Capítulo 18: Oh Love

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Corações de papel em vários tons de vermelho preenchiam a maior parte das paredes da escola. O armário do meu irmão era o mais decorado, com brilho e balões metalizados. O ápice da cafonice se quer saber. Mas o que mais poderia se esperar da semana do Dia dos Namorados senão casais sendo ridículos? Sem contar o teste de compatibilidade com perguntas estapafúrdias.

Saí da prova de cálculo pendurando a mochila no ombro. Chegando perto dos armários, Stevie passou por mim, me cumprimentando com um rápido gesto de cabeça. Tínhamos conversado por mensagens e posso dizer que acabamos em bons termos.

Como já era de se esperar, a primeira coisa que vi quando abri o meu armário naquela manhã de uma sexta-feira 13, foi um cartão de Dia dos Namorados. Revirei os olhos e sem ao menos abrir o cartão, me dirigi até o bebedouro em passos decididos para falar com o remetente não tão misterioso.

- Marvin!

A minha súbita aproximação o assustou e um jato de água entrou pelo seu nariz causando um ataque de tosse no pobre garoto. Levei Marvin para um canto depois que se recuperou para devolver o cartão.

- É melhor dar isso para outra garota porque eu não estou interessada. - Eu disse com sinceridade. - Sem ofensa.

Marvin ajeitou os óculos com respingos de água franzindo as sobrancelhas cheias de caspa.

- Eu não... - Gaguejou. - Não coloquei cartão no seu armário esse ano.

- Oh...

Franzi o cenho e encarei o cartão nas minhas mãos.

- Bom de qualquer maneira... - Enfiei o cartão no bolso do macacão. - Foi mal pela água no nariz.

Dei três tapinhas no braço dele e rumei para o banheiro. Me fechei no primeiro cubículo livre pegando o cartão no bolso. Ao me deparar com uma foto do Yoda de Star Wars, com o trocadilho: "Yoda one for me", e uma marca de beijo, meus olhos reviraram de novo, só que dessa vez com um sorriso bobo brincando nos meus lábios.

Guardei o cartão na mochila e disfarcei a feição de enlevo saindo do banheiro. Segui direto para o teatro da escola. Uma música instrumental se alastrava pelo recinto. No palco o pessoal ensaiava para a peça de Shakespeare. Desci alguns degraus e abaixei o assento de uma das cadeiras do auditório me sentando para esperar o ensaio terminar.

Cobri o sorriso orgulhoso com a mão ao apoiar o cotovelo no braço da cadeira assistindo Mitchie recitar suas falas com confiança. Era nítido e reconfortante sua recuperação. Um mês tinha se passado desde a nossa viagem de carro para Carolina do Norte. Além de ter entrado para o clube de teatro, Mitchie tinha começado a fazer terapia em Woodland, com um profissional indicado pelo Sr. Hill.

E quanto a nossa relação, nunca estivemos tão próximas, literalmente, mas eu odiava tanto não poder beijá-la a qualquer momento e em qualquer lugar. De qualquer forma, a cabine de narração do campo de baseball abandonado havia se tornado o nosso lugar secreto.

O ensaio chegou ao fim sem que eu percebesse e uma conversa descontraída rolava entre Mitchie, Lola e Timothy. Era legal vê-la com novos amigos, embora sentisse uma pontada de ciúmes toda vez que eles saíam juntos. Abandonei a cadeira assim que Mitchie deu tchau para eles e sorri quando ela veio ao meu encontro.

- "Yoda one for me"? Sério?!

Mitchie deu risada.

- Era esse ou "bee my valentine" com um desenho de uma abelha.

O jeito como ela encolheu os ombros esboçando uma careta só aumentou a minha vontade de enchê-la de beijos. Droga.

- Acho que prefiro o Yoda.

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