste na cesta e fui para o caixa pagar as compras.
A chuva de neve aumentou, e me arrisquei em correr com Gorgonzola de voltar para casa, chegamos ensopados, e coloquei a sacola de compras em cima da bancada para secar o filhote que me encarava irritado e com frio... Optei por um banho nele, e acabou que foi uma péssima ideia, ficamos ambos ainda mais ensopados, e gorgonzola fugiu três vezes da banheira molhando o piso inteiro do banheiro.
No final após ambos estarmos secos e quentes, me servi de um pouco da sopa morna e sorri para gorgonzola que andava pela casa irritado com a roupinha de frio com mangas.
Encarei meu celular que tocava dentro do casaco ensopado, e o peguei vendo o nome de Henrique na tela.
Pensei que pertencemos um ao outro
Pelo menos foi o que você disse
Eu deveria saber melhor
- Sim? - atendi
- Oiê Anyy! - meu coração apertou ao ouvir a voz de Chloe na linha - Ainda se lembra de mim?
- Oi minha pequena... É claro que eu lembro! - respondi segurando as lágrimas - como você está?
- Com saudades. E toim também está com saudades, sabia? Eu tenho muita coisa para te contar Any, tio Henrique disse que você está morando em uma casa muito legal e a May disse que vai me levar qualquer dia. Eu posso né, Any? - senti a lágrima escorrer pelo meu rosto ouvindo a empolgação de Chloe
- Claro que pode meu amor. Mais tem que pedir para o seu irmão, tá bom? - rebati - Sabe quem mais está morrendo de saudades de você? O Gorgonzola!
- Any! Que nome engraçado você deu para o filhotinho, gorgondola...
- Zola! Gorgonzola. - corrigi rindo enquanto as lágrimas afloravam
Como você pode me deixar na manhã de Natal?
Você quebrou meu coração sem avisar
- Eu tenho que ir Any, tio Henrique disse que tínhamos que fazer isso bem rapidinho para o Poncho não ver... Ele é um chato agora, Any.
- Está tudo bem minha pequena, ele só está triste, vai passar, tá bom? Cuida bem dele por mim. Vai ser nosso segredo. - Pedi e Chloe tossiu
- Tudo bem! Ah Any, feliz natal.
- Feliz natal minha princesa.
Apoiei minha cabeça na bancada deixando que as lágrimas caíssem....
Encarei a sacola sentindo um vazio me dominar, um desespero.
E uma esperança... Talvez nem tudo estivesse em cinza... Talvez tivesse sobrado algo... Uma pequena parte da magia.
Você deixou meu coração uma bagunça
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*Capítulo ainda vai ser revisado.
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Sparks
Fiksi PenggemarHistória original, não autorizado adaptação, todos os direitos reservados.