Capítulo II

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"A tarefa de criar um gênio tem seus desafios."

When she was just girl
She expected the world
But it flew away from her reach
So she ran away in her sleep
And dreamed of para-para-paradise

Paradise – Coldplay.

Katherine Cold

19 Anos Antes

A mamãe iria me matar. Eu já estava até me preparando para o discurso interminável, e o longo sermão de o quanto faltar na escola era extremamente errado. Confesso que os últimos dias eu tenha feito muito isso, mas não poderia perder a oportunidade de ver a reforma do escritório do papai finalizada em primeira mão.

Em legítima defesa eu realmente estava indo para aula. Tinha acabado de entrar no carro com Olga, minha governanta, quando ouvi meu motorista e – segurança – falar com o meu pai ao telefone. Por ser muito curiosa, não consegui deixar de notar sobre o que estavam falando: Meu pai estava indo para o trabalho. Só que ele nunca ia nesse horário.

Minha mãe sempre me disse que eu era muito observadora para uma criança de oito anos – oito e meio – e definitivamente isso era verdade.

Quando percebi que a ida do meu pai tão cedo para o trabalho significava finalmente ver como tinha ficado a reforma que há meses o escutei comentar, não pensei nem duas vezes em usar meu charme com a Sra. Sanchez e persuadi-la a fazer com que Joe mudasse sua rota.

— Aaaah por favorzinho Olguinha do meu coração, vai ser rapidinho. — Não ousei em desperdiçar minhas chances, fiz tudo o que pude. Entrelacei minhas mãozinhas como em uma oração, fiz meu melhor biquinho de — por favor, estou implorando — e pisquei os olhos repetidamente. Isso vai ser fatal. A mistura das marias-chiquinhas de hoje com olhinhos pidões seria o xeque-mate que eu precisava.

Ela nem teria chance

— Ah meu Deus Kate, você sabe que não posso ficar fazendo isso! Sua mãe vai ficar furiosa, e ela não pode se estressar. — Murchei instantemente. Olga tinha razão, mamãe estava grávida e de acordo com o Dr. Bentley, ela não poderia se estressar. Ainda nem acredito que não vou ser mais filha única, já estava tão acostumada em ser apenas nós três, que ainda não me decidi se gosto ou não da ideia de ser irmã mais velha de alguém. Cruzo os braços, e franzo o cenho sem esconder a careta em desagrado. Poxa, isso sempre deu certo.

Ele nem nasceu e já está fazendo todos se voltarem contra mim!

De repente lágrimas de raiva se acumularam nos meus olhos e me recusei em deixar elas caírem. Olga voltou a me olhar, e vi pena em seu semblante. Rapidamente tenho uma ideia. Deixo com que as lágrimas caiam, e me esforço para que ela não perceba o meu incrível teatro.

- Eu sabia! Eu vou deixar de ser importante e vocês só vão ter olhos e ouvidos para o Ja-son. – Simplesmente abro o berreiro. Antes de mais nada, eu não me orgulho disso, e não é do meu feitio ser uma criança escandalosa, na verdade eu tenho uma lista sobre o que eu penso dos meus colegas de turma quando fazem isso. Mas na guerra, vale tudo, e eu estou desesperada.

Continuo com o meu choro agoniado, e percebo que até Joe me olha confuso pelo retrovisor central. Eles não estão entendendo nada.

BEM ME QUER, MAL ME QUER?Onde histórias criam vida. Descubra agora