ouvidos de mim mesma

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É só no momento de mais extrema angústia que se percebe o tamanho da solidão.

É interessante perceber como cada caso é um caso e os escritos de Friedrich Nietzsche (outro alemão maluco nos lembrando de que vamos morrer) para uns é uma crítica a perda de sentido na existência e para outros é um apoio a esse mesmo niilismo.

No fim não importa, a mente que arde e que incomoda, no fim, é apenas a nossa.

É estranho se lembrar de que na hora em que você mais precisar ninguém será capaz de te socorrer, quer seja por suas expectativas excederem a capacidade da pessoa de quem você espera, quer seja por você, mesmo sendo o apoio estrutural de várias almas entre amigos, família e colegas, está sozinho.

A solidão, a princípio é meio ridícula.

Dá para se dizer que solidão é coisa de quem não sabe aproveitar a própria companhia, coisa de quem não tem amor a vida.

Pode ser que sim, mas é possível que solidão seja apenas algum sintoma da compreensão infinita de que estamos sozinhos e precisamos saber estar.

O poeta ou a poesia lutam contra a tentação de escrever Eu.

O "eu" é insignificante em comparação a todos os olhos que entendem bem o que se é dito pela combinação das sílabas.

É curioso notar que, tudo que se lê e faz sentido, de certa forma é dito por si próprio, afinal, quando se desliza os olhos por letras que formam sons intangíveis a voz que te explica o que elas querem dizer é sua, na sua mente.

Pois bem, se para o leitor é uma emoção contada a si mesmo por meio de outro, o que conseguiu transformar em frases a mesma dor que você sente, ainda que em níveis diferentes, nesse texto que vossa mente se permitiu entender, o que é para o autor a não ser um lembrete de que um completo desconhecido consegue sentir o que há em sua mente, mas seu amor não entende.

Ser o Eu nas vidas de todos é o que é realmente solitário.

Mas perceba, é capaz de ter havido perdição dos conceitos.

É preciso explicitar que notar sua individualidade tão crua em um momento em que se quer um colo, um abraço, uma validação, uma carícia, qualquer soma de afeto e atenção que seja, é de fato solidão.

É assim que se continua, despida aos olhos de si mesma, entendida de sua solidão real, percebida de que o mundo nos suga profundamente, ele quer nos destruir, ele quer consumir nossas mentes, ele quer que façamos de tudo e o que vem em troca quase sempre é nada. E nada é muita coisa, nada é muito.

Eles nunca pagam.

Mas quem são eles se não ecos distorcidos de suas próprias auto percepções?

Não se pode julgar, nem cobrar nada.

Ainda que nosso traço mais primitivo de ser social seja natural e imparcial, é inerente ao espírito triste, carente, esperar de um pouco de ouvidos, olhos e mentes.

Queremos apenas isso, nós psiques doentes, alguém que se importe tanto quanto a gente. Alguém que nos veja, nos alimente do fruto do bom amigo e ouvinte.

Seguimos assim, tendo responsabilidade emocional com todos a volta, perdendo a esperança de esperar algo em troca, precisando achar força do vazio para ser responsavelmente afetivo por si mesmo, sendo assim, triste.

Tristemente exercendo essa função assim, solitária, sendo em vão e para sempre, esperando que isso se faça suficiente, assim se fazendo, sendo quem sou, sendo os ouvidos de mim mesma.

Ouvidos de Mim MesmaOnde histórias criam vida. Descubra agora